PMs de ação em Paraisópolis podem voltar às ruas a qualquer momento
Medida adotada pela cúpula da corporação não tem caráter punitivo e visa preservar PMs de possíveis confrontos com a comunidade na zona sul de SP
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7
Os seis policiais militares da Rocam envolvidos na operação realizada em um baile funk na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, que terminou com nove jovens mortos, na madrugada do domingo (1), não estão oficialmente afastados das atividades na corporação.
Segundo a explicação do comando da PM, todos foram preservados pela cúpula, medida que difere daquela adotada como praxe em situações nas quais policiais têm a conduta investigada por suspeita de falhas ou abuso de autoridade.
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Neste caso, os policiais militares tiveram os horário mantidos, receberam novos armas — o equipamento utilizado no dia do confronto foi recolhido para perícia — e serão utilizados em trabalhos internos para evitar possíveis tumultos em caso de contato com a comunidade onde atuam.
Além disso, o recolhimento dos PMs aos serviços administrativos não os obriga a cumprir o prazo do inquérito policial instaurado no 89º DP (Portal do Morumbi) que apura as mortes das pessoas que participavam da festa conhecida como Baile da 17.
O comandante da Polícia Militar paulista, Marcelo Vieira Salles, havia chamado a atenção para a necessidade de preservar os envolvidos na operação até que as denúncias de abuso sejam apuradas em investigações da Polícia Civil e da Corregedoria da PM.
"A ideia de afastamento é de suspeição de ter cometido um crime. Eles não cometeram o crime de homicídio de nove pessoas. As mortes foram causadas do pisoteamento e não dos policiais. Está esclarecido que não mataram. O fato investigado por inquérito policial é se por ventura cometeram transgressões", avaliou o coronel da reserva da PM e especialista em segurança pública José Vicente da Silva.
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O analista frisou que não houve disparos com arma de fogo, ato de selvageria, violência ou desonestidade em questionamento e a ideia é preservar os PMs de uma situação traumática para quem estava no cumprimento do dever. "Eles estão disponíveis no quartel e podem ser acionados em caso de emergência", complementou.
Narrativa incerta
O coronel José Vicente da Silva questionou a origem das imagens veiculadas em redes sociais e órgãos de imprensa que relacionam a operação realizada pela PM na festa de Paraisópolis às mortes das vítimas e espancamentos de outros participantes do baile.
"Pegaram informações desconexas e montaram uma narrativa. Só que era uma lógica forçada. Houve mortes. Houve ação policial de jogar bomba. Depois, aparece uma imagem de policiais em um beco. As pessoas complementam essa suposta lógica costurando eventos que não têm relação. Tudo isso, os personagens, a sequência correta, os locais, vai ser objeto da investigação", ponderou o coronel José Vicente da Silva.
Fiscalização dos pancadões
O antropólogo e especialista em políticas públicas de segurança pública Paulo Storani, ex-comandante do BOPE, batalhão de elite da PM do Rio de Janeiro, vê a organização do pancadão, como um fator determinante ao se avaliar a atuação dos policiais militares.
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Para ele, é necessário salientar, antes de fazer uma revisão dos procedimentos operacionais da corporação. que os policiais em questão ficaram expostos em um local de grande concentração de pessoas sem o devido controle por parte de autoridades municipais e órgãos de fiscalização.
"Espero que, deste problema, surjam alguns questionamentos. O próprio baile funk tem autorização? As pessoas gostam disso? Vamos discutir isso e para o que o baile funk é usado: diversão, dança, cultura, uso e abuso de drogas ilícitas. Crimes que acontecem lá? Tem que discutir isso primeiro. Se não tivesse o baile funk, não teria acontecido isso", comentou Storani, que vê semelhanças entre a realidade dos pancadões de São Paulo e do Rio de Janeiro.