Moradores do Itaim Paulista (SP) cobram soluções para alagamentos
Córregos Itaim e Lageado transbordaram e alagaram ruas, avenidas e estação de trem. Problema é recorrente há décadas
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
Os moradores e comerciantes da região do Itaim Paulista, no extremo leste de São Paulo, voltaram a sofrer com as enchentes neste domingo (16). Os córregos Itaim e Lageado transbordaram e alagaram ruas, avenidas e também estações de trem da Linha 12–Safira da CPTM. A população está cansada de promessas, mas os projetos não saem do papel.
Segundo o líder comunitário Euclides Mendes, conhecido como Kiko, a Prefeitura de São Paulo chegou a contratar, em 2015, uma empresa que faria um estudo da bacia do córrego Itaim e apresentaria propostas de solução e orçamentos para eliminar os alagamentos, mas o contrato com a Geométrica Engenharia de Projetos foi rescindido amigavelmente em agosto de 2017.
"O estudo veria o córrego todo, daria opções para reter a água e os valores. Eu não sou engenheiro para saber pelo que brigar na região, se dique, pôlder, piscinão. A prefeitura não faz obra sem projeto e já pagou R$ 250 mil para a empresa, metade dos R$ 500 mil previstos e não foi entregue o projeto", afirma o líder comunitário.
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O prefeito Ricardo Nunes (MDB) esteve em 23 de dezembro na região e ouviu as demandas dos moradores.
Segundo Kiko, a chuva nem foi tão forte no Itaim Paulista, mas sim nas cidades vizinhas como Poá, Ferraz de Vasconcelos e Suzano. Como os córregos são extensos, nascem na região metropolitana e correm em direção ao rio Tietê, já em São Paulo.
"Ficou quase uma hora alagado e parou o trânsito. Pelo menos dois córregos transbordaram. Foi feio mesmo, de só dar pra ver o teto do carro. Foi uma coisa assustadora e nem foi chuva daqui. E quando é assim tudo para: linha do trem, avenida Marechal Tito, e a água vai represando", explica Kiko.
Em um dos vídeos, é possível ver um homem sem camisa ao lado das grades da estação e um veículo tombado. Os trilhos e a via estão cobertos de água e parecem um rio. A água que transbordou do córrego Lageado percorreu a avenida Marechal Tito e invadiu a estação de trem no Jardim Helena. O transporte de passageiros ficou paralisado.
Outra gravação mostra os estragos provocados pela enchente na avenida Marechal Tito, que ficou intransitável. Mesmo assim, algumas pessoas se arriscaram a passar, como a Aparecida de Lourdes da Silva, de 65 anos, moradora da Vila Aimoré há 60 anos.
"Eu tinha saído de casa antes da chuva. Às vezes a gente pega carona com carro para atravessar, mas como ninguém passava, atravessei com água no joelho. Uso bengala e a turma me ajudou a atravessar segurando no muro, nas grades. Medo a gente tem, mas não dá para perder tudo", conta a idosa.
Ela tinha pressa em voltar para casa, que fica na rua Coaracy, e erguer o restante dos móveis. A geladeira e o sofá já estão em cima de blocos, mas a cama e o guarda-roupa não foi possível erguer.
"Quem tem dinheiro, levantou as casas. Eu faço tratamento do câncer e não dá. Perdi três sofás só no ano passado por causa de enchentes. Atrás da minha casa tem o córrego Itaim. Suspendi as coisas e aterrei o quintal. Quando começa a encher vem esgoto e água do rio e enche rápido. Não limpam o rio Tietê. Instalei uma bomba na cozinha para tirar a água. Tem que ficar alerta, nem dorme. A gente não tem sossego, é sempre no sofrimento", relata Aparecida.
Os comerciantes também ficaram revoltados com os prejuízos provocados pela enchente. Um deles gravou um vídeo que mostra a situação das ruas no Itaim Paulista e a água dentro do bar em frente à estação de trem.
O outro lado
A Secretaria Municipal das Subprefeituras informou, em nota, que as equipes de zeladoria seguem um cronograma de trabalho para atender as demandas da região. Em 2021, foram limpos mais de 240 mil metros quadrados de margens de córregos, retirando mais de 12 mil toneladas de detritos.
Já a Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras) trabalha na recuperação de 291 metros das margens e contenção do talude no córrego Lajeado, próximo à rua Rio Alvarenga, com previsão de conclusão em abril.
A Siurb informou ainda que, em 2017, encerrou o contrato, em comum acordo, com a empresa Geométrica Engenharia de Projetos LTDA, que iria elaborar os projetos necessários para contenção dos alagamentos na bacia do córrego Itaim. "O encerramento do contrato se deu, uma vez, que a empresa desistiu de prestar os serviços pelo valor firmado em contrato, entregando somente o projeto funcional do córrego", escreveu.