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Covid: diminuir isolamento pode aumentar número de infectados

Quarentena de cinco dias após infecção, em vez de dez, é considerada de alto risco por infectologistas e virologistas 

Saúde|Carla Canteras, do R7

Infecções mais brandas não indicam isolamento menor, dizem especialistas
Infecções mais brandas não indicam isolamento menor, dizem especialistas

A variante Ômicron, com mais capacidade de transmissão que o Sars-CoV-2 original e as outras cepas do vírus transmissor da Covid-19, fez com que o mundo batesse recordes seguidos de novos infectados diariamente.

Mas o fato de a infecção ser um pouco mais leve levou o CDC (Centro de Controle de Doenças e Infecções dos Estados Unidos), no fim do mês de dezembro, a diminuir o tempo de isolamento dos infectados de dez para cinco dias, se assintomáticos.

Com a decisão nos EUA, outros países começaram a adotar a mesma medida. No Brasil, o ministro Marcelo Queiroga anunciou nesta segunda-feira (10) que infectados assintomáticos e com teste negativo estarão liberados após cinco dias.

Médicos e cientistas dos EUA e do Brasil, no entanto, contestam a decisão. Para Flavio Guimarães da Fonseca, presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia), encurtar a quarentena dos infectados é arriscado.


"Falo com base na experiência que temos no nosso grupo. Estamos acompanhando pacientes da equipe infectados pela Ômicron, e eles se mantêm assintomáticos e infecciosos por oito dias. Ao diminuir muito o tempo de isolamento das pessoas que testam positivo, você incorre em um risco, porque é uma nova cepa extremamente infecciosa", diz o virologista.

O infectologista da SBI-DF (Sociedade Brasileira de Infectologia do Distrito Federal) José David Urbaez Brito concorda com Fonseca e salienta que a possibilidade de aumentar a massa de infectados e com capacidade de retransmissão é muito grande.


"Não existe nenhuma base científica sólida e os dados são escassos para dizer que no quinto dia a transmissão está interrompida. É bom lembrar que o isolamento é uma ferramenta de manejo da transmissão fundamental. Com isso, você estaria incrementando com uma quantidade enorme a massa de transmissores", afirma.

A falta de exames para a liberação da quarentena também é apontada como falha para a decisão. "Essa questão não tem nenhum correlato com a realização de um teste ou uma sequência de testes para que seja possível saber mais corretamente se aquela pessoa está ou não transmitindo o vírus. Então, é uma determinação absolutamente prematura", alerta Brito.


A infectologista e professora da Unicamp (Universidade de Campinas) Raquel Stucchi acredita que a diminuição de tempo é possível, mas seguindo regras determinadas e sérias.

"Com cinco dias as pessoas estão transmitindo bastante. Isso não deve ser feito porque vai deixar as outras pessoas em risco, mesmo com o uso de máscara. É possível passar para sete dias, em vez de dez, mas se a pessoa estiver sem sintomas, com teste PCR negativo e uso de máscara N95 por mais três dias. Quem continuar com o teste positivo, mesmo sem sintomas, deve continuar isolado", orienta Raquel.

Especialistas acreditam que a decisão do CDC foi tomada por pressão econômica e não com base científica. Ao jornal The New York Times, um dos maiores dos Estados Unidos, Yonatan Grad, professor de imunologia e doenças infecciosas da Escola de Saúde Pública Harvard, falou sobre isso.

"Para mim, honestamente, trata-se mais de economia do que de ciência. Suspeito que resultará em que pelo menos algumas pessoas saiam do isolamento mais rapidamente e, portanto, haverá mais oportunidades de transmissão, o que, é claro, acelerará a disseminação da Covid-19", disse ele.

O infectologista José David se surpreendeu com a media do órgão americano. "Em 2020, houve trabalhos bem-feitos sobre transmissibilidade. O CDC, que é o órgão que impulsiona o debate e atua muito nas regularizações, foi bastante cuidadoso com o tema e o tempo de isolamento. Agora essa decisão de cinco dias foi da noite para o dia e sob pressão de mão de obra. É uma contradição gigantesca na visão de domínio da Ômicron", pontua o médico.

O virologista Flávio Fonseca conclui: "É inadequada a diminuição em vista do grau de incerteza que temos sobre a Ômicron. Ainda estamos estudando [a nova cepa]. Mesmo que considerando o fato, já com dados científicos que o comprovem, de que essas infecções [pela Ômicron] são aparentemente mais brandas".

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