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Algumas pessoas se queixam de zumbido após vacina contra covid

Embora considerado 'muito raro', efeito adverso é relacionado à redução do bem-estar emocional, depressão e ansiedade

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Vacinas da Pfizer, Moderna, Janssen e AstraZeneca têm relatos de zumbido como efeito adverso
Vacinas da Pfizer, Moderna, Janssen e AstraZeneca têm relatos de zumbido como efeito adverso Thilo Schmuelgen/Reuters

Uma reação adversa pouco comum, mas com potencial de ser perturbadora, tem sido relatada por indivíduos que estão recebendo vacinas contra covid-19 da Pfizer/BioNTech, Moderna, Janssen (Johnson & Johnson) e AstraZeneca: o surgimento ou agravamento de zumbidos.

Vale ressaltar que o simples relato às agências reguladoras não implica em relação direta com as vacinas, algo que precisaria ser investigado mais a fundo ao longo do tempo.

Dados da MHRA (Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde do Reino Unido) mostram que entre 9 de dezembro do ano passado e 5 de maio houve reportes de 159,2 mil efeitos colaterais associados à vacina da Pfizer/BioNTech. Destes, 650 (0,41%) eram queixas de zumbido. Até a data, 11,4 milhões de pessoas haviam recebido ao menos a primeira dose deste imunizante.

A vacina da AstraZeneca, cuja primeira dose foi aplicada em 23,3 milhões de pessoas até o dia 5, teve 2.205 relatos de zumbido, de um total de 622.176 registros de reações adversas informadas entre 4 de janeiro e 5 de maio, conforme dados do órgão regulador.


Nos Estados Unidos, 60,7 milhões de indivíduos já receberam as duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech, e foram reportados 594 casos de zumbido após a vacinação, o que representa 1% do total de reações adversas.

A vacina da Moderna também é usada nos EUA, com 47,7 milhões de cidadãos imunizados com as duas doses. As queixas de zumbidos enviadas à FDA (agência reguladora de medicamentos do país) somavam 456 (0,67% de todos os efeitos adversos comunicados) até 13 de maio.


No caso da vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, que é aplicada em dose única, foram 9,1 milhão de imunizados até agora, com uma incidência de 477 informes de zumbido, ou 1,67% do total de reportes.

O aparecimento de zumbidos, conforme os dados oficiais dos EUA, atinge 13 pessoas em cada 1 milhão de vacinados. Alguns destes poucos pacientes enviaram recentemente relatos ao jornal norte-americano Spokesman-Review.


Já tomei as duas doses da vacina Moderna. Após a segunda dose, meu zumbido crônico, que foi intensamente trabalhado no passado, ficou mais alto e continua assim mais de um mês depois.

Então, depois de cada injeção, comecei a sentir mais zumbidos nos ouvidos. Agora está pior do que nunca. Será que um dia irá embora? Espero que seja apenas temporário e resolva com o tempo.

Segundo a Associação Britânica de Zumbido, os relatos ocorridos no Reino Unido representam menos de 1 em 14,7 mil vacinados, "o que classifica esse efeito colateral como 'muito raro'".

Embora raro, o zumbido é relacionado à piora da qualidade de vida, com redução do bem-estar emocional, depressão e ansiedade, de acordo com a associação. A própria covid-19 também pode levar a esta condição, sugere um trabalho científico publicado no fim do ano passado.

Estudos não apontaram zumbido como efeito adverso

Os estudos de fase 3 das quatro vacinas, que envolveram dezenas de milhares de participantes ao redor do mundo, não citam o zumbido como efeito adverso.

Mas já é esperado que algumas reações muito raras só sejam observadas quando os imunizantes comecem a ser aplicados em massa.

A médica otorrinolaringologista Jeanne Oiticica, especialista no tratamento de zumbido, tontura e surdez, reforça que o percentual de incidência do zumbido como efeito colateral é extremamente baixo e que não justifica a opção por não tomar a vacina, dado o fato de que o risco de contrair a covid-19 e desenvolver um quadro grave é mais alto.

Ela afirma que não está bem claro o motivo que causa o zumbido, mas sugere que essas reações "podem ser desencadeados a depender do perfil genético, hereditário, daquele indivíduo".

"O provável mecanismo por trás a gente não conhece, não está completamente elucidado, mas acreditamos que está relacionado a uma reação exagerada aos componentes vacinais, incluindo aí a possibilidade de um efeito tromboembólico, microtromboembólico, trombótico nessa região aí da via auditiva, seja na orelha, seja na via auditiva central", afirma a médica, que faz parte do Departamento de Otoneurologia da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial) e do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

A profissional pontua que algumas vacinas, como as de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna) são mais reatogênicas, mas que os efeitos adversos mais comuns são passageiros. Podem ocorrer em torno de 10% a 15% das pessoas, e normalmente são febre, dores no corpo, calafrios, cansaço e dor de cabeça, além de reações no local da injeção.

A reportagem procurou o Ministério da Saúde para obter informações sobre efeitos adversos relatados das vacinas em uso no país: CoronaVac, AstraZeneca e, mais recentemente, Pfizer. Mas a pasta não enviou os dados solicitados.

No painel de farmacovigilância da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não consta zumbido como reação das vacinas aplicadas no país até o momento.

Estabelecer relação direta com vacina é difícil

O médico otorrinolaringologista Alexandre Colombini explica que o zumbido pode ter diversas causas, desde as que envolvem o ouvido, como perda de audição, até fatores emocionais, como ansiedade.

Todavia, a origem pode ser ainda odontológica, vascular, neurológica, comportamental (principalmente alimentação), entre outras.

Até mesmo medicamentos usados no dia a dia como ibuprofeno e ácido ácido acetilsalicílico (Aspirina) podem provocar zumbido, diz o especialista.

Por esta razão, afirma, relacionar a vacina exclusivamente ao surgimento ou agravamento do zumbido é difícil.

"Para dizer que um paciente teve zumbido porque tomou a vacina, eu tenho que ter certeza que eu excluí todas as outras causas, o que é praticamente impossível. A não ser que tenha uma amostra estatisticamente, de 100 pessoas que tomaram a vacina, 30 começam a ter zumbido, por exemplo. [...] Se a gente começa a observar que, estatisticamente, começa a ter uma relevância, aí talvez comece a ficar mais fácil de fazer uma correlação com a vacina ou com um tipo de vacina. Mas a princípio é complicado."

Colombini lembra ainda que estudos estimam que até 17% da população mundial pode zumbido, sendo a perda de audição ou disfunção do complexo auditivo as causas mais comuns.

Independentemente de haver suspeita ou não de relação com a vacina, o médico diz que o zumbido deve ser investigado, até mesmo porque, ao contrário do que muitas vezes se espalha na internet, este é um problema para o qual há tratamento e chance de cura.

"Independente de você ter zumbido antes, durante ou depois da vacina, o fato de você ter zumbido já é uma indicação para você procurar um profissional, um otorrinolaringologista, para poder fazer a investigação. Esse zumbido pode ser desde um erro alimentar até um tumor dentro da sua cabeça, sem exagero. [...] Muitas vezes, a gente pesquisa, faz inúmeros exames, verifica dieta, todas as causas e não consegue chegar no diagnóstico. E aí acabamos tentando tratar os sintomas. Às vezes, posso realmente não conseguir tirar o zumbido, mas consigo amenizar, que aquilo não vai te incomodar."

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