Padre é acusado de violência sexual e de praticar orgias gays, diz revista
IstoÉ publicou, na última sexta-feira (4), denúncias de abuso sofrido por jovem, que acusou Igreja Católica de omissão
São Paulo|Do R7
A revista IstoÉ publicou uma reportagem, na última sexta-feira (4), na qual o jovem Elissandro Dias Nazaré de Siqueira, de 24 anos, acusa o padre Bartolomeu da Silva Paz de tê-lo violentado sexualmente, sob ameaças, quando Siqueira ainda era menor de idade. As acusações compõem um processo judicial em trâmite desde maio na Vara Civil do Estado de São Paulo.
A ação é assinada pelos advogados Maristela Basso e Guilherme Dudus e tem mais de 700 páginas, com mensagens e fotos anexadas. O padre Bartolomeu é acusado de utilizar o espaço da Paróquia Monte Serrat, no Largo da Batata, em São Paulo, para organizar orgias gays, regadas a sexo, música e bebidas alcoólicas.
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Siqueira diz ter sido violentado pelo padre nas dependências da casa paroquial. E acrescenta que também teria sido violentado na sede da Associação Cultural e Beneficente para o Bem-Estar do Idoso, que é ligada à Paróquia Monte Serrat e era presidida pelo padre.
“Já tentei me matar, fico vendo que nada é feito. Fui abusado, isso aconteceu comigo. As pessoas acham que é pelo dinheiro, mas eu quero que justiça seja feita”, disse Elissandro Siqueira à IstoÉ, que teve acesso aos autos do processo.
Siqueira pede indenização de R$ 5 milhões por danos morais. A ação é direcionada ao padre Bartolomeu e a toda a cúpula da Igreja Católica no Estado de São Paulo. São acusados no processo o Cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo; Dom Eduardo Vieira dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo; Dom José Roberto Fortes Palau, bispo de Limeira e o Padre Adalton Pereira de Castro. Siqueira acusou também o padre Adalton de ter tentado violentá-lo, sem, no entanto, completar o ato.
Acusações de omissão
Segundo a acusação, o cardeal e os bispos teriam se omitido em relação às denúncias e atuado para proteger o padre Bartolomeu. O advogado da vítima, Dudus, disse à revista que o cardeal Dom Odilo Scherer sabia das acusações desde o início de 2018, quando Siqueira entrou com uma ação trabalhista contra o padre, com o argumento de que era forçado por ele a realizar serviços inadequados.
A ação foi arquivada, mas as denúncias contra o padre começaram a ser investigadas por uma comissão, criada pela cúpula da Igreja Católica, conforme relatou a reportagem. Bartolomeu, por coincidência, pediu afastamento de suas funções na paróquia, mas acabou sendo transferido para a Paróquia Santa Cecília, no centro de São Paulo, em iniciativa vista como promoção.
A mudança foi descrita, na reportagem, como "uma prática comum de transferências mundialmente usada pela Igreja Católica sempre que os padres são acusados de violência sexual, pedofilia ou até mesmo homossexualismo."
O artigo também afirmou que desde 2019 o Vaticano tinha conhecimento das denúncias que envolvem orgia e violências cometidas pelo padre Bartolomeu, após uma carta ter sido encaminhada pelo advogado de Siqueira, em julho daquele ano, para o Papa Francisco, sem, no entanto, ele obter resposta.
Na carta, Dudus conta sobre um caso de violência que ele também teria sofrido por outro padre da mesma paróquia. À revista, o advogado explica que não ingressou com ação em seu nome contra a Igreja Católica porque "esse é um sistema muito injusto".
Defesa e pesadas acusações
Como defesa, Dom Odilo negou à reportagem qualquer acusação de omissão: “Nego inteiramente a acusação de omissão, quer por parte da Arquidiocese de São Paulo, quer por parte de quaisquer de seus representantes”. Segundo o religioso, a Diocese recebe inúmeras denúncias que são “objeto de atenta verificação e providências, conforme normas da Igreja, no âmbito de suas competências”. Mas, de acordo com a matéria, ele não especificou quantas denúncias chegaram ao seu conhecimento neste ano de 2020.
O padre Bartolomeu está proibido de celebrar missas públicas desde 2 de abril de 2018, podendo, no entanto, atuar de maneira reservada, o que já não havia deixado satisfeito o advogado de Siqueira.
Para ele, o decreto editado pela arquidiocese determinando a suspensão do ministério sacerdotal do padre Bartolomeu pelo período de três anos nada mais é do que apenas manter a punição que já havia sido estipulada. Dudus soube deste decreto há algumas semanas.
No documento obtido pela IstoÉ, assinado em 11 de março de 2020, o argumento da Igreja Católica é o de que “delitos de abuso sexual contra menor de idade, nem delito perpetrado com ameaças ou violência” não foram comprovados contra o padre. “Foram comprovados comportamentos e atos de cunho homossexual e de infidelidade à promessa do celibato, com escândalo, e não condizentes com a dignidade do sacerdócio”, diz Dom Odilo Scherer no documento.
Na visão da Igreja Católica, comportamentos de cunho homossexual “com escândalo”, não são “condizentes com a dignidade do sacerdócio”, e são passíveis de punição. Segundo a revista, o decreto determinou que o padre Bartolomeu, também afastado da Associação para o Bem-estar do Idoso, terá de passar por acompanhamento psicológico e de um sacerdote, com pessoas da confiança da Arquidiocese.
No decreto citado pela revista, o padre Bartolomeu teria “agido de maneira irregular em relação às normas administrativas da Diocese”. O documento determina ainda que Bartolomeu “seja recolhido, ao menos por um ano, em uma instituição de ajuda a sacerdotes, a ser indicada pela Arquidiocese de São Paulo”.
De acordo com a matéria, às oito perguntas enviadas pela IstoÉ, por meio de aplicativo de mensagens, Dom Odilo deu a mesma resposta: “A acusação apresentada está nas mãos da Justiça e o processo está coberto pelo segredo decretado pelo Juiz. Portanto não cabem declarações".
À reportagem, Elissandro Siqueira revelou que ainda sofre consequências por causa destes atos de violência que teriam sido cometidos pelo padre Bartolomeu. E fez pesadas acusações a ele, ressaltando que todas as relações só ocorreram por causa de ameaças que sofria.
“Ele ficava me ameaçando de morte. Ele tinha uma arma, ele me ameaçava. Ele escondia a arma no guarda-roupa dele, e falava que se eu dissesse alguma coisa ele ia matar a minha família. Eu tinha medo. Eu nunca quis estar com ele”, disse.
Siqueira não esconde sua revolta, no último trecho da reportagem. “Espero que justiça seja feita. É difícil, já tentei me matar, fico vendo que nada é feito. Fui abusado, isso aconteceu comigo. As pessoas acham que é pelo dinheiro, mas eu quero que a justiça seja feita”, completa.
Uma nota publicada pela Arquidiocese de São Paulo datada de 19 de setembro de 2019, mas publicada em 20 de abril de 2019, menciona o processo trabalista contra o padre Bartolomeu, dizendo que foi julgada improcedente em primeira instância. "Do ponto de vista canônico, tão logo tomou conhecimento da denúncia, o arcebisto metropolitano de São Paulo determinou a abertura de uma criteriosa investigação, enquanto afastava o padre de seu ofício, não lhe conferindo nenhum outro encargo na Arquidiocese".
Questionado pelo R7, a Arquidiocese de São Paulo disse que "não tem declarações a dar, pois as acusações contra o padre Bartolomeu já foram investigadas pela Arquidiocese e foram objeto de um processo canônico". Disse ainda que "atualmente está em curso um processo civil e os autos estão cobertos pelo segredo de Justiça, decretado pelo juiz".