Menina de 14 anos é picada em atividade escolar em Caieiras (SP) e corre o risco de perder a perna
Em publicação nas redes sociais, mãe da estudante relata revolta e angústia. Cirurgião fez alerta para infecção generalizada
São Paulo|Isabelle Amaral*, do R7 e Isabelle Gandolphi, da Agência Record
A mãe de uma menina de 14 anos compartilhou nas redes sociais, na segunda-feira (14), o sentimento de revolta e angústia após a filha ser picada por um inseto na horta da Escola Estadual Doutor Mario Toledo de Moraes, em Laranjeiras, na cidade de Caieiras, região metropolitana de São Paulo. A jovem está internada e corre o risco de perder a perna. O caso ocorreu no dia 14 de fevereiro e, desde então, a lesão vem se agravando.
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De acordo com a mãe, o primeiro atendimento à menina ocorreu no Hospital de Laranjeiras, onde foram realizadas drenagens e medicações. Após 15 dias, elas voltaram ao hospital porque a perna da jovem estava pior e, então, o médico responsável decidiu internar a jovem, alegando que a bactéria contraída após a picadia seria "resistente".
A atividade ao ar livre foi proposta por uma professora no dia 14 de fevereiro. Os alunos precisavam lavar e pintar pneus para confeccionarem bancos. No entanto, no local onde realizaram a atividade, havia "mato até o joelho", conforme relato da mãe.
Segundo a diretora da escola, foi solicitada à gestão estadual a poda do mato, mas, até o momento, a instituição não teria tido retorno. "A escola tem vários tipos de aranha e até cobras", afirmou a mãe na publicação.
Na quinta-feira (10), a estudante foi transferida para o Hospital Estadual de Francisco Morato Professor Calor da Silva Lacaz, onde recebeu medicação na veia e passou por procedimento de drenagem do líquido na perna. Segundo a responsável pela menina, o procedimento foi feito sem nenhum tipo de anestesia.
A publicação repercutiu nas redes sociais e chegou ao conhecimento do diretor-geral da Saúde de Caieiras, Julio Rodrigues, que registrou comentário no post: "Assim que soubemos do caso, nossas equipes de saúde passaram a dar o acompanhamento de perto". Além disso, pediu à mulher que mantivesse o comentário dele para que as pessoas soubessem da informação.
No entanto, a mãe da menina disse não teve auxílio nenhum da prefeitura. "Vocês devem estar auxiliando outra mãe e filha. Em nenhum momento a Secretaria de Saúde me procurou. Pedi ajuda para um assessor da prefeitura para que fosse cortado o mato na escola, ele me escutou, mas somente isso, entrou em um ouvido e saiu pelo outro, nem na escola apareceu para se inteirar do caso da minha filha."
"A Secretaria de Saúde quis se livrar da minha filha a transferindo para o Lacaz, onde não realizam esse tipo de cirurgia. No sábado à noite minha filha disse que preferia a morte. O senhor, que tem filho, ia gostar que ele passasse por isso?", questionou a mãe. Além disso, a mulher relatou que o cirurgião do hospital em que ela estava disse que a menina precisaria fazer cirurgia às pressas, já que há risco de infecção generalizada e ela poderia morrer.
A jovem fez exames e, segundo a avaliação médica, precisaria fazer uma cirurgia de limpeza, mas seria necessária uma nova tranferência, pois o hospital de Francisco Morato não realiza esse procedimento. "Minha filha conseguiu transferência porque dei uma de louca."
Em contato com vereadores, a mãe conseguiu uma vaga no Hospital Dr. Albano da Franca Rocha Sobrinho. No domingo (13), com o risco de ter o membro amputado, a menina entrou em cirurgia, que durou aproximadamente uma hora.
Segundo relato do médico à mãe da paciente, caso demorassem mais um ou dois dias, a menina teria sofrido infecção generalizada e morrido. Nesta quarta-feira (16), outra médica passou para ver a jovem e afirmou que muito possivelmente precisará ser feito um novo procedimento, já que ainda há partes necrosadas.
De acordo com os médicos, há também a possibilidade de ser necessário um enxerto. Por isso, a menina deve ser transferida para a Santa Casa de São Paulo. Segundo a mãe, são no mínimo seis meses para que a cicatrização se complete. A menina sofre de anemia, e a mãe acredita que a baixa imunidade possa ter potencializado o problema. "Ela não está mais aguentando drenar, e secreção não cessa", desabafou.
A reportagem do R7 entrou em contato com as Secretarias Estadual e Municipal de Educação.
Em nota, a pasta estadual afirmou que está prestando a assistência à família, junto à Diretoria de Ensino de Caieiras, e que a apuração dos motivos do ocorrido já está em andamento. Segundo a secretaria, a unidade deverá passar por uma nova dedetização ainda neste mês.
A secretaria de saúde do município informou que lamenta o ocorrido e está prestando todo o suporte necessário para o atendimento da aluna. Esclareceu, ainda, que a escola onde ela foi picada estadual e está oficializando as providências cabíveis com o estado.
Confira o relatório médico da vítima
14/02 – Na hora, não percebeu a picada, à noite informou sentir dor;
19/02 – A mãe procurou a escola para ter mais informações. A escola fica próxima à área de mata nativa do Parque Estadual do Juquery e, eventualmente, em sua área de bosque com árvores frutíferas, ocorrem aparições de insetos nativos;
21/02 – 20h10 – Deu entrada no Pronto-Socorro Laranjeiras, apresentando queixa de edema na perna esquerda. Conduta: drenagem, mais curativo;
08/03 – 19h15 – Deu entrada com abscesso cutâneo, drenagem de uma semana e uso de antibiótico;
09/03 – 20h34 – Edema em membro inferior esquerdo, endemia, secreção purulenta e anemia importante. Conduta: Internação;
10/03 – 8h19 – Inserida no CROSS (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde), e transferida para o Lacaz, às 09h26;
13/03 – 14h – Transferida para o Hospital Albano Da Franca Rocha.
* Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez