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Dormir bem pode reduzir risco de doenças cardiovasculares e metabólicas

Análise populacional nos Estados Unidos aponta que a qualidade do sono está ligada à gravidade de condição que afeta coração, rins e metabolismo

Saúde|Marília Marasciulo, da Agência Einstein

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Pessoas que dormem bem apresentam menor risco de estadiamento avançado da SCRM (Síndrome Cardiovascular-Renal-Metabólica).
  • Estudo com mais de 10 mil adultos revela que quase 90% possuem algum grau da SCRM, com 15% em fases graves.
  • Qualidade do sono afeta diretamente o controle de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
  • No Brasil, 18,6% dos adultos relatam problemas frequentes de sono.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Uma rotina saudável começa com uma boa noite de sono. E adotar determinados hábitos pode evitar que você fique se revirando na cama antes de conseguir adormecer. Uma das recomendações, por exemplo, é reduzir o consumo de álcool. Veja aqui outras dicas para um excelente momento de descanso
Dormir mal pode agravar fatores cardiovasculares e metabólicos Freepik

Pessoas que dormem bem têm menos risco de estar em estágios avançados da SCRM (Síndrome Cardiovascular-Renal-Metabólica), condição ligada a doenças como obesidade, diabetes, doenças renais e cardiovasculares. Essa é a conclusão de um estudo publicado no Journal of the American Heart Association e que representa mais um passo no entendimento da correlação entre sono e problemas crônicos.

A pesquisa analisou dados de mais de 10 mil adultos com idade média de 49 anos dos Estados Unidos e concluiu que existe uma associação entre a qualidade do sono e o estágio da SCRM. Embora não tenha estabelecido causalidade entre os dois fatores, o alerta é relevante: quase 90% dos adultos nos EUA apresentam algum estágio dessa síndrome, e 15% estão em fases mais graves.


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“Uma noite maldormida não é só reflexo de má saúde, mas também um fator de risco independente para hipertensão, diabetes, doenças renais e cardiovasculares”, alerta a neurologista Leticia Azevedo Soster, especialista em Medicina do Sono do Einstein Hospital Israelita. “Isso inclui o que a gente chama de desfechos duros, como óbito ou eventos cardiovasculares graves.”

Dormir mal ainda pode agravar fatores cardiovasculares e metabólicos, tornando tratamentos menos eficazes, dificultando o controle da pressão arterial e acelerando a progressão de doenças. “Alguns estudos de coorte mostram que pessoas que dormem pouco ou têm o sono muito fragmentado têm maior risco de um manejo clínico mais difícil”, afirma Soster. Ela dá como exemplo a hipertensão. “Não é a apneia do sono que está determinando a hipertensão, mas o sono ruim que faz o tratamento ser mais refratário.”


Índice de sono saudável

O estudo utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA coletados entre 2015 e 2020. Trata-se de uma base nacional representativa, frequentemente usada para mapear condições de saúde em larga escala. Os cientistas classificaram os participantes em diferentes estágios da SCRM, de 0 (sem fatores de risco) a 4 (doença cardiovascular clínica estabelecida). Os estágios 3 e 4 são considerados “avançados”, pois já refletem comprometimento cardiovascular significativo.

A novidade da pesquisa foi criar um índice de sono saudável, avaliando cinco parâmetros: duração, dificuldade para dormir, sonolência diurna excessiva, ronco frequente e noctúria (levantar-se várias vezes à noite para urinar). Cada característica foi pontuada como de baixo ou alto risco, compondo uma escala que classificou os indivíduos em três grupos: alta, moderada ou baixa qualidade de sono.


Pessoas com sono de alta qualidade apresentaram risco 45% menor de estar nos estágios avançados da SCRM. Já aquelas com sono moderado eram 32% menos propensas a esse quadro, enquanto os indivíduos com sono ruim concentraram os casos mais graves.

“Os fatores de sono que têm maior impacto são o tempo total de sono curto e a apneia obstrutiva de sono”, explica Soster. “A apneia está fortemente ligada ao quadro de pressão arterial, maior risco de arritmia e de infarto. Já o tempo total de sono reduzido — menos de seis horas — aumenta risco de diabetes tipo 2, obesidade e problemas cognitivos.”


Os autores da pesquisa são taxativos que a descoberta não significa necessariamente que um sono melhor leve a um menor risco de doença cardiovascular, uma vez que se trata de um estudo transversal. São necessários estudos longitudinais para determinar essa correlação.

Soster concorda que faltam respostas definitivas a partir de estudos longitudinais e experimentais. Ela prefere pensar na relação entre sono e doenças crônicas como um ciclo em que um retroalimenta o outro. “Quando tratamos distúrbios do sono, como a apneia, é possível melhorar o controle da pressão arterial, da glicemia e reduzir riscos cardiovasculares. Isso sugere que o sono tem um papel, não sabemos exatamente qual.”

A análise por grupos populacionais revelou diferenças importantes: a associação entre boa qualidade do sono e menor risco de agravamento da SCRM foi ainda mais forte em negros não hispânicos e asiáticos não hispânicos, sugerindo que vulnerabilidades sociais e genéticas podem intensificar o impacto do sono na progressão da doença. Consequentemente, intervenções de saúde pública focadas podem reduzir o problema.

Brasileiros dormem mal

Dezenas de milhões de brasileiros têm noites maldormidas de forma recorrente. É o que dizem os dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que revelam que 18,6% dos adultos no Brasil relatam problemas frequentes para dormir. Na prática, isso significa impactos diretos na produtividade, no humor e, como vem mostrando a ciência, na saúde de coração, rins e metabolismo.

Também é um problema de saúde pública — o que exige, segundo a neurologista do Einstein, uma leitura de cenário mais abrangente. Um exemplo são os longos deslocamentos urbanos e a baixa qualidade do transporte público, que obrigam as pessoas a saírem mais cedo de casa e a enfrentarem longas horas no trânsito.

“A custo de quê esse deslocamento está acontecendo? Do sono da pessoa, porque as crianças e os adolescentes não reduzem o tempo de escola, as empresas não reduzem o tempo de trabalho dos trabalhadores. Mas o trabalhador ou o estudante faz o quê? Reduz o tempo de sono”, analisa Soster.

Outro entrave está relacionado à segurança pública. Na visão da especialista, a violência urbana dificulta que as pessoas se desloquem a pé nas cidades, façam mais exercícios físicos e sejam menos sedentárias — o que contribuiria para uma boa qualidade de sono. “Ou seja, além de dormir pouco, a população dorme mal porque perde oportunidades de praticar atividade física regular, fundamental para induzir o sono natural”, explica. Ela aponta ainda a falta de acesso a serviços especializados em sono.

Essas barreiras indicam que, no Brasil, melhorar a qualidade do sono não é apenas uma questão de disciplina individual, mas também de fatores sociais. Enquanto o estudo internacional mostra que noites bem dormidas estão ligadas a um menor risco de doenças cardiovasculares, renais e metabólicas, a realidade brasileira revela que, sem mudanças estruturais, milhões de pessoas continuarão privadas da proteção que o sono concede.

Perguntas e Respostas

 

Qual é a relação entre a qualidade do sono e a SCRM (Síndrome Cardiovascular-Renal-Metabólica)?

 

Pessoas que dormem bem têm menor risco de estar em estágios avançados da SCRM, que está relacionada a doenças como obesidade, diabetes, doenças renais e cardiovasculares. Um estudo publicado no Journal of the American Heart Association analisou dados de mais de 10 mil adultos nos Estados Unidos e encontrou uma associação entre a qualidade do sono e o estágio da SCRM.

 

Quais foram os principais achados do estudo sobre sono e SCRM?

 

O estudo revelou que quase 90% dos adultos nos EUA apresentam algum estágio da SCRM, com 15% em fases mais graves. A neurologista Leticia Azevedo Soster destacou que uma noite maldormida não apenas reflete má saúde, mas também é um fator de risco para hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares.

 

Como a má qualidade do sono afeta o tratamento de doenças?

 

Dormir mal pode agravar fatores cardiovasculares e metabólicos, dificultando o controle da pressão arterial e tornando os tratamentos menos eficazes. Soster exemplificou que o sono ruim pode tornar o tratamento da hipertensão mais difícil.

 

Quais parâmetros foram utilizados para avaliar a qualidade do sono no estudo?

 

O estudo criou um índice de sono saudável avaliando cinco parâmetros: duração do sono, dificuldade para dormir, sonolência diurna excessiva, ronco frequente e noctúria. Os participantes foram classificados em grupos de alta, moderada ou baixa qualidade de sono.

 

Qual é o impacto da qualidade do sono nos estágios da SCRM?

 

Pessoas com sono de alta qualidade apresentaram 45% menos risco de estar em estágios avançados da SCRM, enquanto aqueles com sono moderado tinham 32% menos probabilidade de apresentar esse quadro. Indivíduos com sono ruim concentraram os casos mais graves.

 

O que os autores do estudo afirmam sobre a relação entre sono e doenças cardiovasculares?

 

Os autores afirmam que a descoberta não implica necessariamente que um sono melhor leva a um menor risco de doenças cardiovasculares, pois se trata de um estudo transversal. Estudos longitudinais são necessários para determinar essa correlação.

 

Quais fatores sociais podem influenciar a qualidade do sono no Brasil?

 

Fatores como longos deslocamentos urbanos e baixa qualidade do transporte público, que forçam as pessoas a acordarem mais cedo, impactam negativamente a qualidade do sono. Além disso, a violência urbana dificulta a prática de exercícios físicos, que são importantes para um sono saudável.

 

Qual é a situação da qualidade do sono entre os brasileiros?

 

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 indicam que 18,6% dos adultos no Brasil relatam problemas frequentes para dormir, o que impacta diretamente na produtividade e na saúde cardiovascular, renal e metabólica.

 

Qual é a conclusão sobre a relação entre sono e saúde?

 

A qualidade do sono está ligada a um menor risco de doenças cardiovasculares, renais e metabólicas. No entanto, melhorar essa qualidade no Brasil requer mudanças estruturais, pois muitos fatores sociais influenciam a capacidade das pessoas de ter um sono reparador.

 

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