"Uma perda irreparável", lamenta pai de jovem morto em Paraisópolis
Gabriel Rogério de Moraes era tímido e não gostava de funk ou de bailes como o da 17, e só foi para a festa por causa de insistência de amigos
São Paulo|Gabriel Croquer*, do R7
Gabriel Rogério de Moraes, de 20 anos, era tímido, discreto e carinhoso. Ele não gostava de funk ou de pancadões, mas foi pela primeira vez ao tradicional Baile da 17 pela insistência de amigos, onde morreu junto com outras oito pessoas depois de uma ação da Polícia Militar, na madrugada deste domingo (1). O pai do jovem, Reinaldo Cabral de Moraes, lamentou o episódio ao relembrar a vida do filho: "Para mim, foi uma perda irreparável mesmo".
Leia mais: Porta-voz da PM diz que jovens perderam a vida de forma 'imbecil'
Gabriel teria morrido juntos com as outras vítimas ao ser pisoteado, segundo depoimentos dos policiais que participaram da ação. Reinaldo duvida desta explicação, e adiciona: "Pelo que ouvi de pessoas que conseguiram escapar, foi algo premeditado pela polícia, sem dar chances para se defenderem ou correr, porque bloquearam a passagem".
O jovem de 20 anos trabalhava como jovem aprendiz, na leitura de medidores de energia, e seria efetivado em seu emprego a partir de janeiro do ano que vem. "Ele estava muito contente, fazendo planos comigo para o futuro", explica Reinaldo. O pai completa que, além da discrição e timidez, o filho mostrava personalidade forte e procurava se tornar independente.
Ação contra baile funk
A tragédia ocorreu no Baile da 17, em Paraisópolis, com a chegada de policiais militares que perseguiam suspeitos na região. De acordo com a corporação, policiais do 16º Batalhão Metropolitano que faziam patrulhamento na Operação Pancadão no bairro reagiram após dois homens em uma moto efetuarem disparos de arma de fogo
A polícia diz que não houve disparo de arma de fogo pelos policiais. Além das nove vítimas, outras sete pessoas foram socorridas com lesões ao AMA Paraisópolis. Duas viaturas da PM foram depredadas.
Leia mais: Há um mês, PM iniciou operação em Paraisópolis 'sem dia para acabar'
As operações na comunidade teriam começado depois da morte de um sargento da polícia, que morreu depois de ser alvejado em patrulhamento no local, no dia 2 de novembro.
Leia também
Um dia depois, em entrevista à Record TV, o comandante da Polícia Militar, coronel Marcelo Vieira Salles, iniciou uma operação em Paraisópolis, que seria "uma resposta do Estado" em busca de supostos criminosos e não tinha "dia e nem hora para acabar, [pode durar] um mês, dois meses, três meses, quanto precisar".
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas