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Velocidade dos ônibus em SP em 2019 é a mais baixa em 4 anos

Dados mensais da velocidade do sistema disponíveis desde 2016 indicam que coletivos estão mais devagar e circulam a 16 km/h em média

São Paulo|Márcio Pinho, do R7

Ônibus no Terminal Parque D. Pedro II. Velocidade dos coletivos é a menor em 4 anos
Ônibus no Terminal Parque D. Pedro II. Velocidade dos coletivos é a menor em 4 anos

A velocidade dos ônibus nos horários de pico na cidade de São Paulo em 2019 é a mais baixa dos últimos quatro anos, segundo dados da SPTrans, empresa municipal que administra o serviço. Os coletivos circularam com velocidade média aproximada de 16 km/h até julho, 4% menos que os cerca de 17 km/h registrados em 2016, segundo balanços mensais que a SPTrans possui desde aquele ano.

Para especialistas em transporte, a constante redução da velocidade reflete falta de priorização do transporte e o aumento do uso do automóvel em detrimento do transporte público. Apesar de a diferença não ser numericamente alta, a nova redução na velocidade deixa o sistema ainda mais longe de uma velocidade mínima desejável de 20 km/h, apontada como um parâmetro mínimo de fluidez.

A lentidão é maior pela manhã no sentido bairro-centro, chegando a 15,8 km no horário de pico entre 6h e 10h. À tarde, entre 17h e 22h, há um pequeno aumento na velocidade para 16,43 km/h.

Nas faixas exclusivas à direita e nos corredores à esquerda a situação é distinta. Nos corredores, estruturas como a das avenidas Nove de Julho e Rebouças, a velocidade aumentou em 2019 e chegou a 22,8 km/h. Já nas faixas exclusivas, como as das avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima, onde há maior interação com veículos que usam a faixa para o acesso a ruas à direita, a velocidade caiu e chegou a 19,3 km/h.


Demora

Além de aumentar a duração especialmente das viagens longas, entre periferia e centro, por exemplo, a velocidade mais baixa afeta o intervalo com que os ônibus passam nos pontos.


Marcos Carvalho, de 50 anos, morador de Cidade Tiradentes, no extremo leste, reclama que espera diariamente ao menos 20 minutos por ônibus no Terminal Cidade Tirandentes. “Tem muito o que melhorar. O que parece é que atender bem a população não é a prioridade”, afirma. Também passageira, Catarina Moreira, de 71 anos, diz esperar cerca de 30 minutos por seu ônibus nas imediações do Hospital Pérola Byington, na região central. 

Usuário do sistema, Marcos reclama da demora no ponto
Usuário do sistema, Marcos reclama da demora no ponto

Para Renato Arbex, doutorando em engenharia de transportes pela Faculdade Politécnica da USP, os ônibus mais lentos são reflexo do aumento do uso do automóvel. Segundo a Pesquisa Origem e Destino do Metrô, de 2017, em dez anos o número de viagens de ônibus caiu 5%. Por outro lado, os percursos por automóvel cresceram 9%, e os por táxis e apps subiram 424% -isso também ajudaria a explicar uma piora na velocidade dos ônibus nas faixas exclusivas à direita, onde há constante interação com automóveis pegando ou deixando passageiros.


Renato Arbex opina que esses resultados mostram que a Política Nacional de Mobilidade Urbana, de 2012, que determinou investimentos e priorização do transporte público, não foi implementada de forma adequada.

“Como você vai aumentar frota, frequência, faixas exclusivas sem o devido investimento no transporte público? É preciso políticas públicas nesse sentido. Assim como investir em ciclovias e ciclofaixas”, diz.

Para o presidente da Associação Nacional dos Transportes Públicos, Ailton Brasiliense, a velocidade média abaixo de 20 km/h lembra uma “carroça” e mostra que não houve priorização do transporte coletivo. Ele defende que investimentos na qualidade e segurança são importantes para atrair usuários.

Ônibus na região central de São Paulo; velocidade dos coletivos caiu em 2019
Ônibus na região central de São Paulo; velocidade dos coletivos caiu em 2019

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Questionada sobre a piora no desempenho dos ônibus, a SPTrans afirmou que “avalia constantemente” a velocidade média dos corredores, das faixas exclusivas e do sistema de transporte como um todo, via sistema integrado de monitoramento e por fiscalização in loco”. Segundo a SPTrans, “quando alguma anomalia é identificada, são tomadas medidas que visam a melhoria da fluidez”.

O presidente do SPUrbanuss, sindicato que representa as empresas de ônibus, Francisco Christovam, afirma que há pouco investimento em infraestrutura na cidade e que, dessa forma, não é possível cobrar melhora da qualidade dos ônibus. “É complicado você falar em qualidade, regularidade, confiabilidade, tempo de viagem, conforto etc, critérios que as pessoas usam para fazer suas escolhas, se não tiver uma infraestrutura adequada. De que adianta ter um ônibus com ar-condicionado, wifi, se ele fica parado no trânsito?”, diz.

Novos contratos

Uma das esperanças para a melhoria do sistema é a renovação dos contratos de ônibus, ocorrida no início do mês após uma licitação que se arrastou desde 2013. O acordo foi assinado dando fim a uma greve de motoristas.

Os novos contratos reorganizam o sistema de ônibus na cidade, o que inclui o corte de linhas e frota de ônibus. A frota de ônibus passa a ser de 12.7 mil, menos que os 13,6 mil anteriores.

A prefeitura defende que um novo desenho de linhas é necessário para trazer mais eficiência e menor custo, diminuindo a sobreposição de trajetos. A administração municipal prevê, apesar disso, um aumento na oferta de lugares disponíveis nos veículos.

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