Resumindo a Notícia
- A incidência de doenças infantis mortais aumentou em Tigray, na Etiópia
- A cobertura vacinal da região está abaixo de 10%
- A guerra civil que eclodiu há quase dois anos dificulta a vacinação
- Sarampo, tétano e coqueluche estão entre as doenças em ascensão
Hemen Hagos, criança etíope de 1 mês e meio internada com coqueluche
STRINGER/Reuters – 20.09.2022A incidência de doenças mortais como sarampo, tétano e coqueluche está aumentando na região de Tigray, na Etiópia, depois que as taxas de vacinação caíram durante a guerra civil que eclodiu há quase dois anos, dizem médicos e autoridades regionais de saúde.
A porcentagem de crianças em Tigray que receberam vacinas de rotina caiu abaixo de 10% neste ano, mostram dados do Departamento de Saúde de Tigray. Esses números desfazem os anos de esforços do governo para aumentar as taxas de imunização.
"As esperanças das crianças da região de crescerem mais saudáveis e felizes foram arrebatadas em um piscar de olhos", disse a agência, neste mês, em uma carta à Gavi (Aliança Mundial para Vacinas e Imunização).
A carta, vista pela Reuters, culpou pelo declínio na vacinação a escassez de suprimentos causada pelo que chamou de "cerco" de Tigray pelas forças federais etíopes, quedas de energia que interromperam as cadeias de frio das vacinas e ao impedimento às pessoas das áreas rurais de chegar às instalações de saúde.
Um cessar-fogo entre março e o fim de agosto entre Tigray e forças federais permitiu uma pequena ajuda médica, mas o acesso humanitário foi suspenso desde que os combates foram retomados, disse uma comissão de especialistas em direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) nesta segunda-feira (20).
Os especialistas disseram em um relatório que tinham motivos razoáveis para acreditar que a negação do acesso à saúde e outros auxílios pelas autoridades federais equivale a um crime contra a humanidade.
O porta-voz do governo etíope, Legesse Tulu, o porta-voz militar, coronel Getnet Adane, e o porta-voz do primeiro-ministro, Billene Seyoum, não responderam imediatamente aos pedidos de comentários sobre o relatório da ONU.
O governo negou repetidamente o bloqueio da ajuda e diz que a TPLF (Frente de Libertação Popular Tigray, na sigla em inglês), o partido que lidera o governo regional, é o responsável pelo conflito, que já matou milhares de civis.
A ministra da Saúde da Etiópia, Lia Tadesse, disse que as vacinas foram fornecidas a Tigray neste ano e que mais unidades estão prontas para ser entregues, assim que as condições permitirem.
Em sua carta, o Departamento de Saúde de Tigray diz que a porcentagem de crianças que receberam as três doses completas da vacina pentavalente, contra difteria, coqueluche, tétano, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b (Hib), caiu de 99,3% em 2020 para 36% em 2021 e 7% neste ano.
A taxa em toda a Etiópia foi de 65% em 2021, de acordo com dados da agência da ONU para crianças, a Unicef (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância).
A carta diz ainda que asporcentagem de crianças vacinadas contra a tuberculose e o sarampo também caíram, de mais de 90% em 2020 para menos de 10% neste ano.
Ele disse que houve surtos de sarampo em dez dos 35 distritos da região desde o início da guerra e 25 casos de tétano neonatal neste ano, em comparação com apenas dois em cada um dos três anos anteriores.
"As vacinas são dadas gratuitamente em toda a Etiópia, mas não estão chegando às crianças de Tigray", disse Fasika Amdeslasie, cirurgiã do Hospital de Referência Ayder, que, segundo ele, trata crianças com sarampo e coqueluche.
A Gavi, que compra e distribui vacinas para países em desenvolvimento, informou que forneceu vacinas contra o sarampo e a Covid-19 durante o cessar-fogo, mas algumas atividades foram suspensas desde que os combates foram retomados.
A ministra da Saúde disse que 860 mil doses de vacinas contra o sarampo foram entregues a Tigray em dezembro passado, e doses adicionais foram entregues em dois de abril.
Outra entrega planejada está suspensa por instrução do Programa Mundial de Alimentos da ONU, que coordena entregas humanitárias em Tigray.
A porta-voz do PMA, Claire Nevill, disse porém, que a agência aguarda autorizações do governo da Etiópia.
"Na ausência dessas autorizações, a entrega de suprimentos humanitários que salvam vidas, incluindo alimentos, nutrição e itens médicos, terá que ser suspensa", disse ela.
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