Covid-19: falta de convívio social pode afetar crianças e bebês?
Especialista afirma que tristeza e saudade são sentimentos recorrentes que geram sofrimento, mas pais podem ajudar a lidar com diálogo e afeto
Saúde|Brenda Marques, do R7
Viver em meio a uma pandemia é uma situação inédita e, portanto, cheia de incertezas para todas as pessoas. Mas, as crianças assimilam essa experiência de maneira diferente. A saudade dos familiares e o medo da morte, por exemplo, têm outra dimensão. Nesse contexto, o afeto e o diálogo com os pais são alicerces para que a criança aprenda a lidar com esses sentimentos.
O pediatra e psicólogo Eduardo Goldenstein, secretário do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo, pondera que dizer que a falta de convívio social vai afetar o desenvolvimento da criança e causar traumas é algo exagerado.
De acordo com ele, para isso acontecer o período de isolamento precisa ser mais longo do que o vivenciado até agora. A possibilidade de que um bebê demore mais para falar ou andar também está descartada.
Aliás, a presença constante dos pais pode ser um impulso nesse sentido, uma vez que a atenção se volta completamente para o novo membro da família.
"Significa muito no meio de tanta confusão. O mundo gira em torno do bebê. Quando o casal dá à luz, entra em um mundo de extrema alegria, se volta para [questões como] amamentação, afetividade e receptividade", analisa o especialista.
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Por outro lado, a tristeza e a saudade de amigos e familiares se tornam sentimentos recorrentes, mas que podem ser ressignificados com afeto.
"A criança tem um sofrimento, mas quando acaba [a situação que causa o transtorno], pronto, já resolve o problema", afirma. "O que mais pesa é o comportamento dos pais. Tudo é superado desde que a criança seja acolhida. Quando elas se sentem acolhidas, assimilam todas as outras coisas que acontecem muitíssimo bem", completa.
O médico acrescenta que traumas só aconteceriam em situações mais drásticas, como a perda dos pais.
"Eu atendo um menino de seis anos que o pai sofreu infarto e está na UTI. Ele está louco para ver o pai. A gente orientou a mãe a estimulá-lo a fazer desenhos e entregar ao pai, falar que eles vão fazer passeios quando ele voltar. Isso acalma", exemplifica.
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Goldenstein ressalta que cada criança e sua respectiva família vão lidar de modos diferentes com a realidade imposta pela pandemia. Mas, nesse contexto, a postura dos pais é decisiva.
"Se ficarem dando ordens, brigando e não houver afetividade, tudo piora. A criança precisa de amor e carinho, isso é básico. Se ela sente os pais presentes, fica mais segura e assim, consegue lidar com as dificuldades da vida", ressalta.
No entanto, ele acrescenta que, ao mesmo tempo, é preciso impor limites. "Pode dar uma bronca, mas acolhendo ao mesmo tempo", aconselha. "A humanidade já passou por guerras e sofrimentos parecidos com esse [da pandemia], mas se a criança é acolhida, consegue se recuperar", enfatiza.