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Mulheres ocupam um a cada 5 cargos de diretoria nos partidos

Pesquisa mostra que 70% das prefeitas consideram que mulheres não estão representadas de forma equilibrada nos postos de poder dos partidos

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

Mulheres brancas são apenas 15% do Congresso; negras, 3%
Mulheres brancas são apenas 15% do Congresso; negras, 3%

As diretorias dos partidos políticos, as chamadas executivas nacionais, são os lugares onde são tomadas as decisões mais importantes para as legendas. De decisões cotidianas, relacionadas ao planejamento e à formação de futuros candidatos, à distribuição de recursos, passando pelas agendas e bandeiras políticas, todas essas discussões passam pela diretoria de um partido. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Alziras e divulgada nessa sexta-feira (6) revela que a cada cinco cargos nesses espaços, somente um é ocupado por mulheres, apesar de elas representam mais de 50% dos filiados nas agremiações.

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O estudo “As prefeitas brasileiras e os partidos políticos” entrevistou 40% das mulheres à frente dos cargos executivos municipais para identificar a percepção das governantes sobre as práticas adotadas para ampliar a participação feminina nas eleições. “Isso reflete não só a estrutura que temos em nossa sociedade, mas também a formação do mercado de trabalho”, afirma Hannah Maruci, doutoranda e mestre em ciência política pela Universidade de São Paulo e co-idealizadora da Tenda das Candidatas, espaço dedicado a cursos de formação de política para mulheres e ao apoio a candidaturas femininas.

“Isso reflete não só a estrutura que temos em nossa sociedade%2C mas também o mercado de trabalho”

(Hannah Maruci, cientista política )

“Nos diretórios são tomadas as decisões e isso muda tudo, faz muita diferença. Apesar de estarmos cumprindo os 30% de candidaturas femininas, essa garantia não se reflete nas cadeiras ocupadas por mulheres”, afirma a cientista política. “Nesses lugares estão as informações privilegiadas e se as mulheres não está lá, não estão debatendo essas questões e pautando outras. Na política, as mulheres ainda são vistas como cidadãs de segunda classe.” A pesquisa mostrou também que 70% das prefeitas consideram que as mulheres não estão representadas de forma equilibrada nos postos de poder e tomada de decisão do partido.


A prefeita de Boa Vista, em Roraima, Teresa Surita é a única mulher eleita em uma capital. Com a experiência de quatro mandatos anteriores, ela afirma que a política no Brasil é machista. “Infelizmente transitamos num ambiente onde a mulher tem dificuldade em circular com facilidade. Muitas mulheres se tornam mais duras pela exigência que a política impõe”, afirma. “As mulheres têm mais dificuldade para conquistar espaço não só na política, mas em todas as esferas administrativas, públicas ou privadas. Acredito que a representatividade feminina na política pode crescer, mas ainda temos que caminhar muito para se ter um equilíbrio.”

Em seu 5º mandato, ela afirma que o percurso para as mulheres é mais longo. “Sempre achei que o caminho para as mulheres é mais duro e precisamos provar mais de uma vez nossa capacidade”, diz. “Sou contra o abuso de autoridade, o abuso de poder e a intimidação. Sempre fui a favor da democracia, dos direitos iguais, do respeito ao próximo e da liberdade de expressão.”


Postos como esses são importantes porque, segundo a diretora do Instituto Alziras, Michelle Ferreti, acumulam um poder simbólico. “Nessas estruturas se repete o que acontece na sociedade: as mulheres são a maioria na base da pirâmide, mas a minoria no topo”, explica. Ferreti explica que a divisão sexual do trabalho que responsabiliza as mulheres atividades domésticas, torna mais difícil o acesso feminino à política. “As mulheres gastam o dobro do tempo dos homens com o trabalho doméstico e isso impacta, entre outras coisas, a rede de contatos e o tempo para se dedicar à campanha”, diz ela.

“Infelizmente transitamos num ambiente onde a mulher tem dificuldade em circular. Muitas se tornam mais duras pela exigência que a política impõe”

(Teresa Surita, prefeita de Boa Vista (RR))

Tempo, recursos financeiros e redes de contato são, segundo a diretora do instituto, os três fatores de maior relevância para uma candidatura feminina. “Reclusas no espaço doméstico, as mulheres têm mais dificuldade em estender a rede de contatos e conseguir recursos financeiros para as campanhas”, afirma. Além disso, Maruci destaca que outro fator importante nas campanhas de mulheres é o momento em que elas obtêm os recursos financeiros. “Os partidos precisam cumprir os 30% destinados à participação feminina, mas a verba chega antes para os homens brancos. Esse tipo de negligência também se constituiu como uma violência de gênero e raça”, diz ela. “Eles prometem o recurso, mas, às vezes, demora, especialmente para as mulheres negras.”


Segundo a pesquisadora, candidatas negras são historicamente subfinanciadas. “Em todas as eleições quem recebe menos dinheiro são as mulheres negras.” Ela reforça ainda que os dados sobre a destinação de recursos financeiros por gênero e raça só passaram a ser informados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2014. “Antes disso, no entanto, o cenário não era diferente”, afirma ela. De acordo com a diretora do Instituto Alziras, o debate racial nas candidaturas femininas ainda é inviabilizado. “Só o fato de o TSE não apresentar e computar dados anteriores ao ano de 2014, isso diz muito sobre os sentidos do racismo no país”, diz.

Em maio de 2018, o TSE decidiu que os partidos políticos deveriam reservar 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, conhecido como Fundo Eleitoral, para financiar campanhas de candidatas no período eleitoral. “As secretarias de mulheres nos partidos vem fazendo um trabalho de enfrentamento para que as candidatas recebam os recursos de uma mais forma justa e equilibrada. Na medida em que essa discussão avança dentro dos partidos, avança também a democracia representativa no país”, diz Ferreti.

“Reclusas no espaço doméstico%2C as mulheres têm mais dificuldade em estender a rede de contatos e conseguir recursos financeiros para as campanhas"

(Michelle Ferreti, diretora do Instituto Alziras)

Em relação ao recurso de 5% recebido pelo partido do Fundo Partidário para financiar as atividades das legendas, a pesquisa revelou que 52% das candidatas não sabiam que esse repasse era obrigatório. A diretora afirmou ainda que o estudo questionou se os partidos informam sobre o recuso e 69% das prefeitas responderam que não. “Os partidos não são estruturas homogêneas. Vários colocaram mulheres em sua presidência e isso é fruto de uma luta dentro e fora dos espaços de disputa”, diz Ferreti.

Violência de gênero nas candidaturas

Ao se candidatarem, as mulheres sofrem formas específicas de opressão na arena política. “As candidatas sofrem mais assédio, ameaças, ameaças de morte, agressão verbal, xingamentos”, diz a diretora do instituto. “A visibilidade nos meios de comunicação sujeita as mulheres a formas de escrutínio em comportamento pessoais e não públicos” Esses estereótipos, segundo Ferreti, impactam o desejo de participação na política desde a infância. “Essas violências criam uma falsa ideia de que há uma competência diferenciada entre homens e mulheres e isso influencia a escolha de meninas e meninos.”

A fotógrafa e graduanda em pedagogia Giorgia Prates, de 42 anos, se candidatou este ano ao cargo de vereadora pela primeira vez. A vontade de fazer parte da política institucional surgiu a partir dos trabalhos que realizou como fotógrafa, denunciando ataques aos direitos de populações de periferias, indígenas e quilombolas. “Como mulher, negra, favelada e lésbica essas questões da exclusão sempre perpassaram minha vida”, diz. “Tinha vontade de mudar as coisas e percebi que a periferia era notada só durante a campanha então decidimos criar uma mandata coletiva para ter representatividade.”

"As mulheres acumulam atividades relacionadas aos espaços privados%2C como o cuidado com a casa e os filhos%2C serem chefes de famílias%2C e entrar na vida pública para competir"

(Hannah Maruci, cientista política)

Há poucos dias, porém, a campanha de Giorgia foi alvo de ataques. “Usaram minhas fotos de urnas para mandar mensagens em tons agressivos: ‘a gente pode e deve acabar com esses nichos’”, diz ela, referindo-se às frases inscritas em suas fotos de campanha. “O assassinato da Marielle nos mostra o que pode acontecer, mas não estava que houvesse essa contrapartida de ameaças”, diz. “É preciso estar muito consciente do que se está fazendo e das possíveis consequências. Ninguém espera morrer, mas isso nos assusta diariamente. Existe uma estrutura racista e machista e o que podemos fazer é formar grupos com pessoas que ofereçam apoio e suporte para enfrentar essas opressões.”

De acordo com a cientista política da USP, a raiz desses ataques e da sub-representação das mulheres é a estrutura machista e racista na sociedade. “O que acontece é que as mulheres precisam acumular atividades relacionadas aos espaços privados, como o cuidado com a casa e os filhos, serem chefes de famílias e provedoras, e entrar na vida pública para competir”, diz Maruci.

“Tudo o que ela precisa dar conta se torna invisível para a sociedade.” Para denunciar casos de violência de gênero nas campanhas, a Tenda das Candidatas lançou a campanha “Meu Primeiro Ataque” para conscientizar e incentivar mulheres a denunciar formas de violência. “Esses fatores como o dinheiro que não chega, a ameaça que intimida e impede de panfletar em determinados locais mina a candidatura e a autoestima das mulheres”, afirma Maruci.

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