Linchamento de inocente no Guarujá exige alerta sobre fazer 'justiça com as próprias mãos'
Em 2014, na mesma cidade, uma mulher foi espancada até a morte, acusada de ter sequestrado crianças. Ela tampouco era culpada
São Paulo|Marco Antonio Araujo, do R7
Há uma crença popular de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Cai, sim. Outra frase famosa é a de que a história, quando se repete, é como farsa. Pois uma tragédia caiu novamente como um raio na cidade de Guarujá (SP), terrível, mostrando como o ser humano pode ser cruel, e a praga das fake news, mortal.
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Um homem foi linchado na quarta-feira (4) passada, na cidade litorânea, e espancado até a morte por um grupo de justiceiros e testemunhas covardes que nada fizeram para impedir o que se costuma chamar de “justiça com as próprias mãos”. O cidadão estava sendo acusado de ter roubado uma moto.
Pausa. Seja sincero: se era um ladrão, bem-feito, sua consciência diz que o "bandido” mereceu morrer como um cachorro sarnento, a pauladas?
Sei que muita gente pensa assim. O Brasil é um pais muito violento, violento demais, não poderia ser diferente esse tipo de aberração primitiva prevaler, a despeito das leis, da Justiça e de todo o esforço civilizatório desenvolvido pela humanidade por milhares de anos.
Mas, para azar dos que defendem linchamentos, Osil Guedes, um trabalhador de 49 anos, era inocente. Trabalhador. Inocente. Estava pilotando a moto emprestada de um amigo. Mas já estava julgado pelas circunstâncias, e de nada adiantaram suas súplicas e seu desespero.
Houvesse gente civilizada na turba assassina, bastaria imobilizar o “suspeito” e chamar a polícia. Osil ainda estaria vivo, a verdade prevaleceria — e seu filho de 9 anos poderia abraçar o pai.
É uma coincidência extremamente infeliz, mas a população de Guarujá deveria se envergonhar ou ficar constrangida. Lá, em 2014, a mesmíssima atrocidade havia acontecido. Um replay maligno nos traz à memória Fabiane Maria de Jesus. Ela foi espancada até a morte no mesmo município, após ter sido vítima de uma notícia falsa, compartilhada nas redes sociais, que dizia que ela era sequestradora de crianças. Mentira. Era uma mãe e esposa trabalhadora. Inocente.
O caso de Osil ainda está sendo investigado, para que se saiba como a falsa acusação permitiu que um homem fosse linchado em praça pública. Independentemente disso, a sanha vingativa e o vingador implacável que residem na alma humana foram novamente desmascarados. Por misericórdia, vamos ao menos refletir.