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'É um despropósito', diz médico sobre flexibilizar uso de máscara

Governantes começam a pensar em desobrigar proteção em lugares abertos, mas especialistas não aprovam decisão

Saúde|Carla Canteras, do R7

Especialistas indicam que flexibilização de máscara só é possível com mais vacinados
Especialistas indicam que flexibilização de máscara só é possível com mais vacinados

A evolução da vacinação contra a Covid-19 no país levanta mais uma vez a discussão sobre a flexibilização ou não do uso de máscara. O infectologista Carlos Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp, é taxativo quando perguntado sobre o assunto.

"Neste momento, é um despropósito. Nós estamos conseguindo diminuir a Covid por uma combinação do uso de máscara com aplicação de vacinas. Mas ainda não temos a segunda dose para uma parte maciça da população, temos muitos idosos sem a terceira dose. No caso, tirar o uso de máscara é um risco de aumentar o número de casos e mortes desnecessariamente", ressalta o médico, que também é coordenador do estudo da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz) sobre os impactos da vacinação em massa em Botucatu, na cidade de São Paulo.

Soraya Smaili, professora de farmacologia da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo), reitora na gestão 2013-2021 e coordenadora do Centro SOU_Ciência, concorda que o momento não é indicado. "Eu considero que é precoce a decisão. Não atingimos ainda 50% da população com esquema vacinal completo. É necessário atingirmos entre 70 % e 80% da vacinação. Além disso, temos a necessidade de continuar a primeira dose, para chegarmos a 100% da população", orienta a professora. 

Na última segunda-feira (4), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou que a cidade pode desobrigar o uso da proteção em ambientes abertos a partir da metade deste mês, quando a cidade deve chegar a 65% da população local vacinada. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, também estuda essa possibilidade.


Uma vez que as cidades já voltaram a funcionar com comércio, restaurantes e bares abertos e com o retorno das atividades presenciais nas empresas, Fortaleza acredita que a questão da máscara passou a ter um valor mais simbólico para parecer o fim da pandemia.

"Quando as pessoas falam em abrir o comércio, bares e restaurantes, eu entendo, porque são questões econômicas. Mas não consigo entender qual é o dano de usar máscara. As pessoas começaram a criar uma implicância, uma necessidade para tirar o uso de máscara, no meu modo de ver, como um triunfalismo: vencemos a pandemia", diz o infectologista.


E acrescenta: "É uma medida populista para passar a ideia de que a pandemia acabou, e ela não acabou. Não sabemos se na África, onde as pessoas não estão vacinadas, não vai surgir uma nova variante".

Soraya salienta, ainda, que a utilização dá segurança à população. "Entendemos que o uso de máscara não faz mal nenhum à população. É uma de segurança, é higiênico e possibilita que as pessoas interajam mais, de uma forma segura." 


Alguns países da Europa, como Portugal, Hungria, Itália, Espanha, Bélgica e Áustria, que apresentam altos índices de vacinação, já aboliram a máscara em locais públicos e abertos.

Nos Estados Unidos, no entanto, onde pouco mais de 56% da população está completamente imunizada, o presidente Joe Biden chegou a liberar a proteção, mas voltou atrás com o surgimento da variante Delta.

"Ainda é difícil dizer quando poderemos tirar a máscara. Nós, cientistas, teremos que nos aprofundar em estudos que levem em consideração o número de casos, de mortes e por quanto tempo esses dados precisam estar estáveis ou diminuindo, qual é o número aceitável. E pensar o que significa a retirada da máscara em determinado ambiente ou cidade, cada um deles tem uma especificidade diferente", explica a professora da Unifesp. 

Carlos Fortaleza indica algumas possibilidades. "Talvez até o fim do ano, quando tivermos toda a população com duas doses, todos os idosos com três doses e o número de casos e mortes bem baixo, isto é, menos de 100 mortes por dia, possamos deixar de usar a máscara", explica o infectologista.

Mesmo assim, não será possível abrir mão da proteção em ambientes fechados até que a pandemia tenha acabado efetivamente. "Acredito que será possível flexibilizar, não flexibilização completa. Em espaços fechados ainda teremos de manter [o uso], [liberando-o] só nos espaços abertos. Não está em tempo de tirar a máscara", conclui o infectologista.

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