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Metade dos usuários na Cracolândia já passou por tratamento

Estudo realizado em quatro períodos (2016, 2017, duas vezes, e 2019) no centro de São Paulo avaliou perfil da população que ocupa o local

São Paulo|Guilherme Padin e Mariana Morello*, do R7

Estudo foi realizado em quatro períodos diferentes
Estudo foi realizado em quatro períodos diferentes

Cerca de 53% dos usuários e frequentadores da Cracolândia, na região da Luz, no Centro de São Paulo, já passaram por alguma forma de tratamento para dependência química, segundo estudo realizado pela UNIAD (Unidade de Pesquisas de Álcool e Drogas) e da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), divulgado nesta segunda-feira (3).

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O estudo foi realizado em quatro oportunidades – em 2016, duas vezes em 2017, antes e depois da megaoperação policial realizada pela gestão de João Doria no local, e em 2019 – e compara os resultados de cada período. A pesquisa foi feita com uma média de 30 tendas com 10 usuários em cada.

Dos entrevistados que passaram por tratamento, a maioria foi atendida em hospitais (47%) e comunidades terapêuticas (38,3%). O restante recebeu atendimento em ambulatórios (8,5%) e por mútua ajuda (3%).

Aos que diminuíram ou conseguiram parar o uso, as razões pelas quais apontaram como motivações de influência foram o apoio de amigos e família (23,6%), emprego ou atividade remunerada (23,1%) e atividades em serviços da região (21,2%).


Entre primeiro e último estudo, pouco mudou

Em 2017, Doria comandou megaoperação para reurbanizar o local
Em 2017, Doria comandou megaoperação para reurbanizar o local

Visando a reurbanização da área central da capital paulista, uma megaoperação do então prefeito João Doria envolveu membros da GCM e quase mil policiais em maio de 2017, a fim de desmontar o que se chamava de “fluxo” da Cracolândia.


Embora as intervenções do prefeito tenham dispersado muitos usuários à época, os tirando dali, as pesquisas apontam que a frequência de usuários pouco mudou antes da operação e atualmente no local, que, segundo o estudo, movimenta R$ 9,7 milhões por mês.

Em 2017, antes da ação de Doria, 1.861 frequentadores passavam pelo local diariamente; no mesmo ano, depois das intervenções, o número diário caiu para 414. No ano passado, último período da pesquisa, a quantidade voltou a subir – mais de 300%, inclusive –, chegando a 1.680 pessoas por dia.


Impacto na saúde mental é grande entre mulheres

Das entrevistadas, 50% tentaram suicídio e 65,9% já pensaram na possibilidade
Das entrevistadas, 50% tentaram suicídio e 65,9% já pensaram na possibilidade

A saúde mental dos usuários entrevistados também revela dados alarmantes: 58,3% já apresentaram quadros psicóticos e 48,4% praticaram automutilação. Quase metade (46,4%) já pensou em se matar, enquanto mais de um terço (38,2%) de fato tentou o suicídio.

O número é consideralmente maior e ainda mais impactante no recorte feminino. Das entrevistadas, 50% tentaram suicídio e 65,9% já pensaram na possibilidade de se matar.

Igualmente altas são as porcentagens de auto-mutilação (66,7%) e quadros psicóticos (70,4%) entre as mulheres, que representam 23,7% da população na cracolândia.

Dados gerais

Mais de 70% não concluíram o ensino médio
Mais de 70% não concluíram o ensino médio

Os entrevistados possuem idade média de 35,2 anos e são, em maioria, homens (68,7%). Mulheres são 23,7% e pessoas trans, 7,5%.

O grau de instrução dos frequentadores aponta que 70% não terminaram o ensino médio – 5,2% nunca estudaram, 36,1% não concluíram o ensino fundamental, 14,5% possuem fundamental completo e 15,7% não terminaram o ensino médio. Os restantes se dividem entre ensino médio completo (23,3%), ensino superior/técnico incompleto (4,4%) e ensino técnico/superior completo (0,8%).

Mais da metade (53,2%) não mantém mais contato com a família, e 63% não retornaram para casa depois de ir à Cracolândia. Entre os fatores que levariam os usuários a saírem da região, o trabalho foi o principal (44%), seguido por amparo familiar (32,8%) e residência (20%).

Dos entrevistados, 87% não possuem atividade remunerada, sendo que 79% estão há mais de um ano nesta condição e 52% há pelo menos cinco anos.

*Estagiária do R7, sob supervisão de Ana Vinhas

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