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Seguranças e ambulantes vivem conflitos no metrô e CPTM

Vendedor ambulante há quase três décadas, Washington Índio acredita que se respeitar os seguranças, os vendedores conseguem trabalhar

São Paulo|Kaique Dalapola, do R7

Não é fácil perceber que nos vagões e estações de transportes sobre trilhos em São Paulo existe uma disputa, às vezes violenta, em curso. De um lado os vendedores ambulantes e, do outro, os seguranças. 

Os conflitos são muitas vezes disfarçados pela simpatia, improviso e criatividade na venda dos diversos produtos pelos ambulantes ou apresentações artísticas. Ao mesmo tempo, eles se organizam em grupos de WhatsApp ou enquanto se cruzam nas estações para trocar informações.

No fim de fevereiro, quatro seguranças da estação Santa Terezinha, da linha 8-Diamante, foram agredidos por cerca de 30 ambulantes. Dois meses antes, também houve registro de um ambulante que foi agredido por seguranças na estação Carandiru, da linha 1-Azul do metrô. No meio da disputa, também sobra para passageiros, como foi o caso de dois irmãos agredidos após serem "confundidos" com ambulantes, em 22 de fevereiro.

No dia a dia, os vendedores tentam dar sinais da rivalidade. É comum entre os ambulantes o uso de frases como “a porta fechou, o perigo passou”, se referindo à passagem pela estação sem que nenhum segurança entrasse no vagão; ou, ainda, “devido à megaoperação contra os ambulantes”, para anunciar algum desconto no produto — às vezes é puro marketing. 


A comunicação é uma forma de autodefesa, mas os vendedores mais experientes acreditam que existem outras fórmulas para evitar confrontos, como explica Washington Luiz Pontes Gomes da Silva, 35 anos, o Índio, que trabalha vendendo produtos nos trens e estações há quase três décadas.

“Eles [seguranças] gostam de ser respeitados. Quando ele aparece, sabe quem é vendedor, mas você tem que fingir que não está vendendo, para mostrar que está respeitando eles. Alguns vendedores querem passar por cima, vender mesmo assim, nessa surgem os conflitos”, diz o ambulante.


De acordo com os dados da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), somente nos dois primeiros meses deste ano foram registrados 15 casos de agressões de ambulantes contra vigilantes. A reportagem também pediu os dados para o Metrô, mas não houve retorno.

Já os casos que envolve ambulantes agredidos costumam não ser registrados, o que dificulta a formulação de estatísticas. Segundo Índio, os vendedores não formalizam os casos que sofrem violência porque, caso o façam, depois fica ainda mais difícil para continuar trabalhando devido à intensificação das fiscalizações.


Como saída, os ambulantes se mantêm atualizados por meio de conversas entre eles e com outros passageiros para saber quem são os seguranças mais intransigentes, as estações com mais dificuldade para vender, além de melhores lugares para se comprar os produtos e o que os passageiros mais estão comprando.

Índio deixou de trabalhar na CPTM há três anos, migrando para o metrô — mais especificamente a linha 2-Azul. Ele diz que trabalhava nas linhas 12-Safira e 11-Coral, entre as 4h e 17h, mas parou porque “triplicou o número de vendedores”.

Agora os ambulantes avaliam que a onda está na migração para o metrô, devido ao aumento na fiscalização da CPTM. A companhia afirma que “está intensificando o combate ao comércio ilegal dentro dos trens, uma vez que além de atrapalhar a viagem dos passageiros, os ambulantes incomodam as pessoas com a gritaria”.

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