Doença comum há mais de cem anos ressurge na Escócia
Serviço Nacional de Saúde registrou 442 casos de raquitismo em 2022, um aumento de 25% em quatro anos
Saúde|Do R7
A Escócia vive um aumento do número de casos de raquitismo, uma doença comum na era vitoriana (1837-1901), principalmente em locais mais pobres do Reino Unido. Segundo o NHS (Serviço Nacional de Saúde), foram registrados 442 casos em 2022, um aumento de 25% quando comparado com o ano de 2018.
O raquitismo é causado em bebês e crianças devido à deficiência de vitamina D. Mães com baixos níveis desse nutriente dão à luz filhos com a doença.
"Em crianças entre 1 e 4 anos de idade, o crescimento ósseo tende a ser anômalo, causando desvios na curvatura da coluna vertebral (escoliose) e pernas arqueadas (joelho varo) ou joelhos juntos (joelho valgo). Essas crianças podem demorar a aprender a andar. É provável que as crianças mais velhas e os adolescentes sintam dor ao andar. A deficiência de vitamina D grave pode causar pernas arqueadas (joelho varo) ou joelhos juntos (joelho valgo). Em meninas adolescentes, ela pode provocar um achatamento dos ossos pélvicos, causando um estreitamento da vagina", descreve o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento.
Bebês podem ter o crânio macio e podem demorar mais para conseguir se sentar ou engatinhar, por exemplo.
Essa doença tinha praticamente desaparecido de todo o Reino Unido havia mais de meio século, graças a uma série de esforços para melhorar a dieta da população e incentivar pessoas a se exporem à luz solar.
Diferentemente da era vitoriana, em que as desigualdades sociais eram mais gritantes, haver pessoas com raquitismo hoje não é admissível, segundo a médica Helga Rhein.
"Como isso pode acontecer em um país moderno e desenvolvido? Não adianta culpar a pobreza, a culpa está no sistema de saúde pública na Escócia", disse a profissional, que faz parte do grupo de campanha Scots Need Vitamin D (Escoceses Precisam de Vitamina D), em entrevista ao tabloide Daily Mail.
Apesar disso, Glasgow — maior cidade da Escócia — é uma das áreas mais carentes do país. Estima-se que um terço das crianças viveu em situação de pobreza entre 2021 e 2022.
A clínica geral Lynsay Crawford, por outro lado, tem outras suspeitas acerca do aumento do número de casos de raquitismo na Escócia. Em entrevista ao jornal The Herald, ela falou sobre mudanças no perfil da população local.
"Eu só havia atendido pacientes idosos que tiveram raquitismo na infância e ficaram com deformidades nas pernas, até que Glasgow começou a receber mais migrantes e requerentes de asilo. Isso mudou tudo."
A deficiência de vitamina D frequentemente é observada em indivíduos que possuem uma limitada exposição à luz solar e não ingerem quantidades adequadas dessa vitamina em sua alimentação.
Ela menciona o fato de pessoas com pele mais escura terem produção menor de vitamina D.
"Além disso, mulheres de muitos países no exterior, principalmente se forem muçulmanas, vestem-se modestamente e cobrem mais a pele e passam menos tempo fora de casa, o que aumenta ainda mais o risco de raquitismo. Portanto, a maior porcentagem de raquitismo em Glasgow pode não ser apenas devido à pobreza, como costumava ser, mas pode estar ligada ao aumento da diversidade étnica", sugere.
Procurado pela imprensa local, um porta-voz do governo escocês recomendou à população que tome 10 microgramas de suplemento de vitamina D diariamente, "especialmente durante os meses de inverno, para ajudar a manter a saúde óssea e muscular".
Vitamina D: quando tomar suplemento e qual é a dose segura