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Coronavírus em alimentos representa risco à saúde? 

China informou na quinta-feira ter detectado amostras do vírus em carregamento de carne de frango produzido em frigorífico de Santa Catarina

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Não há evidências de covid contraída por alimentos
Não há evidências de covid contraída por alimentos

A notícia de que autoridades chinesas detectaram o novo coronavírus em uma carga de frango importado do Brasil reacendeu questionamentos e preocupações sobre a segurança de alimentos em meio à pandemia.

A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), rapidamente, emitiu um comunicado em que afirma que traços do vírus foram encontrados na embalagem das aves, e não na carne.

O que muita gente se pergunta nestas horas é: há risco em manusear ou, eventualmente, consumir alimentos que estejam contaminados pelo vírus causador da covid-19?

Primeiramente, é preciso entender alguns pontos importantes. Um deles é que o coronavírus SARS-CoV-2 entra em seres humanos pela via respiratória, onde há receptores em que ele se "acopla".


"Mesmo que você coma, vamos supor, uma maça que você não lavou. Você pode comer e ingerir o coronavírus, mas ele não vai te infectar porque você comeu, mas, provavelmente, a sua mão [que encostou no vírus] pode encostar nas mucosas do nariz", explica a infectologista Lina Paola, infectologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Daí a necessidade de lavar as mãos constantemente ou utilizar álcool em gel como medida de prevenção.


No caso do SARS-CoV-2, a transmissão é muito mais fácil por meio do contato humano ou das mãos que encostam em locais infectados do que por alimentos e objetos, explicam especialistas.

Para o virologista e professor Maurício Nogueira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em São Paulo, o vírus deve ter chegado ao carregamento por meio de "alguém [infectado] que colocou [as aves] na caixa ou por alguém que [as] tirou da caixa".


"Alguém na manipulação disso estava contaminado. Está havendo muitos casos [de covid-19] em frigoríficos. Agora, isso não significa nada, vai ser apenas utilizado [por países] como barreira sanitária."

Pesquisadores também acham pouco provável que o vírus tenha chegado ao continente asiático com capacidade infecciosa. Isto porque o teste molecular que o detectou verifica apenas que há partículas virais, mas não a viabilidade dele para contaminar alguém.

Santa Catarina, estado de onde partiu o carregamento de frango para a China, já registrou mais de 3.000 funcionários de frigoríficos com covid-19, segundo um levantamento do Ministério Público do Trabalho.

Outra questão que precisa ser levada em conta é a carga viral. A quantidade de vírus em determinada superfície é capaz de infectar alguém?

A infectologista da BP explica que fatores externos enfraquecem e inativam o poder do coronavírus.

"O vírus tem que aguentar o calor, os raios UV [ultravioleta], a temperatura do local, estar em uma superfície inanimada e tem que ser uma quantidade enorme de vírus para você ser contaminado. A gente sabe que o contato com as pessoas — o beijo, aperto de mão, espirro, tosse... —[transmite] mais do que qualquer superfície contaminada. O inóculo, a quantidade de vírus, é maior de pessoa a pessoa."

O diretor-executivo da OMS (Organização Mundial da Saúde), Michael Ryan, também foi questionado a respeito do assunto, em entrevista coletiva na quinta-feira (13), e ressaltou que não existe qualquer indício de que o SARS-CoV-2 possa infectar alguém por meio de alimentos.

O principal cuidado, acrescenta Lina, deve ser com a manipulação. Mas não apenas por causa do coronavírus. Produtos comprados em supermercados podem conter uma série de vírus, bactérias e fungos nocivos à saúde.

Higienizar o que chega da rua ajuda a prevenir contra covid-19 e até mesmo de infecções alimentares.

O cozimento adequado dos alimentos também é fundamental. Micro-organismos como o coronavírus não sobrevivem a altas temperaturas.

"Você pode lavar tudo, porque não sabe se quem manipulou aquele alimento estava doente, desta doença [covid-19] ou de outras, que podem incluir diarreia. Mas não precisa fazer nada além do que a gente já sabe", observa a infectologista.

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