Médico molestou mais de 20 mulheres em SP, diz delegada
MP-SP (Ministério Público de São Paulo) denunciou cardiologista à Justiça na segunda-feira (14). Promotor também pediu a prisão preventiva do suspeito
São Paulo|Fabíola Perez, do R7, com Estadão Conteúdo
Mais vítimas compareceram à delegacia e ao Ministério Público, em Presidente Prudente (SP), para denunciar o médico Augusto César Barreto Filho por abuso sexual. Segundo a delegada Adriana Pavarina, da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), já passa de 20 o número de vítimas. "Ainda não deu tempo de contar todos os registros, mas aumentou bastante", afirmou a delegada.
De acordo com Adriana, a quantidade de queixas pode subir, porém, algumas mulheres acabam não comparecendo para oficializar a denúncia por receio de exposição da imagem. "Infelizmente, chegaram a divulgar os nomes de algumas vítimas e isso pode afastar outras pessoas de também fazerem a denúncia", explicou.
Ainda assim, somente nesta terça-feira (15), mais duas mulheres engrossaram a lista afirmando que também foram abusadas pelo profissional que atua na área de cardiologia. Como as demais, elas alegaram que o acusado teria passado as mãos pelas suas partes íntimas e feito outros abusos durante as consultas.
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De acordo com a delegada, a investigação iniciada em julho do ano passado já foi concluída e nesta semana o processo foi encaminhado à Justiça pedindo a prisão do médico. Mas com o surgimento de mais vítimas, outros inquéritos podem ser abertos para novas apurações. "Tem muita gente ligando para a delegacia" falou Adriana nesta quarta-feira (16).
O cardiologista já tinha sido denunciado há dez anos e a delegada garante que, na época, a polícia também realizou as investigações e encaminhou o caso para a Justiça. No entanto, indagada sobre os motivos de até hoje ele não contar com qualquer condenação, ela falou que isso é responsabilidade da Justiça. "O procedimento da polícia foi realizado, mas sobre esta questão dos processos somente o judiciário para informar", justificou.
O TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) foi questionando sobre o desdobramento dessas denúncias anteriores. Porém, a assessoria do órgão informou não ter acesso às ações que correm em segredo de Justiça. E que no caso dos processos que podem ser visualizados, constam apenas dois e voltados a execuções fiscais em Presidente Prudente, não tendo relação com os casos levantados pela polícia.
Ministério Público
O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) denunciou na segunda-feira (14) à Justiça o médico cardiologista Augusto Cesar Barretto Filho, suspeito de abusar sexualmente de uma paciente, em Presidente Prudente, no interior de São Paulo.
Segundo o promotor de Justiça, Filipe Teixeira Antunes, além do oferecimento da denúncia por violação sexual mediante fraude, foi pedida a prisão preventiva do médico diante do entedimento de que ele possa voltar a praticar esse tipo de ato. "Existe o risco de que ele volte a praticar atos libidinosos dentro e fora do consultório", afirma Antunes.
Relatos
As denúncias feitas agora são pelo crime de posse sexual mediante fraude, que tem pena prevista de até seis anos de reclusão. Uma das vítimas contou que Augusto César Barreto Filho agia, principalmente, na hora dos exames. "Ele ia medir a pressão arterial e, enquanto segurava meu braço, aproveitava para esfregar suas genitálias na minha mão", falou uma das mulheres que registrou queixa contra ele e preferiu não se identificar.
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De acordo com a paciente, até na hora de medir as batidas do coração com o estetoscópio o médico praticava o assédio. "Em uma consulta, no momento em que fazia o exame, ele passou a mão na minha coxa e tentou tocar também dentro da minha calça", completou a paciente.
Sindicância
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) anunciou nesta quarta (16) a abertura de sindicância para apurar as reclamações contra o cardiologista. "As novas denúncias, reveladas por meio da imprensa, serão juntadas à investigação em curso", disse a nota — a apuração ficará a cargo da Câmara Técnica de Assédio Sexual e não há previsão sobre o término do trabalho, que segue sob sigilo determinado por lei.
O Conselho informou, ainda, que o pedido de cancelamento de registro profissional, apresentado pelo médico, foi indeferido, "uma vez que ele responde à sindicância", isso porque tal cancelamento tornaria nulas as consequentes medidas punitivas.
O médico garantiu ser inocente ao ser chamado para prestar depoimento à polícia, mas alegou que vai falar sobre o caso somente em juízo. O R7 entrou em contato com o consultório em que o médico atende, porém foi informado de que ele não iria ao local nesta quarta-feira (16). O advogado de defesa do médico, Émerson de Oliveira Longhi, afirmou que não irá se manifestar no momento.
"Em respeito ao meu cliente e seus familiares, em respeito às mulheres envolvidas e seus familiares, e também pelo fato de não ter sido intimado formalmente da denúncia ofertada pelo promotor substituto, sendo que apenas tive conhecimento da mesma por grupos de WhatsApp e pelas redes sociais, a Defesa nesse momento nada pode declarar, além do que o processo corre em segredo de Justiça", declarou por meio de nota.