Mãe denuncia escola municipal de SP por fantasiar criança de macaco durante festa
Professora escolheu criança negra, que já estava fantasiada de palhaço, para usar máscara de macaco. Escola afirma que a acusação é injusta
São Paulo|André Carvalho e Laura Augusta. Agência Record
Sthefanie Silva, mãe de Murilo, de 3 anos, denunciou por racismo o CEI (Centro de Educação Infantil) Monte Carmelo II, localizado na rua Colonial das Missões, em Itaquera, zona leste de São Paulo, na sexta-feira (27).
O caso aconteceu no fim do mês de maio. Sthefanie recebeu um recado da escola de que todos os aniversariantes de maio teriam uma festa de aniversário na última sexta-feira do mês e que o tema seria circo. No bilhete, a escola recomendava que as crianças fossem enviadas com fantasias, máscaras e pinturas relacionadas com o tema.
A mãe de Murilo fantasiou o menino de palhaço e compartilhou, em suas redes sociais, as imagens do filho andando e sorrindo para ir à escola. Na publicação ela escreveu: "Eu estou tão orgulhosa de nós! Digo nós, porque o processo de adaptação escolar mexeu muito com o meu eu de anos atrás, tive que engolir choro, chorar escondido de você, dar forças quando na verdade eu queria te pegar no colo, ficar grudada e não soltar mais. Tivemos que mudar, perder o medo e até ir com medo mesmo. Hoje ver a sua alegria, o seu crescimento e desenvolvimento é lindo, não tenho palavras para agradecer a Deus por tudo que tens feito por nós e por toda força que tem dado”.
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Stephanie conta que foi uma surpresa no dia seguinte quando recebeu uma ligação da avó paterna de Murilo que havia visto um vídeo publicado no Instagram da instituição mostrando o menino vestido de macaco. A avó, incrédula, perguntou a Sthefanie se aquele era realmente o Murilo.
A mãe do garoto foi até o 64º Distrito Policial, de Cidade A. E. Carvalho, para prestar esclarecimentos ao delegado de plantão.
No vídeo compartilhado pela CEI, Murilo aparece com uma máscara de macaco enquanto os funcionários e alunos cantam um trecho da música Duelo de Magia, onde parte da música diz: "Vira macaco, vira macaco. Você virou, você virou um macaco. Pula macaco, dança macaco. Você virou, você virou um macaco. Virou, virou macaco".
A mulher achou estranha a escolha da música dentro do contexto do ensino e questionou a escola que, segundo ela, informou que o menino foi escolhido equivocadamente. Ainda, segundo Sthefanie, a escola apagou os comentários que falam sobre racismo no vídeo e bloqueou algumas pessoas das redes sociais.
Em nota, o CEI Monte Carmelo informou que "com mais de 20 anos de serviços prestados em favor da comunidade local, vem pesarosamente manifestar a sua profunda indignação quanto à acusação de crime racial, diga-se injusta, que vem se espraiando nas diversas mídias sociais de maneira leviana e irresponsável, posto que esta instituição jamais compactuou com qualquer conduta ou gesto que tenha por objeto o racismo. Desta forma e por oportuno informamos que todas as medidas judiciais já estão sendo tomadas para o devido esclarecimento real dos fatos".
Foi solicitada uma nota à Secretaria Municipal de Educação, que informou que o caso será apurado, e a DRE (Diretoria Regional de Educação) vai notificar a Organização da Sociedade Civil para obter esclarecimentos, sob risco de penalização.