Tudo o que você precisa saber sobre a 'casa da moeda' clandestina de SP
Investigação revelou esquema de falsificação de dinheiro. Foram encontradas sete máquinas em uma sofisticada estrutura de impressão de moedas
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
No andar térreo de uma casa localizada na rua Lomas Valentinas, no bairro da Saúde, em São Paulo, operava uma sofisticada estrutura para produzir dinheiro. O espaço, de aproximadamente 20 metros quadrados, reunia sete máquinas para imprimir as cédulas, placas metálicas, tintas, papeis em branco para a confecção das notas nacionais e estrangeiras.
No andar de cima, vivia o massagista Nelson Yuji Sato Fukuhara, 34 anos, e na casa ao lado, o parceiro e comerciante Marcello Brussi, 46 anos. Ambos foram pegos em flagrante durante uma operação da Polícia Civil que revelou o funcionamento da fábrica de papel no imóvel.
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De acordo com o delegado responsável pela investigação Carlos César Rodrigues, do 35º DP do Jabaquara, informações encontradas nos celulares dois supostos integrantes da quadrilha indicam que os fabricantes teriam encomendas de moedas por parte de estelionatários.
De acordo com o delegado, a estrutura vinha sendo montada nos últimos três meses. “É um crime muito profissional, não era apenas notas xerocadas. Era um processo sofisticado”, afirma Rodrigues. “Havia muito descarte de cédulas que davam errado. Era possível ver que eles estavam tentando se aprimorar, cada nota tinha um número de série, o que, na prática é algo mais trabalhoso”, diz.
As placas metálicas utilizadas para imprimir as cédulas, por exemplo, eram específicas para cada detalhe. Um das era usada para impimir o desenho da nota, outra para dar a textura correta e uma diferente para imprimir os brasões.
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A ideia da casa de papel clandestina era aperfeiçoar a produção de moeda para entrar no mercado ilícito de forma robusta. Foram encontrados R$ 3.620 milhões, US$ 4 mil e 100 euros. Além do dinheiro, foi encontrada também uma arma da marca Taurus, calibre 38, cujo proprietário seria Nelson Fukuhara. Segundo a investigação, Marcelo Brussi seria o idealizador da fábrica.
Como tudo começou
Em fevereiro desse ano, o 35º DP do Jabaquara registrou duas ocorrências de estelionatários que teriam iludido suas vítimas. A primeira foi interceptada na saída de um banco, quando o suposto estelionatário teria trocado R$ 500 em notas falsas por verdadeiras. O segundo caso teria ocorrido no Terminal do Jabaquara, quando a segunda vítima teve R$ 350 falsos trocados por cédulas verdadeiras.
“Começamos a investigação a partir daí, rastreamos de onde teriam vindo essas notas, verificamos perfis em redes sociais e chegamos a informação de que em uma casa da rua Lomas funcionaria uma gráfica”, afirmou Rodrigues.
Nesta quarta-feira, a Polícia Civil começou a investigar se as cédulas apreendidas nos casos de estelionatos em fevereiro têm como origem a casa clandestina do bairro da Saúde.
Após pouco mais de três meses de investigação, três investigadores de polícia obtiveram informações para entrar no local, por meio de uma pessoa que afirmou ser amigo dos supostos integrantes da quadrilha. Segundo Rodrigues, Marcelo estava escondido nos fundos do imóvel no momento do flagrante. “Nas impressoras, foram encontrados calendários para disfarçar a impressão do dinheiro”, diz o delegado.
Crime federal
O esquema chamou a atenção da equipe de investigadores pela sofisticação. “É o mais elaborado crime de falsificação de moeda que já vi”, afirmou Rodrigues. “As notas estavam bem embaladas, algumas folhas armazenadas em caixas e outras envolvidas por uma cinta de papel.”
Nesta quarta-feira (14), o delegado pediu a quebra do sigilo bancário e telefônico dos suspeitos. “Vamos rastrear as transações bancárias para identificar o destino do dinheiro”. Uma terceira pessoa, supostamente envolvida no esquema de falsificação, também está sob investigação.
Marcelo e Nelson não tinham antecedentes criminais. Após ser realizada a audiência de custódia com os envolvidos, será aberto outro inquérito para apurar o envolvimento de mais pessoas no crime. Os acusados poderão receber a pena de três a 12 anos de reclusão pelo crime de falsificação de moeda. “O estelionato é um instrumento para outros fins criminosos”, diz Rodrigues.
As máquinas apreendidas passam por perícias e, segundo o delegado, serão enviadas à Justiça Federal. A reportagem procurou a defesa dos acusados, porém até a publicação dessa matéria não obteve retorno.