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Conselho Federal de Medicina lança cartilha sobre doping

Lançado a um mês da Copa do Mundo, guia explica quais são as substâncias e por que são proibidas; desde 2016, Brasil já puniu 30 atletas por doping

Saúde|Deborah Giannini, do R7

Capa da cartilha que traz informações sobre doping
Capa da cartilha que traz informações sobre doping

A um mês da Copa do Mundo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) lança, com a colaboração de entidades médicas e esportivas, um guia de orientações sobre o doping.

A cartilha é destinada a médicos e atletas, mas também pode ser acessada por interessados em geral por meio de um link no site da entidade.

Produzido pela Câmara Técnica de Medicina do Esporte do CFM, o documento dispõe de 72 páginas e tem o objetivo de conscientizar esportistas sobre os riscos do uso inadvertido de fórmulas e os médicos e profissionais da saúde sobre os efeitos que determinados medicamentos podem gerar, segundo o órgão.

O coordenador da Câmara Técnica, Emmanuel Fortes, ressaltou, em comunicado, que muitos atletas são pegos em exames antidoping porque usaram medicamentos prescritos por médicos que não são do clube e não tinham conhecimento das substâncias proscritas no esporte.


Segundo ele, o Brasil já esteve entre o grupo dos dez países com maior número de casos de doping registrados pela WADA, entidade esportiva internacional que fiscaliza o tema. “Hoje é um problema contra o qual as autoridades brasileiras estão mais atentas. No entanto, infelizmente o doping tem alcançado muitos adeptos no esporte amador, principalmente entre aqueles que buscam notoriedade nas redes sociais”, afirma na nota.

O doping é caracterizado pela utilização de substâncias ou métodos proibidos capazes de promover alterações físicas ou psíquicas que melhoram artificialmente o desempenho esportivo do atleta, segundo a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem).


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A cartilha traz informações sobre substâncias consideradas válidas, mas com consumo não liberado entre competidores por interferirem em seu desempenho e por provocarem ganho de força, velocidade ou resistência.

Os atletas profissionais ou de alta performance de todas as modalidades são os mais vulneráveis pela ingestão indevida desses produtos, pois são rotineiramente submetidos a testes de doping, informa o CFM.


O órgão chama a atenção também para esportistas amadores que também podem ser prejudicados com o uso desses produtos, com o aumento do rigor na fiscalização de provas específicas para esse grupo.

De acordo com Hésojy da Silva, do CPB e responsável pela elaboração do documento, a tendência é que as análises para identificar casos de dopagem passem ser comuns em eventos não profissionais.

Substâncias proibidas

Entre 2015 e 2016, os resultados positivos de doping aumentaram de 1,26% para 1,60% em todo o mundo. Segundo relatório da WADA, esse aumento está ligado à inclusão do Meldonium entre as substâncias proibidas.

O fármaco ficou mundialmente conhecido após a denúncia de doping da tenista russa Maria Sharapova.

O CFM informa que se trata de uma substância usada para tratamento de problemas cardíacos e normalmente é receitado para quem sofre de isquemia do coração, doenças neurodegenerativas, pulmonares e doenças do sistema imunológico.

De acordo com a entidade, entre as 721 ocorrências de uso de substâncias classificadas como Moduladores Metabólicos e Hormonais, o Meldonium foi responsável por 71% dos casos.

O CFM afirma que, entre os atletas amadores, uma das substâncias mais comuns é a Eritropetina, um hormônio que eleva a produção de células vermelhas no sangue.

Ao aumentar a capacidade de transporte de oxigênio, a substância permite a produção de energia aeróbica e melhora o rendimento em provas longas e extenuantes.

Segundo o CFM, o medicamento é indicado para doenças que afetam a produção de células vermelhas e o uso indevido pode acarretar em doenças como trombose, além de aumentar as chances de um infarto ou um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O mais famoso caso de dopagem por Eritropetina é o do ciclista americano Lance Armstrong, que ficou conhecido por ter vencido o Tour de France sete vezes (de 1999 a 2005). Armstrong teve todos seus títulos cassados e perdeu todos os patrocínios.

Nas academias, as substâncias mais comuns são os esteroides anabolizantes, hormônios produzidos sinteticamente a fim de substituir a testosterona, de acordo com o CFM. “Nomes como androsterona, dianabol e drostanolona são recorrentes nesse meio e, inclusive, de fácil acesso em farmácias convencionais ou nas de manipulação”, afirma a entidade em nota.

O CFM explica que os efeitos buscados pelo remédio são a perda de gordura e o aumento da massa muscular, mas os efeitos colaterais são diferentes em homens e mulheres.

Nas mulheres, há o desenvolvimento de características masculinas, como engrossamento da voz, crescimento de pelos e aumento da força física, assim como perda de gordura e aumento da massa muscular.

Já nos homens ocorre o inverso. Ao injetar hormônios extras, o corpo masculino entende que não precisa mais produzir e isso leva a um atrofiamento dos testículos.

Em 2007, durante os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, a nadadora brasileira Rebeca Gusmão foi acusada no exame antidoping por altas taxas de testosterona no corpo. Na época, a nadadora perdeu as quatro medalhas conquistadas na competição – dois ouros, uma prata e um bronze, além de ser banida do esporte olímpico.

Doping no Brasil

No Brasil, o Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem, criado em 2016, já puniu cerca de 30 atletas pelo uso de substâncias proibidas – alguns casos estão em grau de recurso. Ao todo, aproximadamente 70 processos tramitam na Corte, de acordo com comunicado do CFM.

Segundo o relatório mais recente publicado pela WADA (sigla em inglês da Agência Mundial Antidoping), de 2016, entre os 34 laboratórios certificados pela entidade em 29 países pelo mundo, o Brasil possui a 10ª menor média de Resultados Analíticos Adversos (AAF, na sigla em inglês), que são os casos nos quais foram identificadas substâncias proibidas nos exames de doping.

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Das 9.465 amostras submetidas a exames de urina e sangue, 98 apresentaram resultados positivos (AAF), número que representa 1,04% do total das amostras, segundo informações fornecidos pelo CFM. Esse número está abaixo da média mundial.

O CFM informa que, além disso, outras 716 amostras foram coletadas para serem submetidas ao exame do Passaporte Biológico do Atleta (ABP), que analisa a saúde do atleta a partir de dados sanguíneos em busca de alterações. Com os avanços científicos e tecnológicos, o crescimento desse tipo de exame já é perceptível. Só no Brasil, os números saltaram de 101 coletas, em 2015, para 716 no ano seguinte.

“Esperamos que essa cartilha sirva de apoio não só para os profissionais especializados no tema, mas para todos os interessados”, afirmou presidente do CFM, Carlos Vital, por meio do comunicado.

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