Três em dez paulistanos não lembram mais em quem votaram
Estudo da Rede Nossa SP e Ibope indica que os jovens são os que têm menor interesse em participar da vida política na capital
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
Três em cada 10 paulistanos (30%) não lembram em quem votaram para vereador nas eleições municipais de 2020, apesar de passados poucos meses do pleito. Houve melhora no cenário em relação a 2018 e 2019, quando 63% das pessoas disseram não ter lembrança do nome do candidato. O levantamento faz parte do estudo "Viver em São Paulo: qualidade de vida", realizado pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, e divulgado nesta quinta-feira (21).
A pesquisa ouviu 800 moradores da cidade de São Paulo com 16 anos ou mais, entre os dias 5 de dezembro e 4 de janeiro, por meio de entrevistas online e domiciliares com questionário. A amostra é desproporcional para permitir a análise regionalizada. A margem de erro é de 3 pontos percentuais e o índice de confiança é de 95%.
O estudo destaca que 58% dos entrevistados não têm nenhuma vontade de participar da vida política na cidade de São Paulo contra 11% que disseram ter muita vontade. Quanto mais jovem, menor é o interesse, sendo que 67% tinham entre 16 e 24 anos.
Leia também
Para a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães, o jovem não se sente representado. "Estamos distantes de uma grande participação, hoje é mais o compartilhamento de informações do que uma construção conjunta. O jovem está desmotivado e, há anos, tem o descolamento da população com a política. O tema é cansativo. É sempre um ganho para dois retrocessos", avalia.
Participação na política
Por outro lado, cresceu a proporção de moradores que participam de alguma forma da vida política, com destaque para o envolvimento em abaixo-assinados ou petições. Estar em casa, na pandemia, contribui para isso, uma vez que a internet conecta as pessoas. Ainda assim 46% da população não tem qualquer participação.
O interesse aumenta, segundo o estudo, de acordo com a escolaridade do paulistano, a renda familiar ou classe socioeconômica e ainda entre brancos.
Carolina Guimarães afirma que recebeu com surpresa o dado de que, nem mesmo em período eleitoral com a renovação dos Poderes Executivo e Legislativo, tenha aumentado o envolvimento da população com a política: 54% dos entrevistados não se sentem interessados.
"A gente acredita que as pessoas se preocupariam com o tema, mas houve uma renovação pequena. Na Câmara, 60% dos vereadores foram reeleitos e são pessoas que se perpetuam nos cargos. Vemos isso com preocupação porque deve haver pouco questionamento das pautas do Executivo. Mas tivemos também ganhos em pautas progressistas, com a chegada de mais mulheres, negros, transexuais, e com as duas candidaturas coletivas".
Avaliação da gestão municipal
O estudo pediu aos paulistanos para avaliar a atual administração municipal e 45% dos entrevistados acreditam ser regular. Destaque para as classes D e E neste quesito. Outros 35% acham que a gestão é ruim ou péssima, porcentagem maior nas classes A e B. Também 18% avaliaram como ótima ou boa e 2% não souberam responder o questionamento.
Os números indicam estabilidade porque são similares aos obtidos na pesquisa em 2019, quando o prefeito já era o Bruno Covas (PSDB), agora reeleito na capital paulista.
A coordenadora da Rede Nossa São Paulo acredita que as ações adotadas por Covas na pandemia foram importantes para sua reeleição. "Ele levou a sério o assunto e se pautou pela ciência, contou com profissionais da saúde, o SUS e a estrutura existente. Foi reeleito também porque a cidade é conservadora e se a gestão dele não melhorou [na avaliação], também não piorou", enfatiza.
No entanto, Carolina Guimarães ressalta que ele terá grandes desafios pela frente: "Covas não começou bem, com o aumento do próprio salário e o fim da gratuidade no transporte para idosos de 60 a 64 anos. Agora se afastou para cuidar da saúde e quem assume é o vice [Ricardo Nunes], que é bastante questionado. Além da pandemia, tem o desemprego e a questão dos moradores de rua".
A avaliação da atuação das subprefeituras também mostrou estabilidade e a maioria (75%) considera a gestão regular ou ruim. A pesquisa apontou ainda que 29% dos moradores da capital não conhecem as funções desempenhadas pelas subprefeituras e outros 58% conhecem só um pouco.
No ranking de instituições que mais contribuem para melhorar a qualidade de vida do cidadão, a Prefeitura de São Paulo aparece em quarto lugar, ficando atrás da Igreja (primeira colocada em todas as edições da pesquisa), ONGs e Universidades e dividindo a posição com os meios de comunicação.
De acordo com o levantamento, as características mais visadas em um prefeito são conhecer bem os problemas da cidade e ter visão de futuro.
Câmara de Vereadores
A avaliação do trabalho desempenhado pela Câmara Municipal não trouxe alterações significativas em relação a 2019, sendo que 52% dos entrevistados avaliaram a gestão como ruim ou péssima e 33% regular. Apenas 9% dos paulistanos disseram que era ótima ou boa.
"A Câmara tá distante do cidadão, com interesses específicos ou regionais. Há desconhecimento do papel do Legislativo e, quando conhece pela mídia, o que se sabe é pouco e negativo, como as CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito)", justifica a pesquisadora da Rede Nossa São Paulo.
O levantamento indica que a população espera que o vereador conheça bem os problemas da região onde mora o eleitor, que seja trabalhador, tenha visão de futuro e saiba atuar em equipe.
Uma possível participação nas atividades da Câmara teria mais apelo se fosse realizada por meio das redes sociais, aplicativos de mensagens ou reunião com a população dos bairros.