"Nosso rio também está morto", dizem índios em Brumadinho
Área indígena a beira do rio Paraopeba reclama da contaminação por rejeitos da lama de minério que provocou a morte de centenas de peixes
São Paulo|Márcio Neves, do R7
Uma área indígena a beira do Rio Paraopeba, na divisa da cidade de Brumadinho e São Joaquim de Bicas, em Minas Gerais, sofre com os rejeitos da lama de minério que contaminou o rio após o rompimento da barragem na sexta-feira (25). A contaminação provocou a morte de centenas de peixes e a água foi considerada imprópria para uso por técnicos do IBAMA.
“Essa tragédia matou um monte de gente e também nosso rio, não podemos mais pescar, nem banhar”, afirmou o cacique Hãyó Pataxó, que é da etnia Pataxó, vindo de fluxos migrátorios da Bahia para está região em Minas Gerais.
Segundo a Funai, a tradição cultural dos Pataxós diz que eles nasceram de uma gota d’água e em suas aldeias o rio é considerado não só fonte de alimento e água, mas também de purificação espiritual.
Com o rio Paraopeba poluído pela lama de minério que desceu com o rompimento da barragem, a tribo tem dependido da doação de água e comida de voluntários, já que até as plantações começaram a sofrer, já que pararam de ser regadas depois da água do rio ser considerada imprópria.
Leia mais: Congonhas (MG) vive o medo de desaparecer sob barragem
Célia Peixoto, vice-cacique e liderança pela luta indígena dos Pataxós em Minas Gerais, lamenta a morte do rio e exige providências imediatas. “O rio Doce, lá em Mariana, continua poluído, agora fizeram isto aqui. Será que a cabeça desse povo é de minério, cadê a humanidade, não importa se somos índios, brancos ou pardos, precisamos cuidar mais da nossa natureza, ela sofre, ela sangra”, afirmou.
Desde segunda-feira (28), agentes da FUNAI acompanham a situação na região, acompanhados de equipes do Ministério da Saúde, do IBAMA e da Advogacia Geral da União.
Leia também
Nesta quarta-feira (30), os indígenas foram informados que a Vale enviaria um fornecimento de água e materiais de apoio para garantir a subsistência da aldeia. Um grupo de voluntários também levou doações de água e mantimentos e o Ministério da Saúde, forneceu medicamentos e conferiu a vacinação de quem vive na aldeia.