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Adoçantes artificiais são mais seguros que o açúcar? Cientistas tentam responder

Pesquisas apontam que os substitutos também podem ser perigosos e causar danos a longo prazo

Saúde|Alice Callahan e Dani Blum, do The New York Times


A pesquisa sobre o efeito dos substitutos do açúcar no organismo é preliminar, complexa e muitas vezes contraditória Ricardo Tomás/The New York Times

Na década de 1950, quando os adoçantes artificiais surgiram no mercado norte-americano, os fabricantes de alimentos fizeram um grande alarde: garantiram que satisfariam o desejo dos consumidores por doces, sem os efeitos negativos para a saúde provocados pelo açúcar – e sem as calorias.

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Hoje, os adoçantes artificiais e outros substitutos do açúcar se tornaram onipresentes na cadeia de suprimentos alimentares. Aparecem em uma série de produtos, incluindo refrigerantes diet, pão fatiado e iogurtes com baixo teor de açúcar – sem mencionar tudo que entra no nosso café da manhã.

Mas as controvérsias sobre os riscos que os substitutos do açúcar podem causar à saúde circulam há décadas. Cientistas e autoridades de saúde pública sugerem que eles não são tão inofensivos assim.

As pesquisas feitas até agora sobre como os substitutos do açúcar afetam o corpo são ainda preliminares, altamente complexas e às vezes se mostram contraditórias. “Os efeitos no ser humano não foram estudados tanto quanto deveriam”, disse o dr. Dariush Mozaffarian, cardiologista e diretor do Food is Medicine Institute, da Universidade Tufts.


Isso acarreta muitas perguntas: como pesar quais os potenciais benefícios e quais os riscos? Aqui está o que sabemos.

O que é um substituto do açúcar?

O termo inclui uma variedade de substâncias que têm sabor doce, mas não possuem as calorias encontradas no açúcar. Algumas delas são centenas a dezenas de milhares de vezes mais doces que o açúcar, de modo que uma pequena porção rende muito.


São usadas para adoçar muitos alimentos e bebidas ditos “sem açúcar”, “zero” e “diet”, incluindo líquidos energéticos, gomas de mascar, doces, assados e sobremesas congeladas. Muitas também são vendidas como produtos independentes, em pó ou líquidos.

Os substitutos do açúcar são agrupados de acordo com a forma como são produzidos:


– Os adoçantes artificiais são aditivos alimentares sintéticos que são de 200 a 20 mil vezes mais doces que o açúcar refinado, de acordo com a Administração de Alimentos e Remédios (FDA, em inglês). Desde a década de 1970, a agência aprovou seis deles nos EUA: aspartame (vendido sob as marcas NutraSweet e Equal), sucralose (Splenda), sacarina (Sweet’N Low), acessulfame de potássio (Sweet One, Sunett), neotame (Newtame) e advantame.

– Os adoçantes à base de plantas e frutas são feitos de folhas ou frutos de certas plantas e são, pelo menos, cem vezes mais doces que o açúcar, de acordo com a FDA. Incluem extratos da planta estévia (Truvia, Pure Via, Enliten) e da fruta-dos-monges. A taumatina – adoçante de baixa caloria menos comum, vendido sob a marca Talin – é feita da fruta katemfe, oriunda da África Ocidental. A FDA geralmente reconhece esses adoçantes como seguros, e os fabricantes são autorizados a adicioná-los a alimentos e bebidas.

– Os álcoois de açúcar, que não podem ser classificados nem como açúcares nem como álcoois, são um tipo de carboidrato que tem gosto doce e menos calorias (e carboidratos) do que o açúcar. Aparecem com os nomes de sorbitol, xilitol, manitol e eritritol. São também encontrados naturalmente em certas frutas e vegetais, como o abacaxi, a ameixa e o cogumelo. Os tipos usados em produtos embalados são produzidos sinteticamente e permitidos pela FDA para uso como substitutos do açúcar.

Quais são os benefícios e os riscos potenciais?

Há algumas provas de que, se você bebe regularmente bebidas açucaradas, como refrigerantes e chás doces, a mudança para versões diet pode ajudar a perder um pouco de peso – desde que não consuma mais calorias de outras fontes, informou Maya Vadiveloo, professora associada de nutrição da Universidade de Rhode Island.

Em 2022, foi feita uma revisão aleatória em 12 ensaios clínicos – a maioria com duração de seis meses ou menos. Os pesquisadores concluíram que substituir bebidas adoçadas com açúcar por bebidas adoçadas com baixo teor calórico ou sem nenhuma caloria pode proporcionar alguma perda de peso – cerca de 900 gramas a um quilo e 300 gramas, em média – em adultos com sobrepeso ou obesos, que tenham diabetes ou estejam em risco de ter.

O dr. Karl Nadolsky, endocrinologista e professor clínico assistente na Faculdade de Medicina Humana da Universidade Estadual do Michigan, disse ter visto essa quantidade de perda de peso, e até mais, em muitos pacientes quando mudaram para bebidas diet.

Estudos de longo prazo sobre substitutos do açúcar, entretanto, não encontraram benefícios relacionados à perda de peso. Ao contrário, descobriram até alguns danos. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde recomendou, em 2023, que as pessoas evitassem usar substitutos do açúcar para controlar o peso ou melhorar a saúde, citando pesquisas que os associavam a maiores riscos de problemas de saúde, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, obesidade e morte precoce.

Os álcoois de açúcar eritritol e xilitol também foram associados a um maior risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC).

É difícil tirar conclusões firmes de estudos sobre dieta e saúde. Esse tipo de pesquisa é observacional, o que significa que pode associar o consumo de substitutos do açúcar a certos efeitos na saúde, mas não pode provar a relação direta de causa e efeito, explicou Valisa E. Hedrick, professora associada de nutrição da Virginia Tech, acrescentando que é possível, para começar, que os consumidores de refrigerante diet sejam simplesmente menos saudáveis. Ou talvez outros ingredientes nos alimentos ou nas bebidas que consomem sejam os responsáveis pelos danos.

Muitos cientistas tentaram explicar essas limitações e ainda encontraram ligações consistentes entre adoçantes e problemas de saúde, afirmou o dr. Jim Krieger, professor emérito da Escola de Saúde Pública da Universidade de Washington.

Mas, para resolver completamente as questões de causa e efeito, os cientistas precisarão elaborar estudos para medir diretamente os efeitos dos substitutos do açúcar sobre a saúde humana em longo prazo, observou Marion Nestle, professora emérita de nutrição, estudos alimentares e saúde pública na Universidade de Nova York, e essa pesquisa é praticamente impossível de ser feita. “Você não pode prender as pessoas o tempo suficiente para alimentá-las com um ou outro adoçante artificial e verificar o que acontece”, completou.

Ainda assim, alguns estudos bem controlados (mas não todos) feitos com animais, bem como pequenos experimentos com humanos, demonstraram que pode existir uma relação de causa e efeito, e que certos adoçantes podem levar ao surgimento de problemas de saúde, disse Krieger. Algumas pesquisas demonstraram que os álcoois de açúcar podem aumentar o risco de coagulação do sangue e, portanto, o risco de ataque cardíaco e AVC, e que outros substitutos do açúcar podem alterar o microbioma intestinal e prejudicar o controle do açúcar no sangue.

A conclusão

Existem pesquisas suficientes para levantar preocupações com os substitutos do açúcar e para justificar uma análise mais atenta, disse o dr. Eran Elinav, imunologista e pesquisador do microbioma do Instituto de Ciências Weizmann, em Israel, que participou dos estudos. E acrescentou: “Enquanto isso, ainda não se decidiu se são prejudiciais, ou se certos substitutos do açúcar são mais seguros do que outros.”

O excesso de açúcar, por outro lado, é inquestionavelmente prejudicial à saúde, afirmou Elinav. Pesquisas o relacionam a maiores riscos de diabetes tipo 2, doenças cardíacas e obesidade. A Associação Americana do Coração recomenda que as mulheres não consumam mais do que 25 gramas de açúcar por dia, e que os homens não consumam mais do que 36 gramas diários. Uma lata de 350 mililitros de Coca-Cola contém aproximadamente 39 gramas de açúcar.

Considerando os danos conhecidos, é melhor escolher bebidas adoçadas artificialmente, como refrigerantes diet ou zero, em vez das normais, se você as bebe todo dia, mas o melhor mesmo é minimizar o consumo de ambas em longo prazo, recomendou Mozaffarian.

Vadiveloo concordou, sugerindo maneiras de reduzir gradualmente os açúcares adicionados e os substitutos do açúcar na dieta. Ela aconselhou reduzir o consumo de refrigerantes normais ou diet, experimentando água com gás adoçada com uma pequena quantidade de suco de fruta; ou, em vez de comprar iogurte adoçado, experimentar cobrir o iogurte natural com frutas e um pouco de mel.

Há alguns anos, Vadiveloo tomava café com Splenda, mas reduziu lentamente a quantidade de adoçante que usava: “Agora, só tomo meu café com leite e não sinto falta do sabor doce.”

c. 2024 The New York Times Company

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