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Transtornos, insegurança e depreciação do imóvel: moradores vivem angústia na Cracolândia 

Após operação policial em maio, o 'fluxo' de usuários de drogas e traficantes se espalhou e multiplicou pelo centro de São Paulo 

São Paulo|Letícia Dauer, do R7


No decorrer do ano, a Polícia Civil realizou diversas operações na Cracolândia
No decorrer do ano, a Polícia Civil realizou diversas operações na Cracolândia

"Tinha crises de pânico e medo de sair na rua", contou uma ex-moradora da região da Cracolândia, que prefere não ser identificada por medo de represálias, ao R7. A aposentada de 70 anos se viu obrigada a mudar da avenida São João devido à escalada de violência.

Após o "fluxo" — nome dado para a concentração de usuários de drogas em determinado ponto — se espalhar pelas ruas do centro de São Paulo em decorrência da Operação Caronte da Polícia Civil, a idosa deixou no mês de junho o apartamento onde viveu por 15 anos para morar na Freguesia do Ó, bairro da zona norte da capital.

Apesar de a Cracolândia não ser um problema novo, para a aposentada este ano foi a gota de água, já que ela enfrentou constantes crises de pânico, além de perder a liberdade de ir e vir.

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A idosa também relatou que ficava com o coração dividido: tinha pena e vontade de ajudar os usuários e, ao mesmo tempo, sofria com o medo de sair às ruas e ser atacada. Em sua opinião, esse grupo vulnerável é manipulado pelos traficantes da região. Em diversas ocasiões, ela presenciou a distribuição de drogas da janela de casa.

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"Tive que largar um apartamento próprio, que foi quitado a muito custo, para alugar um em um bairro residencial. Agora tenho outra vida", desabafou a idosa.

Para custear a mudança, ela colocou o imóvel para alugar, porém não conseguiu um valor satisfatório em razão da insegurança no centro da cidade e da desvalorização econômica. 

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Desde criança

"Moro nessa região desde que eu nasci. Antes da dispersão do fluxo, eu não tinha contato com os usuários, pois eles ficavam concentrados na praça Isabel. E eu evitava essa área", contou à reportagem a analista de administração Vivianne Valentino, de 29 anos.

A jovem mora com a mãe e a filha em um prédio localizado na avenida São João. Além do medo de sair do apartamento, o barulho e a sujeira se tornaram parte do cotidiano da família e dos demais moradores. De acordo com Vivianne, algumas pessoas em situação de rua andam com caixinhas de som "24 horas por dia".

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A família também já considerou deixar o bairro, porém o imóvel é próprio. Com a desvalorização da região nos últimos anos, seria difícil vendê-lo. Em razão desse cenário, o sonho de viver "sem tensão" foi adiado.

Sonho perdido

"Viver em alerta faz um mal gigante para o corpo e para a mente", desafabou uma servidora pública, de 31 anos, que mora com o marido na região da Cracolândia e faz tratamento para ansiedade. Ela também pediu para ter a identidade preservada.

Em junho de 2019, o casal comprou um imóvel no Complexo Júlio Prestes, um projeto habitacional e cultural de PPP (Participação Público-Privada) do Governo de São Paulo. O objetivo do empreendimento era ser um ponto de revitalização do centro, que falhou, na visão dos moradores.

Com cinco torres e mais de mil famílias residentes, o complexo ainda possui um boulevard com lojas. Inicialmente, esse espaço seria aberto para fomentar o comércio na região, porém rapidamente foi murado em razão da movimentação e multiplicação do fluxo para outras ruas.

"É bom morar no centro, é próximo dos locais. Porém, fomos privados do direito de ir e vir", queixa-se a servidora pública.

Para ela, o trabalho da polícia é essencial no combate à criminalidade e ao tráfico de drogas. "Sem as operações, a situação seria pior." Entretanto, em sua visão, faltam políticas públicas para tratar os usuários e retirá-los das ruas.

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