Roubo em Guarulhos: entenda como suspeitos levaram 718,9 kg de ouro
Após funcionário que teria sido feito refém ter confessado suposta autoria em assalto, polícia investiga demais envolvidos em um dos maiores crimes do país
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
A 5ª Delegacia de Roubo a Bancos do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) quer chegar à autoria dos dez suspeitos de participação no roubo de 718,9 kg de ouro, avaliados em mais de R$ 123 milhões. O crime ocorreu na quinta-feira (25), por volta das 14h30, no Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos, o maior e mais movimentado do país.
Quarta-feira, 24: como tudo começou
8h – A abordagem ocorreu quando o funcionário do aeroporto, o segurança Peterson Patrício, de 33 anos, foi abordado com a mulher no veículo do casal. Ele a levava para o trabalho quando um homem o abordou e anunciou o sequestro. Os suspeitos teriam dito à Peterson que ele deveria levar o grupo até uma carga de ouro no aeroporto de Guarulhos e que eles já teriam a informação sobre a chegada do material. Nesse momento, um homem teria mantido Peterson refém e a mulher dele, seguido na ambulância (que a polícia tenta descobrir se é verdadeira) com os demais suspeitos.
Segundo a polícia, Peterson afirmou que chegou a pensar em ligar para a polícia, mas decidiu não avisar do sequestro porque teria ficado com medo dos homens.
16h - Durante o trajeto, os homens pediram que Peterson os encontrassem em um ponto da zona sul da cidade, na avenida Jacu Pêssego (sem especificar o local exato) onde encontrou dois homens armados. Do local, todos foram até a casa do segurança.
Na casa do segurança, estavam cinco pessoas: a sogra, o filho do casal, uma criança familiar dos vizinhos, o cunhado e a cunhada. Dois homens teriam passado a noite vigiando a família na condição de refém. Peterson disse à polícia que só teria saído de casa na manhã do dia seguinte.
Quinta-feira, 25: o dia do roubo
8h - Três carros fortes da transportadora de valores Brink's chegaram ao terminal de cargas do aeroporto de Guarulhos com 718,9 kg de ouro, divididos em 31 malotes, avaliados em mais de R$ 110 mil. O ouro tinha como destino Nova York, nos EUA, e Toronto, no Canadá.
Entre 11h e 13h - Funcionário do aeroporto há sete anos, o segurança Peterson teria chegado para trabalhar mais cedo do que o horário habitual, às 14h. Os pacotes de ouro foram tirados dos carros fortes e preparados para o embarque.
14h30 - Na área de carga, homens encapuzados chegaram ao terminal em duas viaturas falsas da Polícia Federal (adesivadas e sem placas) e disseram ao porteiro do galpão que tinham ido ao local para checar uma denúncia de tráfico de drogas. Na abordagem, eles se identificaram como policiais federais e deram ordens para o porteiro não avisar ninguém.
O que mostram as câmeras
As câmeras de segurança do aeroporto filmaram todos os momentos do roubo. A primeira imagem mostra Peterson no carro dos suspeitos. Ele e cinco homens cruzaram o galpão até chegar ao local em que estava a transportadora de ouro.
Peterson desceu da falsa viatura da polícia com homens armados e encapuzados. As imagens mostram que um dos operadores levou a carga até a caminhonete. Peterson colabora com a ação, levando os sacos menores até o veículo. Outros funcionários teriam sido obrigados a colaborar. A maior quantidade de ouro estava embalada em um grande volume, colocado na caminhonete com dificuldade. Finalizada a ação em aproximadamente 2 minutos e 30 segundos, Peterson deixou o local com os demais homens no veículo.
Do roubo à troca de veículos
Com os carros clonados da Polícia Federal, os homens seguiram para um depósito localizado na avenida São Miguel, na zona leste de São Paulo. As falsas viaturas foram abandonadas e trocadas por outros veículos, que também foram abandonados em um local ainda investigado pela polícia.
Peterson afirmou que foi liberado por volta das 15h. A família do segurança, funcionário do aeroporto, também teria sido liberada no mesmo horário. A mulher de Peterson teria sido solta somente às 18h, em um local próximo a um shopping, em Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo.
Sexta-feira, 26: o curso das investigações
A polícia de São Paulo colhe depoimentos do funcionário que, até então, teria sido feito refém e de seus familiares. O delegado-assistente da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos do Deic, João Carlos Miguel Hueb, afirmou que a Polícia Civil possui várias linhas de investigação, inclusive a eventual participação de organizações criminosas no roubo. Para a polícia, trata-se de um grupo bem organizado e este não seria o primeiro crime praticado pelos suspeitos.
Uma empresa de gestão de risco que presta serviço para um grupo de resseguradoras anunciou que irá pagar R$ 150 mil de recompensa para quem contribuir com a investigação para encontrar os suspeitos envolvidos no roubo milionário de carga de ouro.
Sábado, 27: de refém a suspeito
Em uma decisão judicial, a juíza Juíza Ana Carolina Miranda de Oliveira pediu a prisão temporária de Peterson Patrício. Segundo ela, a medida é necessária para dar prosseguimento regular e eficaz à investigação e evitar o desaparecimento do suspeito e a dissipação de provas.
Durante as investigações, Peterson refez, acompanhado da polícia, o trajeto desde sua abordagem até o momento em que se reencontrou com os homens do grupo durante a tarde da quarta-feira. No caminho da volta à delegacia, ele teria dito que falaria "a verdade sobre os fatos" e, na sequência, confessado a autoria do crime.
Peterson teria dito à polícia que forneceu informações privilegiadas sobre a carga roubada no aeroporto. O advogado do funcionário do aeroporto, porém, afirmou que ele estava muito confuso sobre os fatos e confirma a versão de que ele teria sido feito refém.
Domingo, 28: a prisão de mais suspeitos
Além de Peterson Patrício, mais dois homens foram presos após a investigação da polícia. O segundo é Peterson Brasil, morador na zona leste de São Paulo, que já possui condenação por roubo. Ele teria convidado o segurança do aeroporto para participar do roubo. Peterson Brasil seria, então, a ligação funcionário do aeroporto e um grupo criminoso.
O terceiro homem ouvido é o proprietário do galpão que teria sido usado pelo grupo para trocar as caminhonetes utilizadas. Ele foi ouvido e liberado. Mas um funcionário do estacionamento foi preso. Ele estava com munição de fuzil, possui passagem por homicídio e teria ajudado na logística do ouro.
Membro do Conselho Administrativo
Entre 2014 e 2016, Peterson foi eleito pelos colegas de trabalho membro do Conselho da Administração GRU Airport, empresa que coordena o aeroporto, para representar uma parte dos funcionários. O órgão é formado por altos executivos e membros da Infraero, que representam o governo federal.
O que diz o Aeroporto de Guarulhos
O R7 questionou a GRU Airport, concessionária responsável pela administração do Aeroporto de Guarulhos, sobre o histórico de Patrício enquanto funcionário e membro do Conselho e se ele tinha acesso a questões confidenciais da empresa. Em nota, a empresa disse que "cumpre todas as normas internacionais e práticas de segurança pertinentes à segurança aeroportuária".
A empresa afirmou que "todas as informações referentes ao episódio ocorrido no último dia 25, no Terminal de Cargas do Aeroporto, estão sendo repassadas à Polícia Civil, que está liderando as investigações".
Destino do ouro e outros suspeitos
A polícia continua as investigações com o objetivo de identificar os dez suspeitos de participar do roubo no aeroporto. Além disso, a polícia quer saber também qual o destino do ouro. O delegado Hueb, que atua no caso, disse que o ouro roubado é nacional e teria despertado interesse no grupo por ser facilmente repassado ao mercado. O ouro, porém, ainda não foi localizado.