'Me jogou contra parede e passou a mão pelo meu corpo', conta vítima de assédio sexual de juiz em SP
Mais de 60 mulheres acusam Marcos Scalercio. Magistrado do TRT 2ª Região antecipou as férias e foi demitido como professor
São Paulo|Do R7, com informações da Record TV
Mulheres que afirmam ter sido vítimas de assédio sexual do juiz do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) 2ª Região nos últimos dez anos dizem que Marcos Scalercio é abusivo, coagia as alunas do curso preparatório para a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o acusam até de tentativa de estupro. Por medo, a identidade das vítimas não foi revelada.
À Record TV, uma aluna de Scalercio contou que ficou em silêncio por seis anos, mas decidiu expor o que houve dentro do Fórum Trabalhista de São Paulo. "Ele me agarrou pela cintura, me jogou contra a parede e começou a passar a mão pelo meu corpo e fazer comentários sobre meu corpo", lembra.
Outra advogada, de 32 anos, também acusa o magistrado de tentativa de estupro. O assédio aconteceu em 2017, quando ela cursava o preparatório para a OAB e era aluna de Scalercio: "Sempre muito solícito, explicava muito bem a matéria, com aulas maravilhosas, era carismático com todos".
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Em áudio, ele reclamou dos cortes feitos pela aluna. "Nunca se perde a graça de um beijo, de uma pegada. É muito ruim quando corta, que para de evoluir. Nós estávamos evoluindo, você mandou uma foto, e aí? Uma pena", disse o suspeito.
E, no estacionamento do cursinho, ele a teria atacado: "Me agarrou com muita força, segurou na minha cintura e nos meus braços e tentou forçar. Ele tirou as partes íntimas dele para fora, tentou forçar que eu passasse a mão, que eu me abaixasse para fazer alguma coisa nele".
A mulher conseguiu se desvencilhar da situação, mas disse que teve de desistir dos sonhos por causa da violência sofrida e que já recusou trabalhos em São Paulo com medo de encontrá-lo novamente. "Tinha medo do que ele poderia fazer", ressalta.
Ex-alunas
As vítimas relatam que o juiz tem um comportamento repetitivo, com conversas ousadas que abordam questões pessoais tanto em áudios quanto em texto. Em uma das mensagens ele escreveu: "Manda foto da roupa íntima". Em outras, ele disse: "Você depila tudo ou deixa um pouco?", "Prefere beijos mais leves estilo selinho ou mais fortes calientes?".
Uma ex-aluna comprova o assédio com mensagens e conta que, depois de se mostrar incomodada com a abordagem do professor, ele passou a ignorá-la.
Outra ex-aluna do curso online disse ter procurado Scalercio para tirar dúvidas da matéria e estranhou o conteúdo das respostas. "Depois de algumas horas, começou a mandar mensagem perguntando onde eu morava e coisas muito íntimas, como que cor era minha calcinha. Disse que a gente podia se encontrar em um motel", afirma.
E complementa: "Ele é abusivo. Acha que a pessoa tem que sair com ele. A forma que ele fala é para coagir a pessoa. Eu sou importante, você tem que sair comigo".
Investigação
O juiz foi investigado pela Corregedoria do TRT. Foram ouvidas 15 pessoas. Por 44 votos a 22, a decisão foi pelo arquivamento do processo por falta de provas. No entanto, Marcos Scalercio ainda é alvo de investigação pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e MPF (Ministério Público Federal).
O caso corre em segredo de Justiça e foi comentado até pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ, Luiz Fux. "Esse processo já estava no plenário virtual. Os advogados entenderam de pedir mais prazo para fazer a sustentação oral. Em breve o farão", explicou.
Para a advogada Luciana Villar, do Projeto Justiceiras, é esperada a condenação: "Esperamos que o TRT condene administrativamente o juiz e que ele seja exonerado do exercício das funções".
Scalercio antecipou as férias e ficará 20 dias afastado do trabalho. Ele já não faz mais parte do quadro de docentes do Damásio Educacional. O desligamento ocorreu após a repercussão das denúncias.
Defesa do juiz
Em nota, os advogados de defesa do juiz afirmaram que as acusações contra Marcos Scalercio "já foram objeto de crivo e juízo de valor pelo órgão correcional e colegiado do Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região. Ele foi absolvido pelo tribunal e o caso foi arquivado".
Segundo os advogados, foram ouvidas 15 testemunhas no processo. "O arquivamento, portanto, demonstrou que o conjunto probatório é absolutamente insuficiente para dar lastro em qualquer dos fatos relatados."
Ainda em nota, a defesa destaca que o juiz não é investigado criminalmente: "Scalercio não responde a qualquer resvalo na esfera criminal, sendo inverídica a informação que parte do pressuposto que o magistrado está denunciado criminalmente. É profissional de reconhecida competência e ilibada conduta pessoal, quer seja no âmbito acadêmico, quer seja no exercício da judicatura".