Pacientes são transferidos por falta de oxigênio em Ermelino Matarazzo
Enfermeiros de UPA registram transferência de pacientes com covid-19 e pedem: 'Por favor, fiquem em casa. Estamos exaustos'
São Paulo|Do R7, com informações da Agência Estado
Funcionários da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, relataram por meio das redes sociais a falta de oxigênio para atender pacientes com covid-19 internados na unidade. A falta do insumo fez com que os pacientes fossem transferidos, na noite da sexta-feira (19), para outra unidade.
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As imagens, gravadas por um funcionário, mostram diversas ambulâncias prestes a sair da unidade. O enfermeiro que faz o registro dos veículos diz: "Olha a UPA como está. Acha que está fácil?" Outra funcionária utilizou as redes sociais para relatar a indignação diante do colapso. "Quantas pessoas ainda vai precisar morrer para os seres humanos entender", diz uma enfermeira.
"Essa madruga, oxigênio acaba e pacientes sendo transferidos as pressas. Pessoal tenha consciência nós temos família também precisamos voltar para nosso lar no final do expediente, tenha compaixão de nós que estamos aqui para ajudar à todos, estamos exaustos e com medo mais não vamos parar, mais por favor fique em casa."
De acordo com o secretário municipal de Saúde Edson Aparecido, um atraso no abastecimento do insumo pela empresa White Martins (produtora do insumo) ocasionou o problema. Esse foi o primeiro registro de falta de oxigênio na cidade de São Paulo. A companhia negou qualquer problema de fornecimento na UPA.
"Nossa equipe, por precaução e segurança, decidiu fazer a transferência. Felizmente, deu tempo. E não houve maiores problemas. Depois de uma hora em que os pacientes já haviam sido transferidos, o oxigênio chegou", disse Aparecido.
Segundo ele, antes da pandemia, as unidades de saúde recebiam cilindros de oxigênio uma vez por semana, mas, durante os últimos dias, essa entrega vem sendo feita três vezes ao dia. "Estamos conversando com as empresas responsáveis (White Martins e outras) para resolver as questões de logística, como a possibilidade de concentrar os pacientes em algumas unidades", disse.
Além disso, Aparecido pediu ajuda para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na aquisição de cilindros e estuda baixar um decreto que possa garantir a prioridade de abastecimento de oxigênio para os hospitais públicos.
O Hospital Municipal Doutor Ignácio de Proença Gouveia também chegou a ficar perto do limite do oxigênio disponível. Mas, neste caso, o abastecimento foi feito no tempo adequado para os pacientes não precisarem ser transferidos.
"Nestas duas últimas semanas, a evolução das internações aumentou muito. Os pacientes mais jovens demandam muito mais oxigênio. Ainda não trabalhamos com a possibilidade de falta de oxigênio na cidade, mas estamos em uma operação de guerra para dar conta de tudo", afirmou Aparecido.
Outro lado
A White Martins informou que não faltou oxigênio para a UPA Ermelino Matarazzo: "O sistema de abastecimento de oxigênio na unidade funcionou para que o produto continuasse sendo fornecido ininterruptamente, conforme as normas vigentes no país . No dia 19 de março de 2021, a UPA consumiu todo o produto do tanque de oxigênio (suprimento primário) e o sistema iniciou automaticamente o uso da central reserva de cilindros (suprimento secundário). Esta central reserva (dotada de duas baterias independentes de cilindros) entrou em operação como estabelece a referida norma. Durante o uso do suprimento secundário, o suprimento primário (tanque) foi abastecido, não ocorrendo falta de produto."
Ainda de acordo com a nota distribuída pela empresa, "a rede interna de distribuição do oxigênio para uso terapêutico é de responsabilidade dos estabelecimentos assistenciais de saúde e a White Martins tem alertado exaustivamente seus clientes sobre os riscos envolvidos na transformação de unidades de pronto atendimento em unidades de internação para pacientes com Covid-19 sem um planejamento adequado."
"Muitas unidades não possuem redes centralizadas com a dimensão adequada para expansão do consumo, agravando demasiadamente a condição de fornecimento de gás para suportar ventiladores, inaladores e outras práticas terapêuticas. Essas condições interferem na pressão necessária para alimentar os ventiladores utilizados em pacientes críticos, o que leva à percepção equivocada de que há falta de gás."
No caso específico da UPA de Ermelino Matarazzo, a empresa afirmou que a unidade já foi notificada formalmente sobre a necessidade de informar previamente qualquer incremento de consumo do produto à fornecedora.