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SP mantém nível de isolamento superior ao período pré-pandemia

Trabalho e ensino remoto, medo da Covid-19 e desemprego são apontados como responsáveis por 'sumiço' de pessoas das ruas 

São Paulo|Gabriel Croquer, do R7

Isolamento social é uma das medidas mais eficazes para o controle da pandemia
Isolamento social é uma das medidas mais eficazes para o controle da pandemia

Mesmo com os altos índices de vacinação da população e a redução de casos e mortes decorrentes da Covid-19, parte considerável da população do estado de São Paulo não voltou a sair às ruas como no período pré-pandemia. É o que indicam dados do governo estadual, do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trem Metropolitano), analisados e compilados pelo R7

Na cidade de São Paulo, por exemplo, a média mensal do índice de isolamento foi de 40% em outubro, o mesmo valor registrado até 23 de novembro, meses seguintes ao fim de uma das restrições de maior impacto que o estado mantinha: o limite de horário de funcionamento para atividades comerciais.

Os registros representam uma queda considerável desde o auge da quarentena, em abril de 2020 (52%), mas ainda estão longe do que foi registrado em fevereiro daquele ano (33%), antes das primeiras mortes por Covid. 

O índice é calculado diariamente desde o início da pandemia pelo Simi-SP (Sistema de Monitoramento Inteligente), criado pela gestão Doria. Vale ressaltar que o isolamento social é, junto da vacinação e do uso de máscara, uma das medidas consideradas fundamentais por especialistas de saúde para o controle da pandemia. 


Os dados de passageiros transportados nas linhas do Metrô de São Paulo e da CPTM também mostram que muitas pessoas ainda permanecem em casa após quase um ano e nove meses desde o início da pandemia. 

Na comparação de fevereiro de 2020 com outubro de 2021, foram cerca de 29 milhões de passageiros transportados a menos nas quatro linhas do Metrô geridas pelo governo (1-Azul , 2-Verde, 3-Vermelha, 15-Prata). Já a CPTM teve queda de 10 milhões na comparação do mesmo período.


Causas

A causa do "sumiço" de algumas pessoas é consequência de uma série de fatores, apontam os especialistas. Entre eles os mais citados são a manutenção do trabalho e estudo remoto em muitos ambientes, o medo da Covid-19 e até a situação econômica do país.

O engenheiro Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), afirma que parte considerável dos passageiros nunca mais voltará a usar o transporte público como antes, o que deve aprofundar o problema do financiamento do modelo.


"A educação pós-pandemia incorporou definitivamente o ensino a distância, não para os níveis básicos, e não para todas as profissões, mas muito para níveis elevados de ensino e especializações. Isso diminuirá a demanda por transporte", comenta.

A professora do ensino infatil Sandra Souza foi uma das passageiras que pararam de andar de metrô. Ela voltou somente em janeiro deste ano e nota que o movimento continua abaixo do observado antes da pandemia. "Só de um mês para cá que o metrô ficou mais cheio, quando voltaram as aulas para todos os alunos. Até então não estava indo todo mundo para a escola", relata.

"Tinha pouca gente, dava até para contar no metrô [no ínicio da quarentena]", diz a diarista Maria das Dores, que agora já se sente no "novo normal". "Agora está lotado mesmo, principalmente no metrô. No ônibus eu venho em pé e volto em pé, parecendo sardinha enlatada", relata. 

As mudanças na mobilidade também são causadas pelas consequências da Covid-19 nos serviços e no consumo. "Têm uma variável econômica. As pessoas estão sem dinheiro e estão procurando outras alternativas de deslocamento, vão a pé ou de bicicleta", diz Hugo Garbe, professor de economia da Universade Mackenzie.

"É importante salientar que temos 14 milhões de desempregados na economia. Essas pessoas não têm trabalho. Não estão saindo de casa", acrescenta.

Futuro da pandemia

Além dessas causas da mudança na mobilidade urbana, a principal delas, a Covid-19, ainda alerta epidemiologistas por sua imprevisibilidade. Como exemplo, os técnicos citam a alta de casos em diversos países da Europa e em regiões dos EUA com taxas de vacinação semelhantes às do Brasil. 

"A gente não controlou a pandemia completamente. Existem muitas incertezas em relação a vários aspectos, principalmente em relação ao grau de duração da proteção da imunidade fornecida pela vacina e também pela infecção", explica o epidemiologista e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Guilherme Werneck. 

Em São Paulo, a vida pós-pandemia é ensaiada também em festas, shows e eventos, que são permitidos no estado desde o início deste mês. Algumas grandes cidades, como a capital paulista, também preveem festas de fim de ano e até Carnaval em 2022.

Werneck reconhece que a volta do convívio social é importante — até para testar os protocolos da flexibilização das atividades —, mas diz que a volta deve ser gradual e monitorada constantemente para que a população não volte a ficar em casa em razão de uma possível piora na pandemia.

Em médio prazo, diz o epidemiologista, há expectativa do fim da pandemia com a conversão da Covid-19 em doença endêmica, com casos, internações e mortes em níveis ainda menores do que os atuais. Só então o "novo normal", pelo menos na dimensão de saúde pública, poderá voltar.

"A discussão que vai aparecer, e é importante se preparar para isso, é consensuar com a sociedade o que são os níveis adequados ou aceitáveis de Covid circulante, de casos e óbitos no país. Obviamente que os níveis que a gente tem hoje são absurdos, não seriam adequados para ser considerados endêmicos", finaliza.

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