Prisão de Cupertino seria 'alívio grande no peito', desabafa Isabela
Dois anos após a morte de Rafael Miguel, namorada do ator lida com sequelas do luto e associa o pai, autor do crime, a 'muita dor'
São Paulo|Cesar Sacheto, do R7
Há dois anos, Isabela Tibcherani, então com 18 anos, vivenciou uma tragédia familiar que mudaria a trajetória, os projetos e sonhos para a sua vida. Na noite de 9 de junho de 2019, ela se confrontou com o terrível assassinato do namorado, o ator Rafael Miguel, de 22 anos, e dos seus sogros, João Aloizio Miguel, de 52 anos, e Mirian Selma Silva Miguel, de 50 anos. A família foi morta a tiros dentro da casa da jovem, no bairro da Pedreira, na zona sul de São Paulo.
O autor da chacina foi o comerciante Paulo Cupertino, pai de Isabela, um homem apontado pela própria família como agressivo e que já havia proibido a relação entre os jovens, conforme a garota revelou anteriormente. Mas, a reação brutal do homem naquela noite de domingo, quando foi procurado por Rafael para conversar sobre o namoro, foi surpreendente.
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A garota revelou, em relato exclusivo ao R7, que se sente melhor do que há um ano, mas ainda sente muita dor, especialmente neste mês, um período que a toca mais de maneira mais impactante. Isabela diz que procurou dividir o processo para assimilar as perdas do namorado e da família dele, mas lamentou o fato de lidar com algumas sequelas por não ter "vivido o luto de maneira correta", muito pelo choque e pela necessidade de ser manter forte.
Há dois anos%2C não sei o que é felicidade real
"Quando virou a data do dia 8 de junho, o último dia que eu tive bons momentos com o Rafa, eu me vi em desespero. Um mix de sentimentos invadiu o meu ser e não consegui fazer nada além de chorar. Ainda dói, dói muito. A diferença é que, na maioria dos dias, deixo essa dor em um lugar de difícil acesso".
Paulo Cupertino fugiu, deixando para trás um rastro enorme de dor. O crime alterou destinos. E deixará sequelas incuráveis no futuro para Isabela, agora com 20 anos, que busca um caminho para reconstruir a própria vida, curar as feridas e seguir em frente.
"Tudo isso impactou a minha vida muito e principalmente na minha construção pessoal, no meu processo de amadurecimento e de reconhecimento como pessoa. Até hoje, às vezes, sinto certa dificuldade em me ver digna de ser feliz. Por isso, faço o acompanhamento psicológico. O trauma de tudo que foi visto e vivido, desde aquele dia, é muito mais intenso do que as pessoas imaginam. São sequelas que vou levar para vida", revelou.
Isabela deixa claro que o relacionamento entre ela, os demais familiares e Cupertino tinha fissuras antigas. A lembrança do homem a quem não mais considera como pai lhe causa apenas mais sofrimento. "Não sei se consigo falar sobre o Paulo. Achei que conseguiria, mas parece que, conforme o tempo passa, fica mais difícil, principalmente por ele ser, cada dia mais, uma pessoa que eu não conheço. Já era um estranho para mim, hoje é ainda mais. Assemelho a imagem dele com dor. Muita dor."
Ele me mudou desde que entrou na minha vida
Atualmente, Isabela diz sofrer pelas várias informações desencontradas sobre o paradeiro do criminoso. Passados dois anos, a Polícia Civil de São Paulo verificou 90 endereços, checou denúncias da passagem de Cupertino por 25 cidades paulistas, oito estados e ainda por um local na Argentina. Mais de 300 prováveis esconderijos foram investigados.
"Hoje, eu só acredito [na prisão] vendo. Já passamos por isso. [São] tantas mentiras, tantas especulações que fazem a gente sofrer. É até um pouco sádico ficar alimentando a esperança de pessoas que já sofrem tanto com o fato. Então, o dia que ele for preso, vai ser um alívio grande no peito", desabafou Isabela.
Entretanto, a jovem ressalta que nenhuma ação futura terá o efeito de reparar a perda das vidas de Rafael, João Aloizio e Miriam para as pessoas que os amavam. Ela também não esconde o incômodo pela lembrança da tragédia, o desconforto pelo interesse no assunto, especialmente em datas como esta. Mas acredita que a repercussão possa ser útil para encerrar o caso.
"Infelizmente, sabendo que estamos há dois anos aguardando por respostas, o pensamento que me conforta é que, se a justiça do homem falhou esse tempo todo, a de Deus não falhará. Mesmo sabendo que pensar nisso é simplesmente uma alternativa para preservar a minha saúde mental, porque o desejo real é ver ele [Cupertino] preso, para que não só eu, como todas as pessoas que os amavam (Rafael, Miriam e João), os familiares, amigos, possam ter a sensação de fechar esse ciclo. Talvez a justiça traga algum conforto para o coração", ponderou.
O futuro
Isabela Tibcherani procura não abrir muito os seus planos em relação ao seu futuro. Ela diz apenas que leva uma vida muito comum, diferentemente do que as pessoas acreditam. "Trabalho, tenho meus amigos, família e problemas, como todo mundo tem. Não tenho privilégio algum. Às vezes, se esquecem que sou uma jovem mulher de 20 anos, que tenho uma vida que vai além do que se sabe pela mídia e pelas redes sociais", contou.
Ao mesmo tempo que procura reconstruir alguns laços com a própria família (mãe e irmão), todos em processos individuais de recuperação psicológica, ela mantém a esperança de reconquistar a felicidade. Mas reafirma que sempre terá no coração a lembrança do amor que nutria por Rafael e que lhe foi brutalmente tirado.
"Não digo que estou à procura da mesma forma de felicidade, porque não quero basear o meu sucesso em outra pessoa, mas sim nas minhas conquistas pessoais, na melhora da minha vida e na da minha família, porque acho que é isso o que ele iria querer ver. [Ele iria querer] me ver bem, prosperando e seguindo em frente, de cabeça erguida. Tudo que ele me deu no tempo em que pudemos conviver e fazer a troca linda que fizemos, [vai] permanecer comigo, todos os dias. Ele me mudou desde o dia em que entrou na minha vida e mudou mais ainda porque levou um pedaço [meu] com ele, quando partiu."
Confira a íntegra da entrevista de Isabela Tibcherani ao R7:
R7 — Passados dois anos da morte do seu namorado e sogros, como você está psicologicamente?
Isabela — Bom, estou melhor do que há um ano, mas ainda sinto dor. Para mim, esse mês aperta diferente, toca em lugares que eu tomo toda cautela para me proteger, não perder o controle de algumas coisas que, hoje, requerem força e determinação. Quando virou a data do dia 8 de junho, o último dia que eu tive bons momentos com o Rafa, eu me vi em desespero. Um mix de sentimentos invadiu o meu ser e não consegui fazer nada além de chorar. Ainda dói, dói muito. A diferença é que, na maioria dos dias, deixo essa dor em um lugar de difícil acesso. Faço acompanhamento psicológico semanalmente e procuro seguir com a minha vida da melhor maneira possível. Mas tem dias mais complicados.
R7 — Como tem lidado com a morte do Rafael e administra as datas que marcaram o relacionamento do casal?
Isabela — Eu lidei com a partida dele e dos pais com processos. Posso dizer que hoje lido com as sequelas de não ter vivido o luto de maneira correta, muito pelo choque e pela minha necessidade de ser forte o tempo inteiro. Por mim e pelas pessoas que eu amo, quanto por tudo que vinha acontecendo, todo o caos, toda a turbulência que atingiu a minha vida na época e que me fez abdicar de sentir a minha dor da maneira que precisava ser sentida. Logo, dias como este, se tornam gatilhos fortes que acabam me invalidando em alguns aspectos, me abatem demais. Como se fosse a primeira vez.
R7 — O que tem feito para retomar a sua rotina? Se envolveu em outro relacionamento amoroso?
Isabela — Eu levo uma vida muito comum, diferentemente do que as pessoas acreditam. Trabalho, tenho meus amigos, família e problemas, como todo mundo tem. Não tenho privilégio algum. Às vezes, as se esquecem que sou uma jovem mulher de 20 anos, que tenho uma vida que vai além do que se sabe pela mídia e pelas redes sociais.
R7 — Como o crime impactou a sua vida?
Isabela — Tudo isso impactou a minha vida muito e principalmente na minha construção pessoal, no meu processo de amadurecimento e de reconhecimento como pessoa. Até hoje, às vezes, sinto certa dificuldade em me ver digna de ser feliz. Por isso, faço o acompanhamento psicológico. O trauma de tudo que foi visto e vivido, desde aquele dia, é muito mais intenso do que as pessoas imaginam. São sequelas que vou levar pra vida.
R7 — Depois de tudo o que ocorreu, o que pode falar sobre o relacionamento com o seu pai?
Isabela — Não sei se consigo falar sobre o Paulo. Achei que conseguiria, mas parece que, conforme o tempo passa, fica mais difícil, principalmente por ele ser, cada dia mais, uma pessoa que eu não conheço. Já era um estranho para mim, hoje é ainda mais. Assemelho a imagem dele com dor. Muita dor.
R7 — Como avalia o período em que Cupertino tem conseguido escapar da polícia?
Isabela — Infelizmente, sabendo que estamos há dois anos aguardando por respostas, o pensamento que me "conforta" é que, se a justiça do homem falhou esse tempo todo, a de Deus não falhará. Mesmo sabendo que pensar nisso é simplesmente uma alternativa para preservar a minha saúde mental, porque o desejo real é ver ele preso, para que não só eu, como todas as pessoas que os amavam (Rafael, Miriam e João), os familiares, amigos, possam ter a sensação de fechar esse ciclo. Talvez, a justiça traga algum conforto para o coração.
R7 — Que sentimento você projeta ao receber a notícia da prisão de Paulo Cupertino?
Isabela — Hoje, eu só acredito vendo. Já passamos por isso, tantas mentiras, tantas especulações que fazem a gente sofrer. É até um pouco sádico ficar alimentando a esperança de pessoas que já sofrem tanto com o fato. Então, o dia que ele for preso, vai ser um alívio grande no peito.
R7 — O que espera das autoridades em relação à morte do Rafael?
Isabela — Não se trata da morte do Rafael. Se trata da morte do Rafael, da Miriam, do João, da destruição de famílias, de traumas, de tantas, tantas coisas. Respeito, principalmente. Respeito pela vida humana, respeito pela história. Por tanto tempo, enquanto era válido, usaram disso pra se favorecer. Entrar em contato com as vítimas a cada ano que passar não vai trazer ninguém de volta e muito menos confortar de alguma forma, mas continuar as investigações de modo que cheguem no resultado esperado, isso sim, vai ser de grande valor.
R7 — Como está o relacionamento com o restante da sua família?
Isabela — O meu relacionamento com minha família (minha mãe e meu irmão) é o melhor que pode ser. Todos estamos passando por processos completamente individuais de recuperação, de reconstrução e reinserção na vida, como pessoas livres e dignas de felicidade. É difícil ter que lidar com esses fardos diariamente e não deixar com que afete o dia a dia, mas é um processo.
R7 — Quais os seus planos para o futuro? E como a lembrança do Rafael impactará na sua vida daqui por diante?
Isabela — Meus planos são sempre os mesmos: continuar vivendo e buscando reconquistar a minha felicidade. Há dois anos, não sei o que é a sensação de felicidade real, a felicidade que eu tinha quando estava ao lado do Rafael, a felicidade de poder amá-lo e ser amada me trouxe. Faz tempo. Não digo que estou à procura da mesma forma de felicidade, porque não quero basear o meu sucesso em outra pessoa, mas sim nas minhas conquistas pessoais, na melhora da minha vida e na da minha família, porque acho que é isso o que ele iria querer ver. [Ele iria querer] me ver bem, prosperando e seguindo em frente, de cabeça erguida. Tudo que ele me deu no tempo em que pudemos conviver e fazer a troca linda que fizemos, [vai] permanecer comigo, todos os dias. Ele me mudou desde o dia em que entrou na minha vida e mudou mais ainda porque levou um pedaço [meu] com ele, quando partiu.