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Investidor de criptomoedas suspeito de mandar matar megatraficante ligado ao PCC nega crime

Pablo Borges disse à polícia não saber que dinheiro repassado por corretor de imóveis era do caixa da facção criminosa

São Paulo|Luanna Barros e Luís Adorno, da Record TV

Pablo Borges foi preso em Angra dos Reis (RJ)
Pablo Borges foi preso em Angra dos Reis (RJ)

O investidor de criptomoedas Pablo Henrique Borges, 27 anos, preso quarta-feira (16), em Angra dos Reis (RJ), sob suspeita de ter participação nas mortes do megatraficante Anselmo Becheli Santa Fausta e do motorista dele, Antônio Corona Neto, no final de dezembro do ano passado, negou à Polícia Civil de São Paulo, nesta segunda-feira (21), participação no duplo homicídio. Becheli fazia negócios com o PCC (Primeiro Comando da Capital), apesar de não ser integrante da facção.

Segundo o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, Borges é investigado sob suspeita de ter mandado matar Becheli após ter se aliado com o corretor de imóveis Antonio Vinícius Lopes Gritzbach. A principal suspeita por parte da polícia é de que o megatraficante entregou a Gritzbach a quantia de US$ 100 milhões (R$ 500 milhões) para realizar um investimento em criptomoedas. Para isso, de acordo com a polícia, Gritzbach contou com a ajuda de Borges.

No ano passado, Becheli teria pedido o dinheiro de volta, dando ao corretor de imóveis um prazo de seis meses para a devolução. Gritzbach afirmou à polícia que devolveu o valor, mas a informação não foi confirmada até agora pela polícia. Uma das linhas de investigação aponta que, ao não devolver o dinheiro e temer pela própria vida, Gritzback e Borges contrataram um agente penitenciário para matar o megatraficante.

Durante o depoimento de Borges no DHPP, policiais civis mostraram a ele as fotos de Becheli e Neto para reconhecimento. O investidor afirmou nunca ter visto o motorista, mas admitiu ter visto o megatraficante apenas uma vez, no escritório de Gritzbach.


O investidor afirmou à polícia ter conhecido o corretor de imóveis no início de 2020, no consultório do seu dentista, em São Paulo. No local, o dentista apresentou Gritzbach como "um empresário do ramo imobiliário com interesse no mercado de criptomoeda". Quinze dias depois, eles fizeram o primeiro negócio.

Tratava-se de uma carteira de criptomoedas, de propriedade de Gritzbach, com 40 bitcoins. Como base de comparação, nesta terça-feira (22), um bitcoin está cotado a quase R$ 192 mil, ou seja, R$ 7,6 milhões. Borges afirmou que gerenciou a carteira por cerca de sete meses, gerando lucro de, aproximadamente, 100%. No mesmo período, o investidor afirma que gerenciou outras três carteiras de bitcoins, de outros três empresários indicados a ele por Gritzbach.


Borges afirmou, também, que outra transação feita por intermédio de Gritzbach lhe trouxe cerca de R$ 4 milhões em bitcoins para serem gerenciados. O proprietário dessa outra carteira foi identificado por Gritzbach a Borges apenas pelo apelido de “Cigarro”.

Trecho do depoimento de Pablo Henrique Borges para a Polícia Civil
Trecho do depoimento de Pablo Henrique Borges para a Polícia Civil

No depoimento de Gritzbach à polícia, ele citou que um homem conhecido como “Cigarreiro” foi o responsável por chamá-lo para conversar com integrantes do PCC, em 18 de janeiro deste ano, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Na ocasião, Gritzbach afirmou ter sido ameaçado de morte após ser questionado onde estava o dinheiro investido por Becheli.


Borges disse que nunca viu “Cigarro” ou “Cigarreiro”. Mesmo assim, afirmou que não tinha motivos para desconfiar da idoneidade do dinheiro, já que foi apresentado por Gritzbach como um empresário sério, fora de qualquer suspeita.

Ele também disse que foi para Angra dos Reis, onde foi detido na semana passada, a passeio. Ou seja, negou que estivesse fugindo da polícia. Ele argumentou não saber que havia prisão decretada contra ele.

Trecho do depoimento de Antonio Vinícius Lopes Gritzbach
Trecho do depoimento de Antonio Vinícius Lopes Gritzbach

A reportagem apurou que, além de Gritzbach, Borges também foi procurado por integrantes do PCC que o indagaram a respeito do valor investido por Becheli. O investidor teria respondido às perguntas dos criminosos, que acreditaram em sua versão. Por isso, foi liberado. 

De acordo com o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa Borges, o delegado do DHPP Fabio Baena Martin, responsável pela investigação das mortes de Becheli e Neto, afirmou que seu cliente pode ser liberado em breve porque uma nova linha de investigação aponta que Borges não teria ligação com o crime.

A declaração foi dada, segundo o advogado Conrado Almeida Corrêa Gontijo, da equipe de Kakay, durante uma conversa informal com uma jornalista, dentro do DHPP.

Segundo Kakay, a indicação por parte do delegado de que Borges não teria ligação com as mortes de Becheli e Neto, se deu por meio da análise dos telefones apreendidos, das ERBs (Estações Rádio Base) e dos depoimentos até então tomados.

“O que a defesa espera, por um imperativo de Justiça, é que antes mesmo da acareação prevista para quinta-feira (24), o delegado faça uma representação pela liberdade de Pablo. Até porque, com toda a espetacularização do caso, hoje Pablo corre risco de morte no sistema penitenciário”, afirmou Kakay.

Procurado, o delegado Baena Martin afirmou: “Não confirmo nada disso [sobre a afirmação de Kakay de que Borges já é tido como inocente]. O que eu disse foi que estamos trabalhando para buscar a verdade dos fatos e cada um dos investigados, se assim ocorrer, será responsabilizado na medida de sua culpabilidade”.

Suspeito de ter sido contratado para crime

O agente penitenciário David Moreira da Silva, 38 anos, que trabalhava para Pablo Borges como segurança, foi preso no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, no domingo (20). De acordo com investigação do DHPP, ele foi contratado por Borges e Gritzbach para matar Becheli.

David Moreira da Silva foi preso domingo (20) no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos
David Moreira da Silva foi preso domingo (20) no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos

No entanto, ainda segundo a primeira linha de investigação da polícia, ele terceirizou o serviço, contratando para atirar em Becheli um amigo de infância, identificado como Noé Alves Schaun, 42 anos, e com passagens pela polícia por roubo.

Silva depôs ao DHPP no próprio domingo. Ele também negou participação no duplo homicídio. Silva disse trabalhar no CDP (Centro de Detenção Provisória) 3 de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, e confirmou ter feito bico como segurança para Borges. Também falou que soube que era procurado pela imprensa.

O agente penitenciário afirmou que conhecia Noé desde quando tinha 18 anos, do bairro onde nasceu e foi criado. A ex-mulher de Noé é prima da atual mulher de Silva. Apesar disso, Silva disse que nunca fez negócios com Noé, mas que o ajudava financeiramente, em determinados momentos, porque o amigo de infância era viciado em drogas.

Segundo a polícia, Noé matou Becheli, mas não sabia que ele era influente no crime organizado. O atirador acreditava que Becheli era apenas um empresário que estaria tentando extorquir dinheiro de Gritzbach.

Noé Alves Shaun foi assassinado e teve o corpo esquartejado sob suspeita de ter matado Becheli
Noé Alves Shaun foi assassinado e teve o corpo esquartejado sob suspeita de ter matado Becheli

Após as mortes de Becheli e Neto, a chefia do PCC, segundo a polícia, descobriu que o executor dos dois era Noé e não o perdoou. Ele foi morto 20 dias depois, sendo esquartejado. Sua cabeça foi deixada em uma praça, no bairro do Tatuapé, perto de onde Becheli e Neto foram assassinados.

Silva disse à polícia que conhecia Borges porque trabalhou para ele entre novembro de 2018 e dezembro de 2020, deixando de prestar serviços por um atraso salarial. A mesma versão foi apresentada para a polícia um dia depois por Borges.

Silva afirmou, também, que conheceu Gritzbach, porque, quando fazia escolta para Borges, era comum o empresário e o corretor de imóveis se encontrarem, cerca de duas vezes por mês. A informação contradiz Borges, que disse ter visto Gritzbach só duas vezes na vida.

Silva, no depoimento, também disse que nunca conheceu Becheli e seu motorista, Neto.

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