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Julgamento de PM suspeito de ser matador do PCC é adiado para abril

Sargento Farani Rocha é acusado de ter matado o colega de farda Wanderley de Almeira Júnior em 2020

São Paulo|Luanna Barros e Luís Adorno, da Record TV

Sargento Farani Rocha teve julgamento adiado
Sargento Farani Rocha teve julgamento adiado

Marcado inicialmente para a tarde desta quinta-feira (27), o júri popular do sargento da PM (Polícia Militar) Farani Salvador Freitas Rocha, de 38 anos, foi remarcado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo para o dia 12 de abril porque as partes alegaram "ausência de diligências imprescindíveis".

O sargento Farani é acusado pelo MP (Ministério Público) de ter matado, em fevereiro de 2020, o colega de farda Wanderley Oliveira de Almeida Júnior, conhecido como Deley, que, na época, também tinha 38 anos. Os dois se conheceram no Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) e mantinham relação próxima.

De acordo com a investigação da Polícia Civil, o que motivou o assassinato de Deley foi o fato de que a vítima tinha informações que ligavam Farani ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e ameaçou denunciá-lo aos órgãos corregedores. Deley tinha o interesse de entregá-lo, segundo a polícia, porque gostaria de voltar ao Baep, mas acreditava que Farani estava impedindo.

Em depoimento prestado à Justiça, Farani nega veementemente tanto a acusação de ligação com a facção criminosa quanto participação no homicídio de Deley.


Perícia identificou os locais onde Deley foi perfurado no crime
Perícia identificou os locais onde Deley foi perfurado no crime

Favela da Caixa d'Água

Deley era suspeito de extorquir traficantes na favela da Caixa d'Água, no Cangaíba, zona leste de São Paulo, segundo a Polícia Civil. Mas teria informações que ligavam o sargento Farani aos traficantes da favela. As investigações da Polícia Civil afirmam que, antes de morrer, Deley estava prestes a denunciar formalmente Farani na Corregedoria da PM.


O delegado Wagner Alves da Cunha, que coordenou as investigações, declarou em juízo que, ao assumir as investigações, percebeu que as testemunhas, na maioria policiais militares integrantes de batalhões de elite, demonstraram medo em revelar o que sabiam sobre os fatos. A investigação da Polícia Civil apontou que Deley contou a quatro ou cinco policiais que havia descoberto que Farani tinha envolvimento com criminosos ligados ao PCC e que, por isso, estava com medo de ser assassinado.

Após o celular de Deley ser submetido a análise, o conteúdo do telefone do aparelho demonstrou que a vítima realmente tinha medo de ser morta por Farani, "tendo dito a uma das testemunhas, poucas horas antes de ser assassinado, que, se algo lhe acontecesse, o responsável seria Farani". Além disso, a perícia pôde conectar Farani a integrantes da facção criminosa.


Nas mensagens no celular de Deley, havia pelo menos duas passagens em que Farani teria intercedido para favorecer traficantes da favela da Caixa d'Água, segundo o delegado. Além disso, em 2018, pelo conteúdo das mensagens, pôde-se observar que Farani pediu a Deley que pesquisasse as placas de um Audi, carro que era utilizado pelo faccionado Galo, dois dias antes de ele ter sido fuzilado. Em outra oportunidade, Farani também pediu, ainda segundo a polícia, que Deley pesquisasse o RG de Marcio Alarido Esteves, o Turim, aliado de Marcola no PCC.

Derley afirmou a familiares e outros colegas de farda que estava preocupado e que havia "dado prejuízo" aos traficantes da favela Caixa d'Água, o que deixou Farani descontente. Explicou às pessoas próximas que o sargento acobertava esses traficantes.

Em 26 de janeiro de 2020, Wanderley recebeu uma mensagem de áudio no celular encaminhada por rapaz que havia abordado minutos antes. Um suspeito identificado como Baianinho, que seria apontado como responsável por ser um dos assassinos do chefe do tráfico na favela da Caixa d'Água. O rapaz teria sido liberado após dizer que era amigo de Farani. "Nossa, tomei um enquadro saindo lá da quebrada, os cara embaçou na minha, viado, o cara tumultuou. Falou meu vulgo, falou que sabia quem era eu, falou que eu era do moio, mas eu falei que não era e tal. Aí ele disse que eu era pasta carimbada”, disse o rapaz, no áudio.

"Aí ele ficou se apegando nas passagens e nas tatuagens. Aí viu a da Gaviões e ficou embaçando, aí disse: Vem no papo, vem no papo. Aí eu disse: Senhor não leva a mal, não, mas eu não mexo com mais nada, parei com tudo. (...) Aí eu disse: Tá ligado, senhor, eu conheço um rapaz ali da quadra que é o seguinte: Eu sou lá da Gaviões e ele também é e ele também é da casa. Aí ele disse: Quem que é? Aí eu disse: É o Farani, senhor. Então, ele disse: 'O Farani é amigo nosso, nóis é a mesma fita'", acrescentou o rapaz, no áudio.

O rapaz disse que os policiais, então, tiraram uma foto dele e a enviaram a Farani. Depois, foi liberado. Segundo Farani, Deley o chamou no dia seguinte ao fato e disse que abordou o Baianinho e perguntou se ele, realmente, o conhecia. Ele respondeu que, de nome, não. Ao ver a foto, o reconheceu, mas disse que não conviva com ele e, por isso, não saberia informar se ele praticava algo de errado. Farani afirma que essa abordagem é a única coisa que o liga à favela da Caixa d'Água.

"Eu sempre combati o crime organizado e, na polícia, em tropa de elite, que eu sempre fui, não se serve a dois senhores: ou você é ou você não é. Eu sempre combati. Inclusive, eu fiz uma apreensão grande [contra] o dono da favela da Caixa d'Água, de R$ 320 mil, em 2016", defendeu-se Farani em depoimento à Justiça.

O DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) afirma que houve envolvimento de policiais militares na morte de Deley, sob o argumento de que, se fosse um crime comum, haveria probabilidade de PMs revidarem a morte na região nos dias seguintes, o que não aconteceu.

Local do crime de Deley
Local do crime de Deley

Os informantes

Os áudios obtidos no celular de Deley revelam os traficantes que dominam a favela da Caixa d'Água e como eles são identificados na comunidade. Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, é conhecido na comunidade como Tio e está foragido. Mortos entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano são, respectivamente, Anselmo Becheli Santa Fausta, o Magrelo, e Cláudio Marques de Almeida, o Django ou Veinho. Um quarto traficante também mencionado seria Ewerton, conhecido como Well ou Facção.

Em um dos áudios obtidos pela polícia por meio da perícia feita no celular de Deley, ele demonstrava interesse em saber quem é Anselmo Becheli, que seria “o dono da Caixa d'Água”: “Deixa eu te falar: E aquele Anselmo, já ouviu falar? Não sei se eu já perguntei pra você, ele morava na D.d.M., a família dele morava ali. Ele se jogou pro Tatuapé. Ele é o mais monstro que tem aí na quebrada. É ele, ele é o dono da Caixa d'Água”, afirmou.

O informante da mensagem afirmou que conhecia Anselmo e que ele estaria morando na região do bairro do Jardim Anália Franco, mas que dormiria cada dia em um local, pois tinha medo de ser assassinado ou sequestrado. Assim, sempre andava em veículos blindados e com proteção de película nos vidros para ocultar sua presença neles.

Wanderley, então, respondeu que duas toneladas de droga, que teriam sido apreendidas no interior de São Paulo, seriam de um traficante conhecido como Magrelo. E que ele teria sido abordado por uma viatura do Baep (Batalhão de Ações Especiais), sendo liberado, pois os policiais não o reconheceram.

Em outro diálogo, Deley lamentou sua posição como policial militar, já que não estaria trabalhando em um batalhão de elite. E acrescentou que foi avisado por seu informante que milhões de reais que pertenceriam ao traficante Anselmo seriam escondidos em motéis que pertenceriam aos traficantes.

Outros áudios obtidos na investigação mostram a atuação de Cebola, também conhecido como Tio na comunidade. Em um dos trechos, um informante de Deley conta que o traficante teria presenteado seus "empregados", ou seja, seus subordinados na estrutura do tráfico de drogas, com R$ 10 mil, em decorrência das festas de fim de ano.

Em uma das situações, um PM não identificado teria repassado a informação de que Cebola estaria na favela da Caixa d'Água a bordo de um veículo Evoque de cor vermelha. Deley rebateu que não acreditava naquela informação. Segundo ele, esse PM somente queria saber onde eles estavam para, na verdade, proteger Cebola de uma possível abordagem policial.

Farani afirma que estava na balada com Turim, aliado de Marcola
Farani afirma que estava na balada com Turim, aliado de Marcola

Farani nega as acusações

“Não vou mandar matar, sendo que, nem os executores, o Ministério Público ou o delegado foram atrás. Sendo que foram ao local, retiraram câmera para justamente ocultar os executores. Eu estava de serviço, encostei na ocorrência, sim, porém tomei todos os procedimentos e todas as cautelas para não alterar o local de crime. Não mexi em veículo, não mexi em celular, não fui ao hospital. Então, é completamente infundada essa denúncia.”

A versão acima foi a apresentada pelo sargento Farani em depoimento à Justiça. O PM afirmou que o colega de farda pediu que ele falasse com seu comandante, no Baep, para trazê-lo de volta ao batalhão, mas que o comandante disse que, pelo fato de Deley obter vantagens indevidas fora do horário de trabalho, não seria possível.

"Na minha opinião, alguém quer esconder os erros deles e empurraram para mim porque tinha essa pesquisa. Só que foram no local, mexeram no carro dele, foram no local, sumiram com o celular dele. Foi aparecer depois de dois dias, e isso tudo não fui eu nem a minha equipe, nem ninguém que estava de serviço. Foi pessoal à paisana, de folga", acrescentou.

Ele defendeu sua história dentro da PM no depoimento. “A minha ficha fala por si, inclusive. Na favela da Caixa d'Água a gente não costumava ir porque é uma comunidade perigosa, só ia com determinação do tenente, fazer operações, mas sempre patrulhamos próximo, porque a favela da Caixa d’Água não era da minha área, a favela da Caixa d'Água só foi virar a minha área após a criação do Baep. Então, nunca tive vínculo nenhum com aquele lugar, nunca tive ligação nenhuma com aquele lugar; pelo contrário, eu sempre combati o crime organizado. Desde a época em que eu trabalhava na Rota, eu aprendi isso daí e vou levar para o resto da minha vida.”

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