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“Sou brasileiro também”: Marcha dos Imigrantes reivindica dignidade e direitos para todos

Pessoas do mundo todo foram a Avenida Paulista na manhã deste domingo (27)

São Paulo|Do R7*

Pessoas do mundo todo ocupam a Avenida Paulista na 10ª Marcha dos Imigrantes
Pessoas do mundo todo ocupam a Avenida Paulista na 10ª Marcha dos Imigrantes

Uma mistura de cores e bandeiras tomou conta da Avenida Paulista na manhã deste domingo (27). A 10ª Marcha dos Imigrantes, promovida pelo Cami (Centro de Apoio e Pastoral do Migrante), levou homens e mulheres dos quatro cantos do mundo à principal via da cidade de São Paulo.

Segundo dados da PF (Polícia Federal), 117.745 estrangeiros deram entrada no Brasil só em 2015. A estimativa é de 1.189.947 pessoas de outros países vivendo permanentemente no país. 

Reivindicando o fim do Estatuto do Estrangeiro — instituído em 1980 durante o regime militar — e a aprovação de uma nova lei de imigração que garanta os direitos dos imigrantes, os imigrantes marcharam do vão livre do Masp até ao metrô Brigadeiro, ao som de músicas de todo mundo e interpretações artísticas.

Roque Patussi, coordenador do Cami, afirma que o principal objetivo da marcha, que já acontece há dez anos, é celebrar o dia Mundial dos Imigrantes, além de “dar visibilidade a quem somos”.


Roque Patussi é coordenador do Cami e organizador da marcha
Roque Patussi é coordenador do Cami e organizador da marcha

Este ano, a marcha também se posicionou contra a PEC 55. “Ela impacta diretamente os imigrantes”, explica Patussi.

— Quando se estancam os investimentos, os imigrantes serão os primeiros a serem excluídos das escolas e do sistema de saúde. Consequentemente, o preconceito aumenta”.


Um dos organizadores da Marcha, o coordenador do Cami afirma que ainda não entendeu qual é o processo do governo na questão dos imigrantes.

— Desde que entrou o novo governo, a Polícia Federal desacelerou os agendamentos para renovação e solicitações de novos registros. Se antes fazíamos entre 500 e 600 agendamentos por dia, hoje fazemos um ou dois. Fora as vezes em que ficamos 4 ou 5 dias sem conseguir nenhum agendamento.


Pattusi também reclama das taxas que os imigrantes têm que pagar para conseguir os documentos, que teriam ficado mais caras no atual governo. Com isso, muitos estrangeiros preferem ficar sem documentos, o que dificulta a obtenção de empregos formais.

— Sem os documentos, eles ficam vulneráveis, correndo o risco de serem multados. O valor máximo da multa é de R$800, mas imagine isso para uma família de cinco pessoas.

O coordenador afirma ainda que muitos imigrantes estão com medo das políticas que poderão ser adotadas pelo governo nos próximos meses.

— Normalmente, quando a imigração para de dar documentos, significa que vem algo pior pela frente. Em outros países, como temos visto, é a deportação em massa.

Dominic Ndubuilo chegou ao Brasil em julho de 2016, fugindo dos ataques do grupo extremista Boko Haram na Nigéria. Ele conta que os militantes jihadistas invadiram a vila em que ele morava e realizaram atentados com bombas, o que fez ele sair do país.

— A minha primeira escolha foi o Brasil. Eu vejo o Brasil como a Nigéria.

Apesar disso, ele relata ter dificuldades para encontrar emprego. Formado em administração e gestão ambiental, ele ainda tem dificuldades para falar o português, o que dificulta sua contratação pelas empresas brasileiras.

O nigeriano Dominic Ndubuilo, há cinco meses no Brasil
O nigeriano Dominic Ndubuilo, há cinco meses no Brasil

O trio Forhad Hossain, Mustakahed Jaygirdar e Gulam Sharia veio de Bangladesh para o Brasil fugindo da perseguição política. Eles relatam que, após as eleições de 2013 no país, os protestos contra o presidente ficaram comuns nas ruas do país. As manifestações, porém, geraram perseguições e prisões em massa aos opositores do regime. O trio afirma ainda que o resultado das urnas foi manipulado.

“O partido no poder tortura a oposição, as pessoas desaparecem”, afirma Forhad. Opositor ao governo, ele conta que ficou com medo depois que o líder do movimento do qual fazia parte foi preso e desapareceu.

— Aconteciam explosões em outras cidades, e o governo dizia que nós estávamos envolvidos.

Apesar da distância — Bangladesh está geograficamente localizado na Ásia —, Forhad afirma que a cultura de seu país é semelhante à do Brasil.

— Eu não quero ser reconhecido como imigrante. Sou brasileiro também. Eu amo esse país.

Já Mustakahed diz que escolheu o Brasil depois de pesquisar na internet e descobrir que o país “acolhia muitos imigrantes”. No entanto, ele relata ter dificuldades de fazer a vida por aqui, principalmente pelas dificuldades em conseguir empréstimos em bancos, devido à falta da documentação adequada.

— Somos um povo muito empreendedor. Quero fazer negócios e trazer minha família. Nós estamos salvos aqui, mas meu filho e minha esposa ainda estão lá.

Palash Chandra também veio de Bangladesh. Mo entanto, ele não sofreu perseguição política, mas sim religiosa. No país, cerca de 93% da população é muçulmana, e apenas 4%, hindu. Com isso, a minoria sofre em algumas localidades — como é o caso de Palash, cuja família teve a casa incendiada.

Boliviano, Luis Jacinto Cayre veio para o Brasil há 15 anos à procura de trabalho. Atualmente, ele auxilia na coordenação do Cami e quer mostrar para os brasileiros que os imigrantes são importantes para o País.

— Todo mundo no Brasil é imigrante. Quem veio do interior, de outras cidades, também é imigrante.

O boliviano Luis Jacinto Cayre
O boliviano Luis Jacinto Cayre

Já o chileno Patrício Urzua está no Brasil há 38 anos. Ele veio para o país durante o regime militar, com o objetivo de estudar computação, mas acabou ficando para trabalhar. Sua reivindicação principal é o direito ao voto para os imigrantes.

— Nós lutamos para ter voz e voto. Moro aqui há décadas e não posso votar porque a lei do estrangeiro não permite, a menos que você se naturalize, o que é um processo burocrático.

O casal de bolivianos Julieta Aleixo e Mario Jimachi veio ao Brasil em 2006, também em busca de trabalho. Atualmente eles são empregados de uma fábrica de costura no Brás e reclamam dos salários baixos e da discriminação que sofrem no emprego.

— Há muita discriminação. Nossos filhos não podem estudar livremente sem serem incomodados. Tenho cinco filhos e todos nasceram no Brasil.

Mario complementa: “Trabalho para a gente tem, mas eles pagam muito pouco. Precisamos de mais respeito, para que os brasileiros vejam que também somos humanos.”

Este ano a Marcha contou também com um bloco só de mulheres, organizado pela Frente de Mulheres Imigrantes e Refugiadas, que veio levando ritmo e alegria para a manifestação, ao som de tambores e flautas.

* Por Luis Felipe Segura

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