Professor discute com aluno que defende agronegócio: 'Sou especialista por Harvard'
Estudante questionou fala da liderança indígena Sonia Guajajara durante palestra e foi humilhado pelo professor
São Paulo|Do R7
Uma discussão envolvendo um professor e um aluno em uma escola de alto padrão em São Paulo, gravada por outro estudante, viralizou nas redes sociais nesta terça-feira (5). O professor Messias Basques, da Escola Avenues, localizada na região do Morumbi, deu uma bronca no aluno afirmando que ele deveria respeitar o fato de o professor ser formado na Harvard.
Foi uma resposta considerada inapropriada pela escola a uma fala supostamente desrespeitosa do aluno para com a palestrante Sonia Guajajara, liderança indígena filiada ao PSOL, que foi convidada a falar na escola. O estudante defendeu o agronegócio brasileiro e sugeriu à palestrante que “melhorasse” em futuras apresentações.
Basques reagiu e iniciou uma discussão com o aluno. Ele afimou: “Respeite-me porque sou doutor em antropologia. Não tenho opinião, sou especialista por Harvard. Isso é ciência. No dia em que você quiser discutir conosco, traga seu diploma e sua opinião, fundamentada em ciência. Aí você discute com um especialista em Harvard, com um doutor em antropologia no Museu Nacional”. Ele destacou ainda a importância da liderança indígena convidada para a palestra. “E é uma mulher que é premiada no Brasil e no mundo não por quem tem opinião, mas por quem tem mérito”, disse.
As frases da palestrante não aparecem no áudio. As falas do aluno se deram em resposta à apresentação de Sonia Guajajara. “Eu acho que você se equivocou. Democracia é um modelo de governo. Tirar o que é de alguém não é. Isso é roubo de propriedade privada. Futuramente você poderia melhorar isso, na próxima.” Ele fez a sugestão novamente ao comentar o tema dos agrotóxicos.
“Você falou que os agrotóxicos estão destruindo a mata. Não sei se vocês sabem, mas no Brasil só podem ser utilizados três agrotóxicos. Partidos como o que você apoia não liberam os outros mais novos que não desmatam, impedindo o desenvolvimento da agricultura. Então, por favor, melhore”, disse.
O R7 não conseguiu contato com o professor para abordar o fato. Já a escola divulgou a carta que enviou aos pais para comentar a polêmica. "Durante o momento reservado a perguntas no evento da semana passada, um aluno discordou da Sra. Guajajara de maneira desrespeitosa. Em seguida, um professor corrigiu o aluno de uma maneira que também foi inapropriada", diz a direção da escola. Veja a nota na íntegra:
"Soubemos que houve algumas discussões e questionamentos após uma visita ao câmpus de Sonia Guajajara, que foi convidada como parte do Gender Equity Month (Mês da Equidade de Gênero) na Primary e Secondary Divisions. Com isso, gostaria de oferecer informações adicionais sobre o evento e o incidente ocorrido.
A apresentação da Sra. Guajajara foi aprovada pela nossa equipe porque acreditamos que, em nossos esforços para desenvolver futuros líderes globais, uma conversa com uma líder indígena complementa nossos estudos sobre pegada ambiental e aumenta a visibilidade de lideranças femininas.
Nos últimos três anos, nossos alunos tiveram múltiplas oportunidades de ouvir e interagir com uma variedade de palestrantes vindos de diversas origens e segmentos da nossa sociedade, como empresários, empreendedores, líderes não governamentais, entre outros. Os estudantes crescem em conhecimento e caráter quando são expostos à realidade da diferença. Valorizamos os muitos relacionamentos que cultivamos com líderes de pensamento fora da Avenues e sempre os compartilhamos em benefício da aprendizagem dos nossos alunos, incentivando um discurso saudável que adere aos valores da nossa comunidade: acolhimento, segurança e respeito.
Durante o momento reservado a perguntas no evento da semana passada, um aluno discordou da Sra. Guajajara de maneira desrespeitosa. Em seguida, um professor corrigiu o aluno de uma maneira que também foi inapropriada. Além disso, um aluno gravou a sessão sem autorização, e um trecho foi divulgado publicamente fora da nossa comunidade. Na Avenues, quando ocorre um conflito, trabalhamos diretamente com as partes envolvidas, de maneira reservada, para aprendermos juntos e nos respeitarmos. Infelizmente, essa questão veio a público de forma imprópria, e agora se torna necessário esclarecer os eventos."