Covid pode atravessar a placenta e causar danos cerebrais em recém-nascidos, aponta estudo
Dois bebês tiveram convulsões e atrasos no desenvolvimento em decorrência do vírus, mas casos ainda são considerados raros
Saúde|Do R7
O vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, pode ser transmitido pela placenta da mãe e causar danos cerebrais no recém-nascido, segundo um estudo da Universidade de Miami, publicado nesta quinta-feira (6).
A investisgação mostrou que em dois casos do estudo, os especialistas descobriram que a Covid-19 havia atravessado a placenta e causado danos cerebrais no recém-nascido.
"Ambos os bebês tiveram resultados negativos para o vírus no nascimento, mas tinham anticorpos significativamente elevados para Sars-CoV-2 detectáveis no sangue, indicando que os anticorpos cruzaram a placenta ou a passagem do vírus ocorreu e a resposta imune foi a do bebê", segundo a reportagem, publicada na revista especializada Pediatrics.
Os dois bebês estavam internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Holtz Children's Hospital, parte do complexo do Jackson Hospital em Miami (EUA). Eles "tiveram convulsões, cabeça pequena e atrasos no desenvolvimento."
"Um bebê morreu aos 13 meses de idade", detalhou o centro.
A pesquisa constitui o primeiro estudo a confirmar "a transmissão transplacentária do Sars-Cov-2 levando a lesão cerebral no recém-nascido", de acordo com a Universidade do Sul da Flórida.
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"Estamos tentando entender o que fez essas duas gestações diferentes, para que possamos direcionar a pesquisa para a proteção de bebês vulneráveis", disse Shahnaz Duara, professor de pediatria e autor do estudo, em comunicado.
A especialista, que também é diretora da UTI do hospital Holtz, destacou que muitas mulheres são acometidas pela Covid-19 durante a gravidez, "mas ver esse tipo de problema em seus bebês ao nascer era claramente incomum."
Nesse sentido, os autores do estudo realçam que os dois casos descritos são "raros" uma vez que os médicos já viram "centenas de grávidas e parturientes com Covid-19 positivo" e apenas aquelas duas mulheres, cujos bebês foram registados, passaram por "lesões cerebrais devastadoras."
"Em ambos os casos, as mães contraíram a infecção no segundo trimestre e posteriormente a eliminaram, mas uma teve uma infecção repetida no terceiro trimestre, sugerindo que uma resposta imune materna e/ou fetal incomum ao vírus pode ter desempenhado um papel importante", destacou o estudo.
Durante os primeiros dias da pandemia de Covid-19, os pesquisadores observaram lesões pulmonares transitórias e, às vezes, problemas de pressão arterial em recém-nascidos que tiveram teste negativo ao nascer, como nos dois casos descritos, mas que nasceram de mães infectadas por Covid.
Não ficou claro, acrescenta o centro universitário, se nessas descobertas iniciais os problemas "foram causados por citocinas inflamatórias da placenta ou se o Sars-CoV-2 atravessou a placenta e feriu o bebê."
O neuropatologista Ali G. Saad, membro da equipe multidisciplinar de investigadores do estudo, examinou as placentas nos dois casos descritos e encontrou nelas "alterações patológicas da placenta causadas pelo Sars-CoV-2" identificáveis e também observou "alterações importantes no cérebro " após a autópsia.
Os pesquisadores enfatizam que os dados até agora sugerem "um curso relativamente benigno" em bebês com teste negativo após o nascimento e cujas mães foram infectadas, acrescentando que o próximo passo é identificar potenciais biomarcadores para identificar bebês de maior risco.
Os autores recomendam "como primeira linha de defesa" a vacinação contra a Covid-19 antes ou durante a gravidez, assim como a amamentação e o uso de máscaras se infetados, entre outras ações preventivas.
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