Prédio da Cinemateca é interditado após incêndio, diz prefeitura de SP
A administração municipal aguarda realização de perícia para saber a causa do incêndio e a dimensão dos estragos no imóvel
São Paulo|Mariana Rosetti e Rafael Custódio, da Agência Record
O imóvel da Cinemateca Brasileira foi interditado após o incêndio na noite da quinta-feira (29), informou a Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Lapa. A administração municipal disse, por meio de nota que "buscou inúmeras vezes soluções para a Cinemateca Brasileira." A Prefeitura aguarda realização de perícia no local para saber a causa do incêndio e a dimensão dos estragos.
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Desde 2019, Prefeitura e Spcine afirmam articular com diversas instituições e a Câmara Municipal ações de apoio emergenciais para proteger o acervo e o prédio da Cinemateca Brasileira na Vila Mariana, equipamento público tombado cedido ao Governo Federal.
Em 2020, foi obtida a doação de um gerador elétrico, uma equipe da Guarda Civil Municipal foi enviada para fazer a guarda dos dois edifícios da Cinemateca (Vila Mariana e Vila Leopoldina). A prefeitura informou ainda que houve a mediação, junto à Enel, para abater a dívida de energia elétrica da instituição.
Além disso, houve uma tentativa de captação de emendas parlamentares para realização de projetos emergenciais na instituição com 10 vereadores municipais. Foram obtidos R$530 mil reais de emendas. Porém, o recurso reservado desde 2020 nunca pôde ser utilizado, em decorrência da falta de reconhecimento, pelo Governo Federal, de uma instituição que tivesse a delegação da responsabilidade de gestão do equipamento. Os recursos estão até hoje em uma conta específica da Spcine com este objetivo.
Segundo a prefeitura, o Governo Federal se mostrou resistente a tentativas de diálogo. "Seu posicionamento, oficial e na imprensa, dava conta de contratos emergenciais insuficientes para a correta preservação do acervo filmográfico e documental. É de público saber que a Cinemateca requer cuidados especiais e mão de obra especializada", disse a prefeitura.
O ex-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, em junho de 2020, manifestou disposição em resolver o imbróglio jurídico da Cinemateca Brasileira. Em Brasília, ele conversou com o general Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Secretaria de Governo, e afirmou que a prefeitura estaria disposta a assumir a gestão da Cinemateca.
Em 9 de julho de 2020, a Secretaria e a Spcine disseram que solicitaram uma reunião sobre Municipalização da Cinemateca, mas não houve resposta. Em 24 de agosto de 2020, a Secretaria Municipal de Licenciamento também solicitou ao Governo Federal informações sobre a manutenção do espaço.
Anualmente, a Secretaria Municipal de Cultura afirmou que repassa uma subvenção de cerca de R$500 mil para a entidade Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC), que desenvolve ações de apoio à Cinemateca Brasileira.
Incêndio
Após quase seis horas de trabalho, o Corpo de Bombeiros conseguiu extinguir incêndio que atingiu o galpão da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, às 18h desta quinta-feira (29).
No auge da ocorrência, 18 viaturas com cerca de 70 agentes atuaram no combate às chamas, que foram extintas por volta de 00h. O galpão possui 10 mil m², sendo que 25% foi tomado pelo fogo, de acordo com o diretor de Defesa Civil da Lapa Robson da Silva Bertolotto.
Bertolotto afirmou que o incêndio atingiu prateleiras e outros materiais, localizados na parte superior do depósito, mas a estrutura não foi atingida. O Corpo de Bombeiros usou a água em 50% do terreno.
Após vistoria da Defesa Civil, foi constatado que o teto ruiu e o calor das chamas abalou o prédio, que foi totalmente interditado. Uma equipe do Corpo de Bombeiros permaneceu no edifício durante a madrugada monitorando o surgimento de possíveis novos focos de fogo.
A Polícia Federal, que assumiu as investigações, acionou um perito engenheiro especializado de Brasília para que ele realize a perícia do local e constate o que ocasionou o fogo. Ninguém ficou ferido na ocorrência.
O Corpo de Bombeiros informou que havia uma equipe realizando a manutenção do ar condicionado. Porém, ainda de acordo com Bertolotto, até o momento não é possível dizer que essa é a causa do incêndio, mas é um indício.
Em uma rede social, o governador de São Paulo, João Doria, classificou o incêndio como "um crime com a cultura do país" e afirmou que o "desprezo pela arte e pela memória do Brasil dá nisso: a morte gradual da cultura nacional".