Saúde Apraxia de fala na infância gera dificuldades nas relações da criança

Apraxia de fala na infância gera dificuldades nas relações da criança

Atraso na fala se dá pela dificuldade de gerar os sons e nos movimentos que a boca da criança deve fazer; tratamento é feito com fonoaudiólogo

  • Saúde | Giovanna Borielo, do R7*

Toda a família de Ana Beatriz é engajada em seu tratamento

Toda a família de Ana Beatriz é engajada em seu tratamento

Arquivo pessoal

"Nós percebemos que a Ana Beatriz, desde seu primeiro aninho era muito quietinha, não balbuciava nada. Tentamos com um fonoaudiólogo durante 11 meses e trocamos porque ela ainda não falava. Depois de seis meses com a nova fono, foi levantada a suspeita da apraxia de fala na infância, mas como ela não era especialista nisso, fomos atrás de uma fono que tivesse experiência", conta a internacionalista Fabiana Collavini, 42, mãe de Ana Beatriz, 7.

Em 2014, com 2 anos e 4 meses, o diagnóstico de Ana foi concluído como apraxia da fala na infância com manifestações severas. Desde então, ela começou o tratamento e hoje está quase alfabetizada, mas ainda apresenta algumas dificuldades. 

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De acordo com a fonoaudióloga Elisabete Giusti, consultora técnica da Abrapraxia (Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância), a apraxia da fala na infância é um transtorno motor, no qual a criança sabe o que quer falar, compreende o que é falado para ela, mas tem dificuldade de produzir os sons da fala. 

"É como se o cérebro soubesse o que quer falar, mas tem uma falha na hora de enviar os comandos para os músculos da boca reproduzirem os sons. Esse transtorno afeta o planejamento e a programação da fala", explica. 

Essa dificuldade pode ser ocasionada por alterações genéticas em crianças que tiveram algum problema durante a gestação ou durante o nascimento, como a falta de oxigenação, ou pode não ter a causa identificada. Há também a associação da apraxia entre crianças que tenham transtornos do neurodesenvolvimento, como a Síndrome de Down ou o autismo.

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Entre alguns sintomas que podem indicar a apraxia estão as crianças a partir de 18 meses de idade com um repertório verbal limitado, sem aumento de vocabulário; crianças que falam apenas algumas sílabas das palavras; crianças que falam palavras curtas ou monossilábicas; crianças que compreendem muito bem, mas falem pouco; crianças que falam de maneira ininteligível, sem clareza de fala e erros de sons, dificultando o entendimento até mesmo dos pais; e crianças que falam em um mesmo tom, ou seja, perguntas e exclamações são faladas de um mesmo jeito, como uma afirmação.

Elisabete explica que a apraxia de fala é diferente da apraxia oral, pois, no segundo caso, a criança tem dificuldade em realizar movimentos orais, como sugar no canudinho, mandar beijos e mastigar, o que dificulta a alimentação.

A médica afirma que é um erro dizer que aquela criança não fala por preguiça ou que ela não fala por falta de estímulo, pois isso esconde a real dificuldade que ela possui.

"Essas crianças têm noção da sua dificuldade, elas querem se comunicar, querem chegar na escola e chamar o amigo para brincar, mas elas não conseguem falar. Isso gera baixa autoestima, timidez, retraimento, dificuldade para socializar, e elas podem se fechar, porque isso causa sofrimento", afirma Elisabete. 

Para Fabiana, receber o diagnóstico da filha foi um baque. "A gente sempre espera que nosso filho seja perfeito, mas resolvemos transformar esse sofrimento em ação e procuramos o melhor para a Ana", conta.

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Fabiana afirma que a escola é o maior desafio para a filha pois, além da apraxia da fala, Ana possui um atraso motor global, dificultando algumas atividades e amizades. "O ideal é abrir o jogo para os outros pais, para a escola e para os amiguinhos, explicar a situação", afirma.

"Esse diagnóstico é importante porque é um transtorno que afeta o planejamento da fala, é uma alteração motora, e o tratamento é diferente porque é totalmente voltado para essa alteração. Então, sem o diagnóstico, o tratamento oferecido pode não ser aquele que a criança precisa, não respondendo à terapia oferecida", explica a fonoaudióloga.

Elisabete afirma que as manifestações da apraxia podem ser desde leves a severas, ocasionando muita dificuldade para aquela criança, podendo ter o tratamento como um desafio.

O diagnóstico é realizado de maneira clínica, por meio do histórico do paciente. Elisabete ressalta que é necessário que o diagnóstico seja realizado por um profissional que tenha conhecimento pois, muitas vezes, por ser um problema desconhecido para muitos médicos, pode não ser identificado.

O tratamento é feito por meio da terapia fonoaudiológica de maneira individualizada, abordando as maiores dificuldades daquela criança. A fonoaudiologia ensinará, por meio da repetição, visualização da fala e com a ajuda do profissional, que posicionará a boquinha da criança para os movimentos da fala, como a dicção e os sons devem ser realizados. A frequência das consultas pode variar de duas a cinco vezes por semana, dependendo do grau de comprometimento da fala dessa criança.

"Falar para essa criança não é algo natural. Os pais devem participar desse tratamento e ajudar na prática diária da fala, mas não devem fazer muitas perguntas, pois atrapalha a criança, que fica na ansiedade para responder e a fala não consegue sair", finaliza Elisabete.

Ana Beatriz diz que conta não só com a fonoaudióloga, mas também com a ajuda do irmão mais velho, o Marco Antônio, 9, que entende tudo o que a irmã fala. "Foi um processo natural para ele, porque eles convivem desde pequenos. Ele se preocupa com ela e foi um grande auxiliador para a Ana", conta Fabiana.

*Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Giannini

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