Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Megaoperação na Cracolândia pretende marcar início de reurbanização no centro de São Paulo

Ação da polícia civil abre programa Redenção; segundo prefeito, hotéis serão fechados

São Paulo|Gustavo Basso, do R7

Cracolândia, na região central de SP, foi esvaziada em operação comandada pela Polícia Civil
Cracolândia, na região central de SP, foi esvaziada em operação comandada pela Polícia Civil Cracolândia, na região central de SP, foi esvaziada em operação comandada pela Polícia Civil

Uma megaoperação envolvendo quase mil policiais, segundo o governo do Estado, e comandada pelo Denarc (Departamento de Narcóticos) e membros da GCM (Guarda Civil Metropolitana) desmontou, na manhã deste domingo (21), o chamado “fluxo” da Cracolândia, ponto de compra, venda e consumo da droga no centro de São Paulo. A operação terminou com 38 pessoas detidas no cumprimento de 79 mandados de prisão temporária e 70 mandados de busca e apreensão. A Secretária de Segurança Pública afirma que apenas na segunda-feira fará um balanço das apreensões de drogas e armas realizadas.

Desde a noite anterior ventilava-se que uma operação de grande porte estaria agendada para a manhã deste domingo, porém mesmo membros de coletivos ativistas que atuam na região, como o Craco Resiste, estavam céticos quanto a veracidade da informação, afinal São Paulo realiza hoje seu maior evento organizado pela prefeitura, a Virada Cultural, com dezenas de atrações no centro da cidade, a menos de 1 quilômetro do fluxo. Somado a isso, movimentos sociais esperavam uma ação policial na região há semanas, sem que ela se concretizasse.

Até aproximadamente às 6h45, quando a força policial, que contou ainda com dois helicópteros e cães farejadores, retirou as pessoas do ‘fluxo’, entrando ainda em imóveis no entorno das alamedas Dino Bueno, Helvetia e Glete, a maioria deles hotéis e pensões. O governador Geraldo Alckmin e o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves, acompanham a ação. Segundo Alckmin, o objetivo é "apreender droga, prender traficante e pegar arma".

O prefeito João Dória também visitou a região na manhã de hoje e disse que não houve vítimas durante a operação. A ação, afirmou Doria, faz parte do projeto Redenção. No âmbito medicinal e urbanístico, as ações começam agora. Doria disse também, em entrevista, que o projeto De Braços Abertos, da prefeitura anterior, foi finalizado.

Publicidade

— Não haverá mais pensão, hotel, nenhum tipo de acomodação desse tipo, como existia anteriormente. Toda a área será reurbanizada, os hotéis serão fechados e a área passará por amplo projeto de reurbanização.

Segundo funcionários de hotéis ouvidos pela reportagem do R7, policiais afirmam que quase todos os imóveis da alameda Dino Bueno deverão ser demolidos. A prefeitura, no entanto, não confirma a informação. Em 2012, sob a gestão de Gilberto Kassab (PSD), uma grande operação policial resultou na dispersão dos usuários, o que gerou nove novas ‘cracolândias’ pela cidade. Imóveis foram demolidos segundo o projeto Nova Luz, porém a urbanização não teve sucesso e o fluxo de usuários e traficantes voltou à região pouco tempo depois.

Publicidade

Horas depois da megaoperação deste domingo um grupo de usuários e moradores se concentrava na rua Helvetia ameaçando voltar ao ‘fluxo’, enquanto policiais civis do GOE (Grupo de Operações Especiais) isolavam a área. Irandir, usuário de crack há nove anos, afirmou ao R7 que em um mês o fluxo volta a se instalar. “Essa droga é maldição… pra onde toda essa gente vai? Você prefere esse monte de usuário concentrado em um lugar só ou espalhado no seu passeio quando vai ao shopping ou um restaurante?”, questionou o ex-lutador de boxe.

Críticas e abuso

Publicidade

Logo após a remoção de moradores e usuários da região, funcionários da prefeitura retiravam com escavadeiras e caminhões grandes quantidades de lixo e pertences pessoais, como colchões, mochilas, remédios, etc. Roberta Costa, antropóloga e membro dos Braços Abertos, conta no entanto que a quantidade de lixo estava acima do normal.

— Observamos que há dias a prefeitura não recolhia lixo por lá, o que aumentou uma quantidade de lixo, que já é alta, com 2.000 pessoas circulando por ali. Passa uma imagem de propaganda em cima da operação.

Roberta conta ainda que não era permitido aos moradores de rua da região que foram retirados voltar para recolher pertences pessoais e documentos antes que os tratores de limpeza entrassem em ação. O impasse somente foi resolvido com a chegada do vereador Eduardo Suplicy (PT), que negociou com os policiais a entrada de um morador por vez. Porém, Roberta conta que a solução durou apenas enquanto o vereador esteve presente. “Dez minutos após ele ir embora, voltaram a barrar”, afirma.

A reportagem conversou ainda com proprietários e funcionários de hotéis da região que relatam truculência na abordagem nas ações da polícia civil. Diana Fontinelli, 30, e Laura da Silva, 48, moram e cuidam de um hotel na alameda Dino Bueno. Elas contam que os policiais retiraram todos os ocupantes do prédio antes de revistar quartos e pertences. A conduta é irregular, uma vez que por lei, o morador tem o direito de acompanhar revistas em imóveis.

“Levaram, não sei para onde, um aparelho de ar condicionado e dois televisores que eu tinha”, narra emocionada Laura, relatando ainda que “pediam as notas fiscais de todos meus pertences e queriam saber de onde vinha meu dinheiro, como se eu precisasse provar que sou inocente”.

— Eu não devo pagar pelo erros dos outros; claro que há bandido por aqui, mas eles deveriam descobrir quem são, não apontar todos como criminosos.

Rubens Moreira, porteiro de um dos maiores hotéis da região - um edifício construído em 1938 reformado recentemente - também critica a ação de policiais que pressionavam pela delação de traficantes e membros do PCC. “O problema é que sabemos que aqui é um reduto da facção, e que eles funcionam como um poder paralelo. Se delato alguém e descobrem, não é a delegada que vai me ajudar”, reclama.

Cícero Barbosa, 55, proprietário do edifício onde Moreira trabalha, que já foi utilizado pelo programa De Braços Abertos, criado pela gestão Haddad em 2013, mostra os estragos causados pelos policiais no prédio para o qual ele entrou com pedido de tombamento histórico.

— Arrombaram até mesmo portas que estavam abertas. Quebraram o piso do hotel, roupas que estavam limpas no varal, quebraram a caixa d’água e tubulação…

Nesta segunda-feira às 14h a SSP (Secretaria de Segurança Pública) divulgará um balanço da operação que dá início ao programa Redenção - substituto de Doria do agora antigo De Braços Abertos. Também nesta segunda, às 19h, será feita uma coletiva de imprensa no Conselho Regional de Psicologia para presentar os resultados de uma vistoria que será realizada na região da Cracolândia por várias organizações e entidades sociais.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.