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São Paulo registra uma média de 23 desaparecidos a cada dia

O Portal R7 inicia nesta segunda-feira uma série com a publicação de casos de desaparecidos para tentar ajudar na localização dessas pessoas

São Paulo|Plínio Aguiar, do R7


Cleberton Felipe de Souza Gonçalves, desaparecido desde 20 de junho
Cleberton Felipe de Souza Gonçalves, desaparecido desde 20 de junho

O desaparecimento de um familiar provoca sentimentos piores até mesmo do que a morte. A definição é de Ivanise Esperidião da Silva Santos, que tem uma filha desaparecida desde 1995 e ajudou a criar a Associação Mães da Sé, que auxilia famílias nesta situação.

“Quando você enterra um filho, você vive o luto. Nós, no entanto, não enterramos. Nós vivemos a dor da incerteza. Não sabemos o que aconteceu com eles e isso é pior”, afirma Ivanise.

Em São Paulo, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) registrou no primeiro semestre deste ano 4.168 ocorrências de desaparecidos e 5.135 de encontro de pessoas, uma média de 23 desaparecimentos a cada dia.

Nos últimos anos, dados da SSP mostram uma queda no número de desaparecidos e também de encontros. Em 2015, 8.849 pessoas desapareceram, contra 26.612 encontros. No ano seguinte, 7.259 casos de desaparecimento contra 23.832 encontradas. Em 2017, 7.099 sumiços e 11.733 achados. No último ano, 6.839 ausentes e 12.776 reencontros.


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O Portal R7 inicia nesta segunda-feira uma série de reportagens em que expõe casos de desaparecidos, a fim de cumprir a função social do jornalismo e contribuir com a sociedade. Conheça, a seguir, o primeiro caso da série, o de Cleberton Felipe de Souza Gonçalves:


O jovem, de 24 anos, mora há dois anos em Santa Cruz das Palmeiras, município a 250 km da capital paulista. “Foi para trabalhar na lavoura”, conta a mãe Acione Souza Rabelo, que é estudante. “Ele estava tentando uma vida melhor, com mais oportunidade. Conseguiu o trabalho e estava bem”, diz.

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Acione conversava todos os dias com o filho. Em algumas vezes, o papo se desenrolava por uma chamada em vídeo, para “poder matar um pouco a saudade”. A rotina, no entanto, se encerrou no dia 20 de junho deste ano. “Ele me mandou um áudio dizendo que estava com febre e gripado, consequência do clima, mas que estava bem e perguntou como nós estávamos”, recorda sobre a última vez que conversou com o filho. “Depois nunca mais ouvi a voz dele. Nem o rostinho”, diz, com a voz embargada.

Moradora de São Miguel do Guamá, no Pará, Acione viu suas mãos ficarem atadas. “Eu não consegui ir até a cidade onde ele morava para procurá-lo, porque eu não tenho condição”, conta a estudante, que registrou boletim de ocorrência de desaparecimento de seu filho nas polícias paraense e paulista. Até agora, nenhuma resposta.

“O homem que deu trabalho para ele disse que a última vez em que viu o Cleberton ele estava com escoriações, braço quebrado e sobrancelha raspadas. Eu só quero ver o meu filho. Quero olhar para ele e ver se está bem. Estou em angustia eterna”, diz.

Quem tiver qualquer informação sobre o paradeiro de Cleberton Gonçalves deve entrar em contato com a associação Mães de Maio, pelo telefone (11) 3337-3331.

Caso note estranheza na situação de um familiar, saiba que não é preciso esperar 24 horas para realizar o boletim de desaparecimento - você pode ir imediatamente em qualquer delegacia.

A mãe que ajuda a achar os filhos dos outros

Ivanise fundou Mães da Sé
Ivanise fundou Mães da Sé

Diabetes, infartos, depressão, paradas cardíacas e stent são problemas que Ivanise Esperidião da Silva Santos conhece bem. Mais precisamente a partir do dia 23 de dezembro de 1995, data que viu, pela última vez, sua filha Fabiana.

À noite daquele dia, a adolescente saiu para ir a casa de uma amiga a fim de parabenizá-la pelo aniversário, a poucos metros de sua residência, em Pirituba, na zona norte de São Paulo. Não demorou muito para Ivanise tomar conhecimento de que sua pequena, aos 13 anos, não voltaria para casa. “Eu fiquei desesperada, porque a minha filha sempre teve bom comportamento. Ela tinha me dito que ia dar um abraço na colega e ia voltar para casa, mas nunca voltou”, lembra.

Desde então, as buscas, sob seu comando, continuam. Mas a força motora que a moveu, agora move milhares. Foi a partir do desaparecimento de sua filha que Ivanise se juntou a outras mães que também tiveram seus filhos desaparecidos para lutarem juntas contra o sumiço de entes queridos.

Desde 1995, as mães se reúnem, quinzenalmente, nas escadarias da Catedral da Sé, no centro da capital paulista – daí o nome, Mães da Sé, uma associação com mais de 5 mil mulheres que visa além da busca daquele que não está mais presente, mas também o ombro, amor e força. “Somos emanadas pela mesma dor, pelo mesmo objetivo, pela mesma resposta – seja ela positiva ou negativa”, resume.

A associação Mães da Sé encontrou, desde sua fundação, 4.952 pessoas que estavam na condição de desaparecidos. “Traz alegria, traz força e traz amor. É isso que nos move. Por isso, não desistimos”, diz.

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