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Paralisação da Linha 12-Safira reacende debate sobre uso de trilhos para passageiros e cargas

Especialistas defendem manutenção em menor intervalo de tempo. Segregação do transporte sobre trilhos levaria de 20 a 30 anos

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

CPTM e MRS Logística dizem que investigação apontará motivos que levaram ao descarrilamento
CPTM e MRS Logística dizem que investigação apontará motivos que levaram ao descarrilamento CPTM e MRS Logística dizem que investigação apontará motivos que levaram ao descarrilamento

O descarrilamento de parte de uma composição na Linha 12-Safira da CPTM, próximo à estação do Tatuapé, na zona leste de São Paulo reacendeu o debate sobre o compartilhamento dos trilhos para passageiros e cargas. Um trem de carga da MRS Logística descarrilou, na madrugada do sábado (3), na linha férrea por onde passavam também trens da Linha 12-Safira, entre as estações Tatuapé e Engenheiro Goulart.

O acidente afetou três linhas e provocou caos durante o horário de pico da segunda-feira (5). “É um problema muito grave, já que toda a região metropolitana tem trechos em que os mesmos trilhos transportam pessoas e cargas”, afirma Ciro Biderman, diretor do FGV Cidades e ex-chefe de gabinete da SPTrans.

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O transporte de carga e de passageiros tem características, segundo o pesquisador, muito distintas entre si. “O trem de passageiro é o oposto do de carga. O primeiro é mais rápido, flexível, com trens mais curtos e menos vagões, alta velocidade nas áreas urbanas e mais pontos de parada”, explica.

“Já o trem de carga tem um tempo mais lento, com cerca de 120 a 200 vagões longos.” O compartilhamento de trilhos impede, segundo Biderman, que a manutenção do sistema seja feita de forma adequada. “Essas operações deveriam ocorrer no horário de parada do transporte de carga, quando acontece o transporte de pessoas. Por isso, os horários de manutenção são reduzidos.”

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Para Biderman, os transportes de carga e passageiros deveriam ser desvinculados, com trilhos disponíveis para as duas funções. A CPTM e a empresa de transporte de carga, a MRS Logística, informaram que uma investigação detalhada acontece para que sejam apontados os fatores que ocasionaram o descarrilamento.

Entretanto, o professor afirma que um incidente como esse pode ter sido causado por uma falha única ou falhas simultâneas. “Pode ser pela falta de manutenção, porque o desvio não estava em perfeito estado, por alguma intempérie causada pela chuva ou até mesmo a constante falta de manutenção.”

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Por meio de nota, a MRS Logística informou que “possui criteriosos procedimentos operacionais, documentados em regulamentos técnicos internos”. A empresa disse ainda que os vagões e as locomotivas que formavam a composição são homologados pela CPTM, que é a administradora do trecho e recebe um pagamento da MRS pelo direito à passagem.

Segundo o especialista o compartilhamento dos trilhos é um dos fatores que impedem a CPTM de alcançar mais eficiência no transporte de passageiros e ter um desempenho semelhante ao do Metrô. “A composição de passageiros precisa de muito mais rapidez sobre os trilhos que, ao serem divididos, não conseguem alcançar a mesma eficiência que o Metrô”, explica.

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O engenheiro de tráfego de transportes, Horácio Augusto Figueira, explica que as ferrovias foram construídas inicialmente somente para o transporte de cargas. Depois, explica ele, com o desenvolvimento dos povoados, o transporte de passageiros sobre trilhos começou a se desenvolver. “Mas não foram pensadas rotas alternativas para o transporte de cargas”, diz.

“Houve um endeusamento dos automóveis e um investimento em rodovias.” O consultor em segurança do trânsito, que tem mestrado em engenharia de transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, afirma que não houve nem melhoria, tampouco a ampliação do transporte ferroviário. “O sistema foi se degradando”, ressalta.

A melhoria desse sistema necessita, segundo ele, de um plano de ação de 20 ou 30 anos. Enquanto a separação completa dos trilhos para passageiros e cargas não ocorre, as empresas e governos responsáveis pela administração da via e do transporte devem rever os planos de manutenção. “É preciso saber se o material rodante é antigo, se possui boa manutenção ou não. Deve ser feita a devida inspeção. As empresas precisam de equipes de manutenção e engenharia para fazer a revisão com frequência e a manutenção preventiva”, alerta.

Em casos como o que ocorreu com a Linha 12-Safira, a CPTM deveria, segundo Biderman, da FGV, recorrer a pelo menos o dobro de ônibus do Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência). Foram disponibilizados 80 coletivos. De acordo com o pesquisador, a CPTM deveria bancar um número muito maior para garantir que não houvesse caos nem lotação nas plataformas.

De acordo com a Associação Nacional de Transportes Ferroviários, em 2021, as empresas que administram o transporte de cargas sobre trilhos do país atingiram o melhor índice da série histórica, chegando a 10,07. Em 1997, por exemplo, o índice era de 75,46. Segundo a associação, foi expressiva a redução do número de acidentes nos últimos 25 anos de concessão.

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