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Sem ir a jogos, torcidas amargam crise e promovem ações sociais

Com portões dos estádios fechados e sem previsão de volta, torcidas de SP fazem campanhas e aguardam desfiles de Carnaval

São Paulo|Kaique Dalapola, do R7

Marmitas arrecadadas pela Dragões da Real para dar à população em situação de rua
Marmitas arrecadadas pela Dragões da Real para dar à população em situação de rua

Em agosto de 1995, um confronto entre torcidas organizadas de São Paulo e Palmeiras protagonizou a chamada “Guerra do Pacaembu”, e causou punições que tornariam os anos seguintes os mais difíceis para as uniformizadas no Estado. Duas décadas e meia depois, a pandemia do novo coronavírus novamente colocou em xeque sobrevivência das torcidas paulistas.

Após aquele confronto que deixou mais de uma centena de feridos e um torcedor morto na final da Supercopa São Paulo de Futebol Júnior, as principais torcidas de São Paulo e Palmeiras foram banidas, e o Ministério Público também passou a atuar pela “asfixia financeira” de organizadas paulistas. Na ocasião, muitas torcidas não conseguiram se manter e as que sobreviveram, enfrentaram o período mais difícil da história.

Passados 25 anos, não foi a violência ou qualquer outra coisa ligada às torcidas organizadas que instaurou uma nova crise nas agremiações, mas sim a pandemia do novo coronavírus. Estádios com portões fechados desde o início de março, sedes e lojas com funcionamento restrito e, naturalmente, a crise financeira que atinge o país reflete nos integrantes de torcidas organizadas. E este momento, segundo diretores de torcidas, é o pior para as agremiações desde aquele período de punições pós "Guerra do Pacaembu".

“Como o próprio nome já diz, a finalidade da torcida é torcer, e como isso já foi tirado de nós por causa do vírus, foi bem difícil para manter aceso o sócio da torcida, manter as pessoas em algo que elas não estão podendo usufruir", avalia André Azevedo, ex-presidente da Anatorg (Associação Nacional das Torcidas Organizadas) e presidente da Dragões da Real, do São Paulo.


Azevedo destaca que 2020 foi "um ano muito difícil para manter a sede, manter acesa a chama de todo torcedor, e isso faz com que tenha sido difícil financeiramente, até porque a venda dos materiais cai sobre as condições financeiras da sociedade — em vez de consumir roupas de torcida e do time, a pessoa está preocupada em pagar internet, gás, telefone”.

Integrantes de torcida do Santo André após doação de alimentos
Integrantes de torcida do Santo André após doação de alimentos

Em meio às dificuldades causadas pela pandemia, outro setor das torcidas organizadas passou a ter destaque: o das ações sociais. Doações de alimentos e agasalhos, além de campanha de conscientização para o uso de máscaras e demais medidas para impedir a propagação do novo coronavírus foram comuns entre as torcidas, desde as principais dos grandes clubes, até as torcidas de clubes menores, do interior e da região metropolitana.


Um exemplo disso foi a campanha da Torcida Esquadrão Andreense, do Santo André, que levou centenas de marmitas, frutas e garrafas com água para a população de rua e moradores de periferias do município que fica na região do ABC Paulista, na Grande São Paulo, durante o primeiro mês da pandemia.

“Os produtos doados foram comprados por meio de doações financeiras feita por associados da torcida e centralizado na diretoria, que junto com os demais integrantes, organizaram e fizeram a compra e distribuição”, conta Everton Faria, diretor de projetos sociais da Esquadrão Andreense.


Materiais arrecadados pela Leões da Fabulosa
Materiais arrecadados pela Leões da Fabulosa

A torcida Leões da Fabulosa, da Portuguesa, também ativou seu núcleo social para atender afetados pela pandemia. A torcida organizada fez campanha para arrecadar cestas básicas para doar aos trabalhadores ligados ao clube que ficaram sem renda quando o futebol foi paralisado no país. As doações auxiliaram os funcionários a sobreviverem e, na volta dos jogos, em campo, o clube conquistou a Copa Paulista e ganhou o direito de retornar ao cenário nacional em 2021.

As torcidas dos principais clubes da capital também atuaram, sobretudo com a população em situação de rua e moradores das periferias. Outro exemplo foi a ação da torcida Acadêmicos do Savóia, do Palmeiras, que levou dezenas de marmitas, cestas básicas e quilos de carne para moradores de comunidade de Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo.

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“Não basta a gente ter a expectativa que as pessoas fiquem em casa se não conseguem alimentar os seus”, disse Joyce Moretti, assessora da torcida. A organizada realizou a ação por meio de parceria com frigorífico, uma dupla sertaneja e apoio dos associados.

A Dragões da Real, além de realizar campanhas com pessoas em situação de rua no centro de São Paulo, fez uma ação diferente. “Fizemos uma ação interna voltada para sócios, na qual os associais faziam contato só comigo falando que necessitava de ajuda e eu levava a cesta básica, mas ninguém da torcida tomava ciência disso para não causar algum desconforto”, explica o presidente da Dragões.

Carnaval

Com os portões dos estádios fechados e sem expectativa para a volta das torcidas, os olhos se voltam para a atuação das escolas de samba ligadas a torcidas organizadas. Mesmo com as torcidas organizadas e as escolas de samba tendo objetivos e públicos diferentes, indiretamente existe um impacto na visibilidade e procura pelas instituições com base nos desempenhos do Carnaval.

Para 2021, a expectativa é que o desfile aconteça em julho, e os grandes destaques recaem sobre as torcidas Gaviões da Fiel, Mancha Verde e Dragões da Real, que disputam o Grupo Especial do Carnaval de São Paulo.

Vencedora de um título inédito em 2019, a Mancha vai ser a primeira das torcidas organizadas a entrarem na avenida em 2021. Ainda sem data definida, o sorteio da Liga das Escolas de Samba de São Paulo definiu que a escola ligada à torcida palmeirense será a terceira a desfilar no primeiro dia, que provavelmente será uma sexta-feira.

No mesmo dia da Mancha, fechando o desfile, entra a Dragões da Real, em busca da primeira conquista do Grupo Especial do Carnaval paulistano. No segundo dia de desfile, a Gaviões da Fiel, maior vencedora entre as torcidas organizadas, será a segunda a desfilar, buscando seu quinto título.

No domingo (ainda faltando definição da data), a Torcida Independente, do São Paulo, também vai para a avenida. Pelo Grupo de Acesso 1, buscando ficar entre as duas primeiras colocadas e ganhar o direito de desfilar pelo grupo de elite do Carnaval de São Paulo, a escola da torcida organizada são-paulina será a quarta a entrar na noite.

Na segunda-feira, mais duas torcidas disputam o Grupo de Acesso 2, que corresponde à terceira divisão dos Carnaval de São Paulo. A escola de samba Camisa 12, ligada à torcida do Corinthians, será a segunda a desfilar e a Torcida Jovem, do Santos, é a sexta a entrar no Anhembi.

Além das escolas de samba de torcidas que participam dos desfiles organizados pela Liga das Escolas de Samba, outras duas organizadas tem blocos que vão para a avenida em desfiles da Uesp (União das Escolas de Samba de São Paulo).

A previsão é que na segunda-feira pós desfile das principais escolas de samba paulistanas, a TUP (Torcida Uniformizada do Palmeiras) vá para avenida pelo Grupo Especial de Bairros. Dois dias antes, está prevista que o Pavilhão Nove, bloco ligado à torcida do Corinthians, entre na avenida pelo Grupo de Blocos Especiais e Acesso de Blocos.

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