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Premiada pela Fifa assume pasta da Pessoa com Deficiência em SP

Silvia Grecco, mãe de jovem com autismo e deficiência visual, quer reduzir efeitos da pandemia: "sem coitadismo"

São Paulo|Do R7

Silvia Grecco narra jogos de futebol para o filho com deficiência visual
Silvia Grecco narra jogos de futebol para o filho com deficiência visual

Nas noites que antecederam esta sexta-feira (1º) de janeiro, Silvia Prin Grecco mal conseguia pegar no sono de tanta ansiedade. Nos últimos dias de 2020, ela foi indicada por Bruno Covas (PSDB) para chefiar a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência na capital na nova gestão do prefeito de São Paulo.

Silvia ficou famosa no mundo em 2019 ao ganhar o prêmio da Fifa de "melhor torcedora do mundo" por acompanhar o filho Nickollas, que tem deficiência visual e autismo em grau leve, aos jogos do Palmeiras. Nas partidas, ela fazia narrações para Nickollas saber o que acontecia no jogo.

Silvia afirma ter aceitado o convite do prefeito com a responsabilidade de quem batalha pela causa há pelo menos 14 anos. “Será um ano de muito trabalho”, disse ao R7. “As pessoas com deficiência precisam de oportunidades em todos os sentidos, sobretudo, em termos de acolhimento e empregabilidade. Precisam ser incluídos verdadeiramente, sem coitadismo e olhar de piedade.”

Filha do ex-prefeito de Mauá, Edgard Grecco, Silvia seguiu ajudando o filho em tempos de pandemia. Para que o filho pudesse acompanhar as aulas de geografia, Silvia utilizou a estratégia de relacionar os estados ao que Nickollas mais gosta, os times de futebol. “Foram muitos vídeos e livros de futebol que narrei para ele.”


Na vida pública, Silvia comandava a Secretaria de Pessoa com Deficiência da Prefeitura de Santo André. “Assumi em março, bem no meio da pandemia. Comecei do zero, com uma equipe muito reduzida”, lembra. No dia 3 de dezembro, Silvia assinou um decreto instituindo o Plano Municipal de Ações Articuladas para as Pessoas com Deficiência, também chamado de Plano Santo André: a Cidade para Incluir. O documento busca instituir políticas públicas de saúde, apoio psicológico, arquitetura e urbanismo e acessibilidade para essa parcela da população.

“Apesar de a dificuldade para locomoção ser uma dificuldade frequente, precisamos olhar também para outros aspectos”, diz Silvia. “Educação inclusiva, acolhimento, orientação, informações sobre direitos são muito importantes. Senti essa necessidade enquanto conversava com familiares de pessoas com deficiência”, diz. Em um ano de pandemia, aspectos como esses se tornam ainda mais prementes. “Muitas mães tiveram que interromper o tratamento dos filhos nesse ano. Muitas não tiveram condições de dar continuidade, foi um ano pesado.”


Pandemia e os desafios da nova gestão

Em um ano marcado pela pandemia, Silvia relata que filhos com deficiência exigem responsabilidade dobrada. “É diferente de acompanhar uma criança sem deficiência durante a lição de casa. Existem modelos diferenciados de educação”, explica. “Por isso, é preciso dar condições para o atendimento cotidiano e tratar os impactos psicológicos da pandemia.” Silvia explica que, no caso de crianças diagnosticadas com autismo uma das dificuldades é fazer com que elas permaneçam de máscaras o tempo todo. “Eles começam a reclamar e a ficar irritados. É muito difícil, se houvesse o apoio psicológico seria um pouco mais fácil”, diz.

Escolhida por Bruno Covas, Silvia Grecco assume pasta em SP
Escolhida por Bruno Covas, Silvia Grecco assume pasta em SP

Antes de ser convidada por Bruno Covas para assumir a secretaria, Silvia atuou por quatro anos na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad e dois anos na administração de João Doria (PSDB). “Levei um susto, achei que seria um convite para um café, na véspera de Natal, e ganhei um presente, uma conversa muito franca e aberta”, disse. “Deu para sentir a vontade e a carta branca para trabalhar. Mal consigo dormir imaginando o que eu posso fazer para um público tão grande.”


De acordo com dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE, vivem no estado de São Paulo 3 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que equivale a 7,29% de toda a população do estado. A maioria delas são pessoas com deficiência visual (40%) e 28,79%, com deficiência motora. Pessoas com deficiência mental/intelectual e auditiva representam 16,72% e 14,49%, respectivamente.

Segundo os dados do Censo, na cidade de São Paulo existiam 810.080 pessoas com deficiência. Entre elas, a maioria com deficiência visual (345.478), depois auditiva (120.660), motora (216.393) e intelectual (127.549). Os números, porém, são de 2010 e Silvia afirma que quer atualizar os dados sobre pessoas com deficiência residentes na capital. “Não quero ficar no achismo. A partir desse levantamento, quero implantar projetos em locais onde há maior demanda”, afirmou. “Quero poder ouvir essa parcela da população e dar oportunidades em todos os sentidos, na cultura, lazer, emprego, educação, para que ocupem todos os espaços.”

Juntos nos estádios e em casa

Silva decidiu se tornar ativista pelas necessidades de pessoas com deficiência quando adotou o filho Nickollas. Desde então, passou a levá-lo a conhecidos festivais nacionais de música. “Sempre coloquei ele no mundo para fazer as coisas que gosta: música e futebol”, diz. Durante os jogos, é por meio da voz às vezes agitada, às vezes emotiva da mãe que Lucas enxerga os melhores e piores lances dos campos.

"Meu maior medo era não conseguir cuidar dele na pandemia", diz Silvia
"Meu maior medo era não conseguir cuidar dele na pandemia", diz Silvia

De repente, a pandemia impôs a Silvia e Nickollas o mesmo que às famílias de todo o mundo: o isolamento social. “Nós dois ficamos dentro de casa o tempo todo, da sala para o quarto e vice-versa”, diz Silvia. “Ele não aceitava as aulas onlines no início e tive que pensar em estratégias para deixar o conteúdo para atrativo. Depois fomos salvos pelas lives de música, ele começou a soltar a voz e a se divertir um pouco.” Mesmo assim, Silvia conta que a rotina não é simples. “Tive que controlar a alimentação por conta da ansiedade”, diz.

Assim como ocorreu com milhares de brasileiros com deficiência, Nickollas também teve todos os tratamentos de saúde interrompidos. “Ele fazia acompanhamento com terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e tudo parou”, diz Silvia. “Meu maior medo era alguma coisa acontecer comigo e eu não poder cuidar dele.” Por isso, na segunda-feira (4), quando chegar à Prefeitura de São Paulo para assumir a pasta, Silvia afirma ter assumido como meta na esfera pública a mesma conquista pessoal: fazer com que pessoas com deficiência ocupem todos os espaços.

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