Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Polícia de SP só investiga um em cada dez roubos de carga no Estado

Dados da lei de acesso a informação apontam mais de 20 mil casos não foram investigados nos últimos três anos

São Paulo|Marcos Guedes, da RecordTV

O prejuízo dos roubos chegou a R$ 1,5 bilhão em 2017
O prejuízo dos roubos chegou a R$ 1,5 bilhão em 2017 O prejuízo dos roubos chegou a R$ 1,5 bilhão em 2017

A Polícia Civil de São Paulo só abriu um inquérito para cada dez ocorrências de roubo de cargas no Estado entre janeiro de 2016 e março de 2018. Pouco mais de 20 mil casos registrados neste período não foram sequer investigados, já que não foi instaurado inquérito policial.

A abertura oficial da investigação também não é garantia de esclarecimento. Um terço dos 1.851 inquéritos policiais ainda não foi concluído e encaminhado à Justiça. É o que apontam os dados Secretaria de Segurança Pública, obtidos com exclusividade pelo portal R7, por meio da lei de acesso à informação.

“Aquilo que é levado – mesmo que a autoria seja desconhecida – precisa ter inquérito formalmente instaurado pelos delegados. Uma vez instaurados, o destino dos inquéritos é o Poder Judiciário e o Ministério Público”, explica o promotor de Justiça José Reinaldo Guimarães Carneiro.

Policiais civis consultados pela reportagem, sob a condição de anonimato, afirmaram que a abertura de inquérito é obrigação legal, já que houve crime praticado por quadrilhas quase sempre com violência e prejuízos milionários. Além disso, a abertura de inquérito também pode coibir eventuais golpes contra seguradoras e outros crimes.

Publicidade

Alto risco

Somente no ano passado, foram registradas 10.584 ocorrências de roubo de cargas no Estado de São Paulo, representando aumento de 6% em relação a 2016. O número representa pouco mais de um caso por hora. Os produtos mais visados pelos ladrões são alimentos, cigarros, eletrônicos e remédios.

Publicidade

No Brasil, o prejuízo causado pelas quadrilhas chegou a R$ 1,5 bilhão em 2017, segundo a NTC & Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística). “O roubo de carga é o que causa mais estragos ao país” analisa o Coronel Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da entidade.

As estradas brasileiras estão entre as mais perigosas do mundo para o transporte de carga, ficando em 8ª lugar no ranking das mais arriscadas, atrás apenas de países em conflito como o Afeganistão e a Síria, segundo estudo da Joint Cargo Commitee, um comitê formado por especialistas em avaliação de risco das grandes seguradoras de Londres (Inglaterra). 

Publicidade

O levantamento cita os trechos das estradas brasileiras que apresentam as maiores incidências de crimes: rodovias Presidente Dutra, na região metropolitana do Rio de Janeiro e Régis Bittencourt, na região do Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

Estudo realizado em 2017 pelo economista Riley Rodrigues de Oliveira, diretor de uma consultoria de inteligência estratégica, aponta que os números de roubo de cargas no Brasil são 30 vezes maiores que nos Estados Unidos e que todos os casos registrados em 21 países no continente Europeu não chegam a 10% do que se rouba no Brasil.

A facilidade com que os produtos roubados são colocados no mercado e as baixas penas para os receptadores alimentam a indústria do roubo de cargas no país. “Há comerciantes que encomendam certo tipo de cargas das quadrilhas. E também os que vão até as quadrilhas para procurar qual a oferta do dia”, explica Oliveira.

Para o promotor de Justiça José Reinaldo Guimarães Carneiro, o mercado das receptações é o que alimenta diretamente o roubo de carga. “A receptação, em si, é considerada como crime subsidiário, tem pena mínima de apenas um ano e, se o agente for primário, será imediatamente beneficiado com suspensão do processo”, afirma.

Outro Lado

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo enviou a seguinte nota:

A SSP vem adotando diversas medidas para coibir os crimes de roubo de carga em São Paulo. Atualmente existem 68 núcleos distribuídos pelo Estado especializados no combate a esse tipo de crime. O trabalho investigativo conta também com a atuação do PROCARGA, que aglutina informações procedentes da iniciativa privada e das polícias, como também dos dados estatísticos e do intercâmbio com unidades de outros estados, auxiliando no planejamento e execução de ações especificamente estruturadas para a prevenção e repressão a este tipo de crime. Equipes do DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais) nos últimos três anos prenderam em flagrante 3.138 suspeitos de envolvimento em roubos de carga.

É importante destacar que a Polícia Militar Rodoviária emprega o policiamento Tático Ostensivo Rodoviário com foco na prevenção e repreensão dos crimes, realizando operações “Saturação”, abordagens e fiscalizações a caminhões de transporte de carga e de veículos de médio e grande porte ao longo das rodovias.

Sobre a quantidade de inquéritos instaurados, a Polícia Civil explica que um único inquérito policial pode investigar mais de um crime ou ação, especialmente nas ações mais complexas ou praticadas por organizações criminosas, como ocorre em muitos casos de roubo de carga, por exemplo. Em 2018, com a forte atuação das polícias nos primeiros quatro meses do ano houve uma redução de 14% dos casos em comparação com o mesmo período do ano passado.

Se somado às reduções obtidas a partir do segundo semestre do ano passado, resulta em oito meses consecutivos de queda neste tipo de crime (setembro de 2017 a abril de 2018) e em uma redução de mais de 1.000 roubos de carga evitados no período. Em maio foi realizada uma operação chamada Força Metropolitana Integrada, que foram empregados 2.000 policiais e agentes fiscais em uma ação feita na Grande SP. Órgãos como EMTU, prefeituras municipais, Polícia Rodoviária Federal participaram com objetivo de coibir os roubos de carga. Foram abordadas 3.425 pessoas, aproximadamente 3.178 veículos vistoriados em um total de 66 pontos de bloqueio.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.