SP: moradores de favela ajudam a construir projeto de energia solar
Parceria entre ONG e banco promove cursos capacitadores para que habitantes sejam contratados para iniciativa da ‘Favela 3D’
São Paulo|Isabelle Amaral*, do R7
A ONG (organização não governamental) Gerando Falcões, em parceria com o Banco BV, está promovendo um projeto para abastecer, pela primeira vez na América Latina, com energia solar, uma comunidade em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, conhecida como Favela Marte. Para a obra, as instituições responsáveis promovem cursos de capacitação e pretendem contratar os próprios moradores do local para essa iniciativa, que deve começar efetivamente no segundo semestre deste ano.
A iniciativa faz parte do projeto ‘Favela 3D’, que tem como objetivo transformar essas comunidades em ambientes dignos, digitais e desenvolvidos, focados na melhoria e qualidade de vida dos moradores.
Leia também
Apesar de as obras não terem começado efetivamente, as instituições responsáveis, junto com os próprios moradores da Favela Marte, estão resolvendo primeiramente questões burocráticas, mas já há uma mobilização no local para geração de renda, cursos, mutirão de currículo, capacitação empreendedora de mulheres, além de aulas promovidas pelo banco BV e a fintech Meu Financiamento Solar, que auxiliam na formação de novos instaladores de placas solares.
“Nós terminamos o ano passado já entregando 40% da mão de obra disponível na favela e esse ano já assinamos o pacto de inclusão econômica com as empresas de São José do Rio Preto para empregar mais de 120 pessoas até no máximo o final deste ano”, explicou ao R7 a diretora de tecnologias sociais da Gerando Falcões, Nina Rentel.
No total, serão instaladas até junho do ano que vem mais de mil placas solares nas residências e áreas comuns da comunidade que promoverão uma melhor economia nas contas de energia, além de contribuir com o meio ambiente.
Ainda segundo a diretora de tecnologias sociais da ONG, a Favela Marte foi escolhida para dar início ao projeto que chamam de “piloto” após avaliação no local. “Nós identificamos, primeiramente, uma demanda no território, e precisávamos de um parceiro de campo que nos ajudasse a executar esse projeto e o Instituto Valquíria se destacou na nossa rede. Além disso, precisávamos ter uma prefeitura, um poder público aberto para criar parcerias com a gente, e foi o que aconteceu”, ressaltou.
O projeto Favela 3D poderá ser ponto de partida para aplicação de estratégia semelhante em mais três comunidades do Brasil: uma na cidade de Maceió, em Alagoas, na Favela do Vergel; outra no Rio de Janeiro, no Morro da Providência; e em Ferraz de Vasconcelos, em São Paulo, na Favela dos Sonhos.
Questionado sobre a participação do banco BV nas próximas instalações das placas solares, o gerente-executivo de sustentabilidade e patrocínios da instituição, Tiago Soares, informou que haverá, primeiramente, uma avaliação desse projeto piloto da Favela Marte e depois fecham parcerias para começar esse abastecimento solar nas demais regiões. “Essa é a primeira iniciativa na América Latina que junta a comunidade com a instalação das placas, então estamos testando. Neste momento agora não podemos nos comprometer porque precisamos entender e aprender como será essa implementação, mas estou bem confiante de que vai dar certo”, disse.
Para o gerente, participar desse projeto gera um sentimento de construção colaborativa. “Nós estamos ajudando a oferecer inovação e tecnologia para as famílias que não teria acesso nesse momento, estamos oferecendo uma energia de baixíssimo impacto ambiental e provavelmente o futuro da energia do mundo, além de estarmos juntando o aspecto social e formando pessoas para tornarem-se instaladores de placas solares. Olhando por um outro lado também, eu acho que é uma grande oportunidade para as comunidades do Brasil a fora terem acesso à uma energia de qualidade, todo mundo sabe os problemas e dificuldades que as favelas enfrentam, o que prejudicou até crianças a estudarem na pandemia, então é um projeto muito grande que eu espero que vá para frente e se expanda”.
Thiago explicou, ainda, que o Banco BV já participou de projetos junto com a Gerando Falcões anteriormente e que, inclusive, já ajudou na instalação de placas solares no escritório central da ONG.
Como funciona o projeto Favela 3D
O principal objetivo do projeto Favela 3D é entregar um futuro sem pobreza nas favelas, reestruturando as comunidades para promover uma transformação, como foco na melhoria da qualidade de vida dos moradores, entregando serviços de educação, desenvolvimento econômico e cidadania e executa programas de transformação sistêmica em comunidades, como está sendo realizado na Favela Marte, em São José do Rio Preto.
Além disso, o projeto é escalável, então tem objetivo de se expandir e ser aplicado em diversas comunidades do Brasil, abordando nove pilares: moradia digna, acesso à saúde, cidadania e cultura da paz, direito à educação, primeira infância, autonomia da mulher, cultura, esporte e lazer e, por fim, geração de renda.
Essa transformação nas favelas começa por meio de levantamento de dados do Brasil, análise de documentos da prefeitura, compilação do cadastro de moradores, análise de pesquisa com moradores, entre outros, identificando os principais desafios do local e priorizando as de melhorias mais urgentes para a favela.
Até o momento, a ONG Gerando Falcões conta com 2.122 doadores e já realizou diversos projetos pelo Brasil, com foco em ajudar os mais vulneráveis. Cerca de 1.545 favelas já foram impactadas, em 23 estados.
Com plano de expansão, além do projeto Favela 3D, a ONG vem realizando trabalhos contra a fome, a favor da educação e transformação digital, com oficinas culturais e esportivas, programa de formação de jovens e alinhando empresas da região onde trabalham para que haja uma melhor geração de renda entre os mais vulneráveis. Para contribuir com a ONG é só acessar o site da Gerando Falcões e saber mais.
*Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez