Campanhas contra chikungunya, dengue e zika não bastam para combater doenças, diz Unicef
Estudo mostra que diversos fatores criam barreiras para que campanhas de prevenção tenham efeito
Saúde|Beatriz Oliveira*, do R7, em Brasília
Segundo estudo feito pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), apenas o investimento em campanhas de conscientização não é suficiente para combater a transmissão de doenças virais por mosquitos, como a dengue, zika e chikungunya. O levantamento, divulgado nesta quinta-feira (24), foi feito a partir de entrevistas e pesquisa de campo.
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A chefe de saúde do Unicef no Brasil, Luciana Phebo, explica que as campanhas levam informações sobre o que é bom para a população e as famílias, mas nem sempre são eficazes.
“Há uma diferença entre o que as pessoas falam que fazem e os hábitos que efetivamente incorporam em suas rotinas diárias. Fazer ou não fazer algo depende de uma enorme confluência de fatores, comportamentos, normas sociais, infraestrutura e acesso a políticas públicas”, explica.
O estudo mostra que existem alguns fatores psicológicos que dificultam o combate à proliferação da doença, como a sensação de esforço. Para evitar a multiplicação dos mosquitos, é indicado redobrar a limpeza de caixas d’água e calhas. Esses serviços podem ser vistos como difíceis ou complicados, o que desmotiva as pessoas por não terem tempo para dedicar a isso.
Outro ponto abordado é a dificuldade de entender a gravidade dos sintomas causados pelas doenças. Segundo a pesquisa, pessoas que nunca tiveram a doença podem relaxar no cuidado por não saberem o nível da infecção. O alerta para os riscos pode aumentar durante períodos de epidemia, principalmente em épocas de chuvas, mas some quando eles acabam.
Além disso, serviços e recursos para proteção, como compra de repelentes e medicamentos, podem não ser acessíveis para parte da população, que fica responsável para adquiri-los com recursos próprios já que o governo não cobre todos os custos.
Influência coletiva
A pesquisa aponta que o contato com a comunidade pode influenciar os indivíduos a aderirem procedimentos de combate. Organizações de bairro costumam promover ações conjuntas que chamam os moradores para limpar as casas e evitar a proliferação do mosquito. Além disso, esses movimentos causam nas pessoas uma sensação de obrigação moral de participar e fazer algo que é esperado delas, como diz o Unicef.
Entretanto, várias pessoas entrevistadas pela instituição afirmam que não são próximas dos vizinhos ou não conhecem ninguém. Isso faz com que seja difícil para elas engajarem com um grupo e, consequentemente, impactar na influência coletiva.
O estudo também traz os problemas causados pela estrutura precária das cidades. É citada a falta de coleta de lixo, que influencia o descarte em terrenos vazios e a criação de lixões ao ar livre. O pouco preparo e a falta de confiança nos agentes governamentais também geram empecilhos para que a população enfrente as doenças virais de forma mais eficaz.
*Sob supervisão de Leonardo Meireles