Câncer de pulmão, como o da atriz Ana Beatriz Nogueira, tem maior chance de cura
A artista descobriu o tumor ainda em fase inicial, o que permite que a cirurgia para remoção seja a primeira alternativa de tratamento; especialista explica as principais causas do problema
Saúde|Hysa Conrado, do R7
A atriz Ana Beatriz Nogueira, de 54 anos, descobriu um câncer no pulmão por meio de um exame de rotina após passar por um quadro de gripe. Devido ao tumor estar em estágio inicial, ela passará por uma cirurgia para sua remoção.
De acordo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), este é o segundo tipo de câncer mais comum no Brasil, sendo o de maior incidência e o que mais mata em todo o mundo.
Apesar dos dados alarmantes, o oncologista Carlos Teixeira, coordenador da oncologia torácica do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, ressalta que os avanços no tratamento da doença têm possibilitado uma maior expectativa de vida para os pacientes diagnosticados.
“Este é um dos cânceres que mais melhoraram em termos de tratamento nos últimos 15 anos. Antes, o paciente com metástase [quando as células cancerígenas se espalham para outras áreas do corpo] vivia de seis a oito meses. Hoje, esse paciente pode chegar a 30, 40 meses de vida, ou seja, mais de dois anos de expectativa de vida; alguns podem viver até mais do que cinco anos mesmo com metástase”, explica o médico.
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Dados do Inca mostram que o tabagismo é responsável por 85% dos casos desse câncer, e a exposição passiva ao tabaco também pode contribuir para a formação do tumor.
Além disso, Teixeira destaca que, apesar de menos incidentes, há outros fatores que podem contribuir para o surgimento do problema, como poluição ambiental ou mesmo questões relacionadas ao trabalho, como profissionais da indústria que ficam expostos ao amianto. “Existem alguns tumores que têm predisposição familiar com câncer de pulmão, mas isso é muito raro”, afirma.
Tratamentos
O tratamento para o câncer de pulmão depende do estágio em que foi diagnosticado. No caso da atriz Ana Beatriz Nogueira, o tumor foi detectado em tamanho pequeno e ainda em fase inicial, permitindo que a cirurgia para remoção seja a primeira alternativa, o que eleva a chance de cura para até 80%, segundo o oncologista.
No entanto, dados do Inca mostram que apenas 16% dos cânceres de pulmão são diagnosticados no estágio inicial, fator importante que pode aumentar em 56% a taxa de sobrevida de cinco anos.
Já para aqueles pacientes em que o tumor é detectado em um estágio intermediário, isto é, antes da metástase mas já em um estágio avançado, as opções de tratamento são a quimioterapia, radioterapia e imunoterapia, essa última despontando como uma novidade que pode aumentar em até 50% a expectativa de vida do paciente, segundo o especialista.
“A imunoterapia é feita de forma injetável, com doses mensais durante um ano. Esse tratamento funciona de maneira indireta, ou seja, não vai atacar diretamente o câncer, mas vai estimular o sistema imunológico para atacar [o tumor], então [o paciente] passa a ter um uma efetividade maior do sistema imunológico e os efeitos colaterais são muito mais brandos que os da quimioterapia, porque não há vômito nem queda de cabelo, por exemplo”, explica Teixeira.
Já para os quadros em que o câncer está em estágio avançado, com ocorrência de metástase, além da imunoterapia e quimioterapia, é possível fazer a terapia-alvo, um tipo de tratamento feito com uso de pílulas que ataca diretamente algumas mutações específicas do câncer de pulmão.
“Existem muitos subtipos de câncer de pulmão, então hoje se faz uma pesquisa avançada para ver suas alterações genéticas, porque eles podem ter mutações importantes; então se faz o tratamento guiado e personalizado para aquele câncer, não se trata todo mundo do mesmo jeito hoje em dia”, destaca o oncologista.
Tipos de câncer de pulmão
O câncer de pulmão é dividido em dois grupos: o de pequenas células, que corresponde, em média, a 15% dos casos, e o de células não pequenas, que é responsável por 85% dos diagnósticos e compreende o do tipo carcinoma, o tumor mais frequente no Brasil, segundo o especialista.
“Também temos o carcinoma escamoso, um subgrupo menor que tem uma relação grande com o cigarro, assim como o de pequenas células também tem. Há várias mutações que podem estar presentes nesse subtipo de adenocarcinoma, e se acharmos uma é possível fazer o tratamento direcionado com terapia-alvo”, explica Teixeira.
Prevenção
A principal forma de prevenir o câncer de pulmão é não fumar. Nesse sentido, o oncologista faz um alerta sobre o uso do cigarro eletrônico, dispositivo inserido no mercado como uma alternativa para aqueles que querem parar de fumar, mas que mostrou ser tão nocivo quanto o cigarro comum. Vale destacar que a comercialização dos vapes, como esses cigarros eletrônicos também ficaram conhecidos, é proibida no Brasil.
Para aqueles que fizeram uso do cigarro por mais de 30 anos, o médico destaca a possibilidade de realizar um exame preventivo anual que, neste caso, não previne o câncer, mas facilita a detecção precoce do tumor, o que aumenta a chance de cura e de efetividade do tratamento.
“O exame é feito com uma tomografia de tórax de baixa dose. Não é para todo mundo, só para o grupo de risco, que são aquelas pessoas com mais de 55 anos que fumaram por mais de 30”, explica.