PM que matou líder da Dragões da Real tem promoções até aposentar
Em dezembro de 2008, Nilton César levou um tiro na cabeça antes do jogo São Paulo x Goiás, no DF, que deu o último título nacional do clube paulista
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Na tarde de 7 de dezembro de 2008, um domingo, o presidente de honra da torcida Dragões da Real, Nilton César de Jesus, de 26 anos, foi baleado em frente ao Estádio Bezerrão, no Gama (DF), antes do jogo do último título nacional de seu time, o São Paulo. Ele foi vítima de um tiro na cabeça, após a arma do policial militar José Luiz Carvalho Barreto disparou em uma tentativa de coronhada.
César chegou a ficar internado no Hospital de Base de Brasília, mas morreu quatro dias depois, em 11 de dezembro. Uma década depois, a torcida segue as homenagens ao presidente, com músicas cantadas todos os jogos, faixas, bandeiras e camisetas com rosto e nome dele. Já o PM, aposentado desde fevereiro de 2017, passou por duas promoções e sofreu punição de 30 dias em prisão disciplinar.
Especial Torcidas Organizadas: A Festa
Na época, imagens exclusivas da RecordTV mostraram o momento da confusão ao lado de fora do estádio pouco antes do início da partida entre São Paulo e Goiás.
César estava com uma regata da Dragões, uma blusa da torcida amarrada na cintura, bermuda branca e boné preto. Com uma postura calma, ele acompanha torcedores são-paulinos que ainda não haviam entrado no estádio.
A correria começou em um princípio de confusão possivelmente entre torcedores do São Paulo e do Goiás. As imagens mostram o momento em que César corre atrás de um homem, que joga uma pedra. Em seguida, o PM Barreto se aproxima do presidente da Dragões.
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Com a chegada do policial, os são-paulinos se dispersam. César, ainda calmo, seguiu andando sozinho em direção a uma parede. Quando ele vira e percebe que o policial está próximo, ergue os braços. Barreto faz o movimento para dar uma coronhada e a arma dispara, acertando a cabeça do torcedor.
Especial Torcidas Organizadas: A Voz
A partir daquele momento, o título de campeão brasileiro para o São Paulo virou segundo plano para milhares de são-paulinos que estavam no local. As lágrimas tomaram conta de torcedores que viram a ação e, rapidamente, a informação foi levada para dentro do estádio.
“Eu estava com ele até três minutos antes de acontecer, ele mesmo que falou para eu entrar para ajudar a fazer a festa que o São Paulo ia ser campeão. Passaram uns 10 minutos e um amigo entrou chorando, dizendo que ele [César] estava morto”, diz o diretor da Dragões da Real Walace Alves do Nascimento, que estava no estádio.
Na época do crime, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, foi instaurado um conselho disciplinar para apurar a conduta do policial. A conclusão do conselho foi de que Barreto deveria ser mantido na corporação após uma punição de 30 dias de prisão disciplinar.
Especial Torcidas Organizadas: A Guerra
Já na esfera comum, a Justiça considerou que o disparo não foi proposital. Por isso, em vez de ir para o Tribunal do Júri, o PM foi julgado pela Justiça Militar, que o condenou por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e lesão corporal culposa, sem expulsá-lo da corporação.
Quando matou César, Barreto era terceiro-sargento da Polícia Militar do Distrito Federal. Dois anos depois, em 2010, o policial foi promovido à segundo-sargento. No ano seguinte, nova promoção: assumiu o posto de primeiro-sargento da PM. Patente que permaneceu até se aposentar seis anos depois.
Legado na arquibancada do Morumbi
César morava com a mãe, Aguinaldina de Jesus, na Estrada de Itapecerica (zona sul de São Paulo), e deixou um filho que tinha, na época de sua morte, um ano de idade. Apaixonado pelo São Paulo, o quarto dele era tomado por adesivos da Dragões da Real e roupas da torcida e do clube.
Aguinaldina sabia quais eram as roupas que ele mais gostava de usar. Tinha, inclusive, peças repetidas do mesmo modelo de camiseta vermelha com mangas brancas da Dragões da Real. A vida dele era praticamente toda dedicada ao clube. Desde os 12 anos, acompanhava todos os jogos do São Paulo em qualquer parte do mundo.
Especial Torcidas Organizadas: O Diálogo
No dia em que foi morto, César estava entre as centenas de torcedores organizados do São Paulo que passaram 15 horas no ônibus para acompanhar a partida final do clube. “Lembro que eu não ia para Brasília e o ele que me convenceu, por que falou que a gente tinha ido o campeonato todo tinha que ir no jogo da festa também”, diz Walace.
Até hoje, de certa forma, César sempre está presente nos jogos do São Paulo: faixas e bandeiras são levadas nas partidas mais importantes e duas músicas com o nome dele são cantadas em todos os jogos.
No dia 2 de setembro deste ano, no jogo contra o Fluminense, pela 22º rodada do Campeonato Brasileiro, a presença de César foi ainda mais forte. O filho do torcedor, Júlio César, 11 anos, que mora com a mãe no Capão Redondo (zona sul da capital), assistiu pela primeira vez um jogo do São Paulo no estádio.