Cientistas alertam para mutação capaz de tornar zika vírus ainda mais perigoso
Grupo simulou possíveis alterações genéticas que facilmente fariam com que o patógeno escapasse da imunidade conferida por doença anterior e fosse mais virulento
Saúde|Do R7
Em uma série de simulações em laboratório, cientistas do Instituto La Jolla de Imunologia, na Califórnia (EUA), descobriram que uma pequena alteração de um aminoácido no material genético do vírus da zika pode ser capaz de torná-lo mais forte, a ponto de escapar da imunidade prévia.
Os resultados do estudo foram publicados nesta terça-feira (12) na revista científica Cell Reports.
A equipe dos pesquisadores Sujan Shresta e Pei-Yong Shi recriou os ciclos de infecção entre células de mosquitos e camundongos.
Eles, então, puderam ver quais mutações eram mais prováveis. Uma delas foi a alteração de um aminoácido do material genético que permite que o zika faça mais cópias de si mesmo, o que aumentaria a replicação também em células humanas.
"Essa única mutação é suficiente para aumentar a virulência do vírus da zika. Uma alta taxa de replicação em um mosquito ou hospedeiro humano pode aumentar a transmissão viral ou a patogenicidade – e causar um novo surto", disse em comunicado o pesquisador Jose Angel Regla-Nava, da Universidade de Guadalajara, no México, que também conduziu o estudo.
É comum que em áreas onde o zika circula também haja infecção pelo vírus da dengue, o que garante a quem já teve dengue uma imunidade celular cruzada contra o zika.
Uma mutação como a observada no laboratório do Instituto La Jolla, todavia, acabaria com isso, alerta Sujan Shresta.
"A variante do zika que identificamos evoluiu até o ponto em que a imunidade de proteção cruzada proporcionada pela infecção anterior por dengue não era mais eficaz em camundongos. Infelizmente, para nós, se essa variante se tornar predominante, poderemos ter os mesmos problemas na vida real."
O Brasil viveu uma epidemia de zika em 2015 e 2016. Embora adultos infectados desenvolvam um quadro moderado da doença, semelhante ao da dengue, mulheres grávidas infectadas podem dar à luz bebês com microcefalia, uma malformação que faz com que o cérebro seja menor.
A transmissão é feita pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que pode carregar o vírus da dengue ou da chikungunya. A melhor forma de evitar surtos da doença é a limpeza de áreas que acumulam água, ambiente em que o inseto deposita seus ovos.