Mãe de menino negro que teve rosto tatuado sem autorização cobra remoção do desenho
Tatuador Neto Coutinho desenhou o rosto de Ayo, filho de Preta Lagbara, em um cliente e venceu premiação com imagem
São Paulo|Luan Leão*, da Agência Record
A mãe de um menino negro, que teve uma foto do rosto utilizada sem autorização por um tatuador em um evento em São Paulo em outubro, cobra a remoção da tatuagem e quer descobrir a identidade da pessoa que foi tatuada.
Leia também
Em publicação nas redes sociais na quinta-feira (1º), Daniele Cantanhede, conhecida como Preta Lagbara, classificou como "absurdo" uma pessoa aceitar fazer uma tatuagem com o rosto de uma criança que ela nunca viu.
Durante a Tatoo Week, que ocorreu de 21 a 23 de outubro deste ano, o tatuador Neto Coutinho desenhou o rosto de Ayo, filho de Preta Lagbara, em um cliente. O tatuador venceu dois prêmios durante a convenção, um deles pela reprodução da foto da criança.
De acordo com o fotógrafo Ronald Santos Cruz, autor do retrato, o tatuador disse ter encontrado a fotografia no Pinterest, site de compartilhamento de imagens, e pensou se tratar de uma imagem pública.
Ronald Santos é um fotógrafo reconhecido internacionalmente, que ficou entre os cem melhores fotógrafos do mundo na modalidade retrato masculino em 2020, pelo concurso internacional realizado pela empresa russa 35awards.
O artista também é conhecido por fotografar pessoas negras e exaltar a beleza e a diversidade da população preta. Segundo relato de Ronald nas redes sociais, ele não foi consultado nem contatado pelo tatuador para pedir autorização para utilizar a imagem da criança.
O fotógrafo diz ainda que essa não é a primeira vez que pessoas brancas pegam fotos tiradas por ele e usam sem pedir autorização. Em nota divulgada em uma rede social e assinada pelo advogado Gabriel Rodrigues, Neto Coutinho se retratou e pediu desculpas à família da criança.
O advogado afirma que o tatuador realizou a tatuagem "sem o nível de informação necessária" nem nenhuma intenção de trazer prejuízo "para quem quer que seja". A nota diz que Neto Coutinho tem total interesse e disponibilidade em resolver as pendências juntamente com o fotógrafo e a mãe da criança.
Coutinho ainda aproveitou para se retratar com a comunidade negra, da qual, segundo a nota, ele faz parte. O posicionamento encerra com o tatuador se pondo à disposição para conversar com os envolvidos para a "minimização de eventuais danos sofridos".
Quem também se pronunciou sobre o caso foi o pai da criança, o nigeriano Ebipade John, por meio de um vídeo divulgado na conta de uma rede social de Preta Lagbara. Na legenda, Preta Lagbara ressalta que na cultura africana é "inconcebível" que alguém faça qualquer coisa relacionada às crianças sem que os pais sejam consultados.
A mãe do menino afirma que é de "suma importância" que a tatuagem seja removida. Em um relato indignado, Preta diz que é absurdo que ela, como mãe de Oyo, não possa saber quem é a pessoa que tatuou o rosto de seu filho sem ao menos conhecê-lo.
Para a mãe, não há sentido nenhum uma pessoa aceitar ser tatuada com uma imagem do rosto de alguém sem possuir vínculos, ou sem saber se há a permissão da família para o uso, já que se tratava de uma criança.
O post encerra dizendo que a família está em contato com o advogado do tatuador e com Neto Coutinho, que só os procuraram após a repercussão do caso nas redes sociais na segunda-feira (28).
A representação de Preta Lagbara na denúncia é realizada pelo advogado e diretor do Instituto Defesa da População Negra (IDPN), Djeff Amadeus.
* Com a supervisão de Isabelle Gandolphi, da Agência Record